Refletir sobre os impactos do golpe militar de 1964, na perspectiva de somar esforços contínuos para proteção da democracia, e rememorar as trajetórias de defensores e defensoras dos direitos humanos, é ao que se propõe o seminário internacional “Sessenta Anos do Golpe Militar: Historiar para Escrever Amanhãs”. Aberto na tarde da segunda-feira (9), no auditório da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), o debate segue até quinta-feira (12).
O evento reúne estudantes, pesquisadores, professores e representantes do poder público do Brasil e de outros países da América Latina. Representando a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH), a superintendente de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos (SUDH), Trícia Calmon, marcou presença no encontro.
“Precisamos resgatar a memória, trazer verdades e fortalecer as organizações da sociedade civil que estão no campo da luta por direitos. A nossa democracia e os processos de construção da cidadania inconclusos vão empurrando a nossa população a um lugar tamanho de sofrimento que parece que chega a hora do ‘tanto faz’. Então, o nosso desafio é o de construir cidadania e fazer esse debate sobre ditadura, não como algo que parece, para muita gente, um tema ultrapassado, como se não devêssemos insistir nesse assunto, mas, sim, como um tema da hora, do presente. Temos que trabalhar nisso antes de termos que lidar com as consequências”, disse a gestora.
Trícia destacou a ‘Educação e Cultura em Direitos Humanos’ como uma ferramenta de conscientização das populações para a nocividade representada por regimes autocráticos. “Se a gente se contenta com a realidade brasileira, onde muitas pessoas vivem comendo o mínimo do que seria necessário para ter uma vida digna no reconhecimento de suas existências, a nossa democracia está em risco. Portanto, o desafio está posto para nós, que achamos que estamos enxergando a luz, mas não estamos conseguindo dar a resposta necessária para que a nossa sociedade esteja suficientemente fortalecida e não se permita os caminhos do autoritarismo, da violência e da relativização dos direitos civis que foram duramente conquistados”, completou.
Resistência ao autoritarismo
Temas relacionados às histórias dos regimes ditatoriais na América Latina, como a resistência ao autoritarismo, as transformações educacionais impostas pelas ditaduras e as violências sofridas pelos povos indígenas nesse período, serão debatidos ao longo do seminário. Neste encontro, destaca-se a importância de unir o Estado e a sociedade civil na construção de uma compreensão histórico-crítica do passado no sentido de melhor compor o presente e o futuro.
A atividade é uma iniciativa conjunta dos Programas de Pós-Graduação em História (PPGH); Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e do Colegiado de Direito da Uefs, em parceria com a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), com o apoio da SJDH e do Ministério da Educação (MEC), através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Também participaram da mesa de abertura a reitora da Uefs, Amali de Angelis Musse, acompanhada de diretores de departamentos e demais representantes da Instituição de ensino e da Uneb. Na tarde de ontem, também aconteceu a conferência “O que será que estão falando alto? Controvérsias em torno da historiografia do golpe”.
Após a palestra, houve ainda o lançamento dos livros “Petrobras e Petroleiros na Ditadura: Trabalho, Repressão e Resistência”; “Onde nascem os monstros: Extrema Direita, Bolsonarismo e Performance Fascista” e “Os Impasses da Estratégia: Os Comunistas, o Antifascismo e a Revolução Burguesa no Brasil – 1936/1948”.
Fontes: Ascom/SJDH