Homossexuais e transexuais são grupos com grande vulnerabilidade em desenvolver patologias como depressão, ansiedade e outros transtornos mentais. Isso se deve ao fato de que essas pessoas muitas vezes passam por sofrimento, conflitos e violências relacionadas à auto aceitação e à aceitação familiar e social, fruto de uma ideia equivocada do que venha a ser “normal” em um comportamento sexual. Diante desse quadro, se torna ainda mais importante a recente decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, de cassar uma liminar de primeira instância que liberava a terapia de reversão sexual, popularmente conhecida como “cura gay” em todo o país. Com a decisão, o “tratamento” continua a ser proibido.
De acordo com a psicóloga integrante do Núcleo de Sexualidade da Holiste, Lara Cannone, é necessário enfatizar que sexualidade não é opção, e homossexualidade e transexualidade não são desvios ou patologias:
“O papel do psicólogo não é colocar juízo de valor sobre o paciente, mas sim olhar esse indivíduo dentro das suas questões e sofrimentos. O preconceito internalizado no próprio indivíduo se traduz, muitas vezes, em sofrimento e adoecimento, e o que se faz é justamente desconstruir a ideia de normalidade e ajudar a lidar com todas as consequências trazidas pelo contato desse indivíduo com o mundo externo e com seus próprios modelos”, comenta.
Lara enfatiza a importância da legislação e da justiça garantirem direitos e não validarem práticas que associam a homossexualidade com algo que precisa ser “curado”.
“A lei, no nosso imaginário, valida ou não a nossa conduta e impacta na nossa vida. No Brasil, vivemos uma realidade na qual temos avançado muito em garantia de direitos dos homossexuais e transexuais. Mas, ao mesmo tempo, lideramos a violência contra esses grupos. No âmbito da escola, não temos espaço para esse debate e na saúde não temos uma política voltada para esses grupos, no que toca à saúde mental. Dessa forma, a justiça tem ficado com um papel quase único no combate à LGBTfobia”, destaca.