A presença de crianças e adolescentes comercializando amendoim pelas ruas e ônibus na capital, tem chamado a atenção da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE). Segundo o Chefe de fiscalização de trabalho infantil, Antônio Ferreira, o órgão irá intensificar a vistoria no entorno dos terminais e nos coletivos.
Com cerca de 71 mil casos irregulares de trabalho infantil, a Bahia é o segundo estado no ranking feito, no ano de 2015, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números são personalizados no cotidiano de Salvador e Região Metropolitana, sobretudo nos pontos de ônibus, onde jovens costumam vender amendoins.
“Além destes lugares, os jovens também arriscam circular entre os carros durante o engarrafamento”, ressaltou Antônio sobre a atuação e abrangência do comércio infantil, que, para ele não agrega benefícios para o jovem.
A dupla de adolescentes João* e Wellington* vendem amendoim torrado, por R$ 1, na região do ponto de ônibus localizado na avenida Aliomar Baleeiro, próximo ao Salvador Norte Shopping.
“Geralmente, vendo 50 porções por dia. Do dinheiro, tiro a metade e dou o resto para a minha mãe”, disse João, que ainda divide a casa com seis irmãos.
Ele mora e estuda no bairro de Itinga, em Lauro de Freitas, mas compra a mercadoria em Itapuã. “Trabalho depois da aula. Às 15h, chego aqui (ponto de ônibus) e fico até as 20h” explicou o jovem de 14 anos.
João disse que o ofício não atrapalha o estudo, mas pondera que prefere estar na escola que na rua. “Gosto de português e matemática. Estaria fazendo o dever agora, se estivesse em casa” revela o jovem que, no futuro, pretende ser bombeiro.
Estudar e ter uma profissão também está no imaginário do garoto Wellington. Amigo de João, o menino de 11 anos que vende amendoim na rua, disse sonhar em ser jogador de futebol.
Trabalho infantil
Denuncie pelo Disque 100 (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Estado da Bahia – SRTE) ou pelo 71 3202-7300 (Secretaria de Políticas para Mulheres e Juventude – SPMJ)
Até o momento, os sonhos não parecem prioridade para a dupla. João precisa circular pelo ponto de ônibus para vender as porções.
Já Wellington conseguiu comercializar todo o estoque do dia, mas, no momento da entrevista, teve que passar em Itapuã para reposição, pois no dia seguinte a rotina se repete.
Consumidores
Para Bruno Queiroz, diretor de infância e juventude da Secretaria de Políticas para Mulheres e Juventude (SPMJ), os motoristas e passageiros de ônibus estimulam o trabalho infantil quando consomem os produtos.
“Pela solidariedade à família, compramos para ajudar, mas ao invés disso, devemos denunciar casos de exploração infantil”, defende Bruno.
Além do boicote ao trabalho irregular, o diretor acredita que a construção de escolas de tempo integral é uma alternativa para afastar os jovens da rua.
“Até o ano de 2020, queremos implantar 10 mil vagas para atividades de música, teatro e esporte que irão acontecer no contraturno escolar. Com isso, vamos afastar os jovens do trabalho irregular”, planeja Bruno.
*Nomes fictícios
*Sob a supervisão do editor-coordenador Luiz Lasserre