Desde o ano passado, quando a empresa passou a permitir que as corridas fossem pagas com dinheiro, houve um aumento considerável na quantidade de ocorrências contra seus motoristas. Dados obtidos pela Reuters mostram que, se na primeira metade de 2016 havia uma média de 13 ataques por mês em São Paulo, de julho em diante o número subiu para 141.
O primeiro caso envolvendo assassinato no país ocorreu em setembro, também na capital paulista, quando dois adolescentes usaram contas falsas para enganar o motorista Osvaldo Luis Modolo Filho, que acabou morto a facadas. Desde então, a polícia contabiliza outros seis assassinatos, mas a imprensa reportou mais de uma dezena, enquanto os próprios investigadores acreditam que deva haver mais casos, já que o nome da empresa pode não ter sido citado em outros boletins de ocorrência.
O problema do pagamento em dinheiro é que ele dificulta o rastreamento; os adolescentes que assassinaram Modolo Filho tiraram proveito dessa peculiaridade. Só que cartão de crédito não é realidade para todos em países pobres, como o Brasil, onde somente 20% das corridas são pagas por meios digitais. No ano em que disponibilizou o pagamento em dinheiro no país, a Uber viu suas operações crescerem em 15 vezes apenas em São Paulo.
Quando o problema da violência começou a ficar evidente, a Uber negou que teria de fazer mudanças. Andrew Macdonald, que comanda as operações na região, chegou a dizer em uma entrevista que motoristas preocupados estavam assim por “emoção”. Agora, o próprio Macdonald reconheceu à Reuters que a declaração foi um erro.
Para mitigar os efeitos da violência, a Uber passou, ontem, a exigir que usuários informem seu número de CPF se não tiverem cartão de crédito. Além disso, a empresa estuda permitir que motoristas se recusem a aceitar pagamento em dinheiro e vai implementar um algoritmo que bloqueia essa modalidade para usuários que demonstrarem comportamento estranho — como cancelar muitas corridas, por exemplo.