A decisão de flexibilizar as restrições ao comércio e à realização de eventos em São Paulo pode ter sido precipitada. É o que avalia o médico sanitarista Sérgio Zanetta, professor de Saúde Pública e de Epidemiologia do Centro Universitário São Camilo, que descreve a escolha administrativa como um “equívoco”, considerando que o Estado ainda tem um alto nível de transmissão do vírus Sars-Cov-2. Até o momento, São Paulo soma mais de 4,2 milhões de casos e mais de 144,2 mil mortes pela Covid-19.
“Nós temos um decréscimo, o número de óbitos já foi três vezes maior há dois meses, mas a quantidade de casos e óbitos ainda está sustentadamente elevada. E devemos lembrar que nós estamos diante do surgimento da nova variante Delta, que tem capacidade muito maior de se replicar do que a variável Gama, que surgiu em Manaus e prevalecia no Brasil até então”, pondera.
Segundo o médico, a variante Delta foi responsável por acelerar a transmissão da doença mesmo entre os vacinados. Embora haja menos casos graves nesse grupo, pessoas imunizadas ainda são veículo de transmissão para a grande parte da população que não recebeu as duas doses da vacina até o momento.
“Não temos mais que 30% da população adulta com duas doses. Então existe uma chance de a variante Delta se propagar rapidamente. Na verdade, já há evidências que comprovam isso. No Rio de Janeiro, por exemplo, a aceleração da transmissão se deveu ao relaxamento de medidas e à expansão da variável Delta que já está no Estado”, lembra Zanetta.
Em São Paulo, de acordo com o professor do Centro Universitário São Camilo, a Delta ainda não é predominante, mas sua alta transmissibilidade pode mudar esse cenário. “Se isso acontecer no Estado, teremos que retroagir dessas medidas de modo muito drástico, com grande prejuízo à saúde das pessoas. Não é prudente, não é adequado e não é o que recomendam as evidências disponíveis sobre a transmissão da nova variante Delta. A flexibilização não leva em conta o contexto da pandemia, mas apenas o econômico”, afirma.