Na lista de especialistas e técnicos convidados para a experiência, a cantora Daniela Mercury, que cantou no palco da Sala Principal do TCA pela primeira vez aos 15 anos, falou da experiência da escuta crítica. “Cada obra de execução nos traz algumas percepções de graves, agudos, um pouco de reverber. Eu fiquei feliz porque eu fui lá para a fileira Z e tive uma percepção da sala melhor do que ouvindo lá embaixo, onde normalmente eu assisto, fui para a Tribuna de Honra, mudei de lugar algumas vezes e fiz minhas anotações, tentando contribuir da melhor maneira possível”, contou a cantora.
Esta fase da requalificação, que sucede as reformas no complexo cultural na Concha Acústica e Sala do Coro, concluídas em 2016 e 2018, respectivamente, abrange uma reforma geral em uma área de quase 18 mil metros quadrados, sendo a Sala Principal um importante foco de atenção do projeto da obra, dada a sua importância para a cena artística de todo o estado.
O diretor ressalta a importância desses testes para um público especialista em música, dança e teatro, visando colher subsídios de qualidade para a preparação da próxima fase da reforma. “Nós, enquanto Governo, estamos dando base técnica e humana, teórica e subjetiva, para que essa requalificação seja mais do que à altura da Sala Principal do TCA. É um processo robusto, longo, de escuta também da sociedade, das pessoas que utilizam a sala e o corpo técnico”, enfatizou Moacyr Gramacho.
A cantora Daniela pontuou ainda quanto à importância social da iniciativa que envolveu a escuta crítica. “O que a gente precisa na nossa cultura é isso, o respeito pela nossa humanidade, pelas contribuições individuais e coletivas de um povo, e eu me senti lisonjeada e prestigiada”, completou.
O cantor Lazzo Matumbi, que tem vivências como espectador e também como artista do espaço, deixou sua impressão sobre a Sala Principal, dividindo sua ansiedade para estrear no novo palco. “Como ouvinte, ela nunca me decepcionou. Sempre foi uma sala muito boa, que responde muito bem. Como atuante, melhor ainda, porque você tem uma acústica lá no palco que nos dá uma tranquilidade muito boa. Se agora, nesse momento, ela já está boa e pretendem melhorar, eu só posso dizer que eu estou ansioso, esperando essa hora chegar para estrear e dizer: ficou melhor do que o que a gente tinha”, dividiu o cantor.
Escuta qualificada
Os testes começaram na última terça-feira (28), quando também foi realizado o evento “Conversas Plugadas”, que reuniu o designer acústico e arquiteto norte-americano, Paul Scarbrough, diretor do Akustiks; e o arquiteto brasileiro, José Augusto Nepomuceno, do Acústica & Sônica. Ambos, internacionalmente reconhecidos, compartilharam insights sobre os parâmetros aplicados no projeto de reforma do TCA e destacaram a importância de analisar a arquitetura de teatros modernos e exemplos de intervenções em teatros históricos no Brasil e no exterior.
“Ouvimos a Orquestra Sinfônica da Bahia, tocando diferentes trabalhos, para conseguirmos a experiência de cada um, para que a gente possa entender quais seriam os desafios acústicos e como começar a fazer o espaço funcionar, tanto para a música sinfônica, quanto para os muitos concertos e eventos”, explicou o designer acústico e arquiteto norte-americano, Paul Scarbrough.
Análise e avaliação
Todos os convidados, incluindo os artistas, receberam um formulário para avaliar critérios a cada execução da Orquestra, que apresentou cinco peças. Os especialistas foram orientados a alternar seus assentos, a cada execução, registrando suas percepções quanto à clareza, reverberância, envolvimento, intimidade, volume natural da sala, balanço, ruídos de fundo, inteligibilidade, impressão geral, entre muito ruim, ruim, mediano, razoável, bom e muito bom. As anotações também deveriam registrar a presença de eco e som de pássaro.
A compilação dos estudos e experiências como a escuta crítica irão compor um relatório que servirá de guia para a requalificação da Sala Principal do TCA. “Para definir o projeto, precisamos relacionar os dados que a gente está medindo às informações de como as pessoas escutam, aferir o dado medido com o mundo real das pessoas, porque ninguém fala o tempo todo em decibel ou em milissegundo. As pessoas falam se o som estava bom, se o som embolou, se estava ruim. A ideia é tentar entender essas reações, cruzar com números para ter uma visão mais ampla”, explicou José Augusto Nepomuceno, arquiteto responsável pela empresa contratada para elaborar o projeto de reforma do TCA.
A reforma
A terceira etapa da reforma do Teatro Castro Alves (TCA) tem uma estimativa orçamentária de mais de R$ 243 milhões. O projeto de requalificação abrange uma área extensa, que contempla desde a Sala Principal até os espaços administrativos, consolidando a visão do “Novo TCA”. O coração do teatro, a Sala Principal, será objeto de uma intervenção que, além de aprimorar a qualidade acústica, irá proporcionar um ambiente visualmente mais atraente. O foyer, o jardim suspenso e o restaurante, espaços fundamentais para a experiência do público, também estão incluídos na requalificação, prometendo um ambiente mais acolhedor e moderno.
As salas de ensaio da OSBA e do Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), assim como espaços administrativos dos corpos artísticos, receberão atenção especial. Essas intervenções visam proporcionar condições ideais para a criação artística e promover a eficiência operacional. A abrangência da reforma se estende aos diferentes pisos do edifício, incluindo salas de ensaio polivalentes, espaços administrativos, do Centro Técnico, além de serviços essenciais e áreas de convivência e ainda, a revitalização da cobertura e das fachadas.
A finalização da Rota de Acessibilidade do Complexo TCA também está prevista nesta fase da requalificação do equipamento cultural, garantindo que o espaço seja acolhedor e acessível a todos as pessoas.
Repórter Laís Nascimento