“Roberto Carlos é o c***, meu nome agora é Jorge Antônio, p**!”, assim poderia ter respondido o lendário personagem do bairro da Liberdade, se não fosse muito mais educado, elegante e polido que o famigerado Zé Pequeno, de “Cidade de Deus”.
Então, ele disse apenas, respondendo, na noite desta quinta-feira (5), ao meu cumprimento: “Eu não estou mais como Roberto Carlos, sou Jorge Antônio mesmo, de aliança no dedo”. É mais um fim de Era promovido pelo Ano da Graça de 2017 – Roberto Carlos renunciou à coroa e já não é mais Roberto Carlos, o “Rei da Liberdade”.
Pois bem, Antônio Jorge, 62 anos, ganhou o apelido de Roberto Carlos há três décadas, ao participar do programa de calouros de Waldir Serrão, o Big Ben, na TV Itapoan, imitando o cantor-símbolo da Jovem Guarda. Desde então, faz sucesso em um dos bairros mais populosos e populares de Salvador como um alterego do autor de “Esse Cara Sou Eu”. E, de fato, na Liberdade o cara é ele.
Noventa e sete entre 100 transeuntes que passam acenam para o artista, que tem fama de galã. E todos, sem exceção, têm uma lembrança envolvendo o dançarino que por muito tempo balançou o esqueleto onde tivesse um som tocando. “Desde pequena eu o vejo por aqui, dançando nas portas da lojas, é um símbolo do bairro já, para mim e para muita gente”, diz Edna Batista, 29, cabeleireira.
“Desde pequena eu o vejo por aqui, dançando nas portas da lojas, é um símbolo do bairro já, para mim e para muita gente”, diz a cabeleireira Edna Batista
E por que será que Roberto Carlos cansou a beleza do reinado? A resposta parece estar na “aliança no dedo” anunciada já na primeira fala do artista, afinal, como diz aquele pagode famoso “quem tem aliança no dedo / cuidado pra não esquecer / não fique no estique-agarra / pois não fica bem pra você”.
É Jorge Antônio quem responde: “Eu caí na real, né pai? Tô com 62 anos, as meninas ficam o tempo todo gritando ‘Roberto Carlos, Roberto Carlos…’, mesmo sem peruca, fica chato, que eu não sou ele. Agora eu tô casado… apelido pega, mas tem que cair na real. Essa meninas são o tempo todo…”.
Bastante calvo, ele foi adepto por anos a fio de perucas e até mesmo recorreu a uma pintura com pasta de polir sapatos (Nugget) sobre a cabeça. Agora, casado e ainda mais seguro de si, Roberto…, ou melhor, Jorge Antônio assumiu a carequice numa boa e aposentou o rebolado famoso.
“Mas a amizade continua, tá certo?”, garante. E é na base da amizade (e também para ganhar alguns trocados) que ele ajuda diversos camelôs da Rua Lima e Silva a carregarem e descarregarem suas barraquinhas.
“Eu caí na real, né pai? Tô com 62 anos, as meninas ficam o tempo gritando ‘Roberto Carlos, Roberto Carlos…’, mesmo sem peruca, fica chato, que eu não sou ele. Agora eu tô casado…”.
“Rapaz, que pressão é essa? Roberto Carlos não é mais Roberto Carlos? Tá doido?! Ali se parar de dançar a Liberdade acaba. Vai falir o comércio”, assim reagiu à notícia o coqueteleiro Alex Pita. Mas o fato é que, pelo menos por enquanto, o “Rei da Liberdade” vive uma nova fase em sua vida, mais discreta, e longe do assédio das fãs e mesmo da imprensa.
“Ah, matéria não, já tenho muita matéria pra fazer. Minha cabeça já é uma matéria”, assim ele me recusou (mesmo com a garantia da amizade renovada) uma entrevista sobre sua interrompida carreira. E acenou, em seguida, para o ônibus que passava. Afinal, ninguém deixa de ser Roberto Carlos da noite para o dia.
Relembre um momento quebradeira do nosso herói: