Em Chorrochó, a equipe começou o dia participando de uma reunião promovida pela ONG Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha), reunindo representantes da gestão municipal, organizações sociais e moradores, logo após visitas técnicas às áreas identificadas como áridas nos municípios do Território de Identidade Itaparica. O especialista em meio ambiente da Sema, Magno Monteiro, explica que o foco é a elaboração de um Plano de Ação para enfrentar os impactos da aridez na região.
“São as comunidades locais, aqueles que vivem e têm sua renda vinculada a esse clima semiárido e avançando para o árido, como indicado em estudos recentes, que detêm conhecimento sobre os desafios enfrentados e quais caminhos adotaram até aqui. Verificaremos também soluções imediatas, que são aquelas que já existem e por questões operacionais ou de gestão não estão em pleno uso, a exemplo de cisternas, barramentos, adutoras e a experiência da atividade de criação de caprinos e ovinos das comunidades tradicionais”, destacou.
De acordo com consultor da Casa Civil, Jeferson Viana, a missão também busca identificar práticas bem-sucedidas de convivência e os principais gargalos que implicam em políticas que não alcancem determinadas localidades. “Atua com a responsabilidade de análise e acompanhamento das políticas públicas de inclusão socioprodutiva e sustentabilidade, sendo essencial registrar as potencialidades e os desafios sociais e ambientais do território. Também estamos fortalecendo articulações institucionais com prefeituras, organizações de assistência e a população, para além do acesso à água, incluindo na pauta a preservação ambiental e a impulsão das cadeias produtivas locais”.
Os moradores da região também expressaram suas expectativas com a iniciativa. O agricultor familiar, José Nascimento, 60 anos, morador de Lagoa de Pedra, em Chorrochó, apresentou sua produção de hortaliças, cultivada com o apoio de uma cisterna do Água Para Todos e de um barreiro convencional. “Recebi assistência técnica da Arcas quando fiz um pequeno viveiro com estufa, onde produzo coentro, salsinha, abobrinha e cebola para consumo e venda na feira da cidade. Meu pai construiu esse barreiro, eu ampliei, criei nove filhos com essa escassez de água e também com muito sacrifício, preciso do apoio para pagar a limpeza da aguada e melhorar o viveiro”, relatou.
Já Maria Silva, 62, do povoado Barra da Areia, falou sobre as dificuldades e preocupação com o futuro da sua família e vizinhos. “Com o Riacho da Vargem seco, pegamos água salobra em cacimbas para dar aos animais e uso na casa, mas tem ano que seca tudo. Para beber uso da cisterna abastecida por carro-pipa. A gente vem enfrentando muitas dificuldades com a falta de chuva e o calor mais forte. O que queremos é apoio para continuar produzindo sem precisar deixar a terra onde nascemos”.
Iniciativas das comunidades
Entre as práticas vivenciadas nas visitas, destacam-se a utilização da cisterna calçadão e de enxurrada, assim como barreiros ou aguadas como reserva de emergência. Associado às cisternas de produção, a implantação de canteiros (com prática de cobertura do solo) e de estufas teladas (sombrites) potencializam a capacidade produtiva das culturas, propiciando também um ambiente mais digno ao trabalhador, evitando o trabalho a pleno sol. Importante tecnologia, que tem dado resultado é a barragem subterrânea, que promove a contenção do fluxo da água do lençol freático raso, que se acumula a montante da barragem, mantendo a umidade do solo em profundidade apropriada para captação pelo sistema de cultivos anuais de feijão, milho e outras culturas.
Outro ponto constatado foi a forma racionalizada e produtiva de gerir o uso da água, fruto do conhecimento tradicional potencializado pelas técnicas adquiridas através dos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater). Um exemplo são as cisternas entregues pelo Governo do Estado, por meio de contrato com a ONG Agendha que, ao mesmo tempo, oferece capacitação para pedreiros das próprias comunidades beneficiadas, que passam a ser contratados para atuarem na construção destes equipamentos.
Os trabalhos contam com especialistas da Sema, da Casa Civil, Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), por meio da Companhia de Ação e Desenvolvimento Regional (CAR), além do apoio da ONG Agendha e da Associação Regional de Convivência Apropriada ao Semiárido (ARCAS). Coordenador técnico da ONG Agendha, Maurício Aroucha, ressaltou: “esse trabalho conjunto é essencial para transformar a realidade local. A troca de experiências e o mapeamento das tecnologias sociais são caminhos para fortalecer a resiliência das comunidades frente aos desafios climáticos”.
Na oportunidade, o coordenador apresentou a chamada pública Ater Bahia Sem Fome, uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), tem como objetivo garantir a segurança alimentar, nutricional e hídrica de cerca de 20 mil famílias em situação de vulnerabilidade, especialmente aquelas que vivem no campo, com duração de aproximadamente quatro anos.
Clima árido – Estudo divulgado no fim de 2023 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), identificou características de clima árido no norte da Bahia. A primeira vez que essa condição foi registrada no Brasil, onde verificou-se em uma série histórica de 30 anos a redução de nuvens, diminuição das chuvas e aumento da incidência de radiação solar de ondas longas sobre a terra.
Fonte: Ascom/Inema