Criminosos se aproveitam da vulnerabilidade de pessoas sem trabalho para aplicar golpes de vagas falsas. A ação se intensifica em um cenário com altas taxas de desemprego no Brasil. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o país tinha 12 milhões de desempregados em fevereiro deste ano.
Para Emilio Simoni, chefe executivo de segurança da PSafe, essa prática tende a aumentar porque criminosos têm mais facilidade para aplicar golpes no mundo virtual do que no real.
Ele diz que esses ataques podem acontecer com os chamados “phishings”, em que os criminosos “pescam” pessoas que buscam vaga no mercado de trabalho e acabam clicando em links ou baixando arquivos maliciosos. Os golpistas atraem as vítimas criando perfis falsos nas redes sociais e publicando o que seriam oportunidades de emprego.
“Eles usam o nome de grandes empresas e colocam salário acima da média. Então, imagina uma pessoa que está procurando emprego: ela achou uma vaga com salário alto, sem exigir nenhuma qualificação e para começo imediato. Ela vai clicar no link e não vai pensar duas vezes porque está precisando daquele trabalho”, diz Simoni.
Para Erick Formaggio, líder de segurança da informação da Digital Business e diretor da Abradi (Associação Brasileira dos Agentes Digitais) do Rio Grande do Sul, as pessoas podem se expor aos golpistas com um simples comentário em rede social. Nas publicações de vagas de empregos, os interessados costumam perguntar particularidades relacionadas à empresa e os criminosos podem estar vigiando em busca de vítimas.
Essa estrutura de golpe é conhecida como engenharia social, em que criminosos induzem o usuário a revelar dados confidenciais.
“[É muito fácil] montar um perfil falso e falar ‘sou recrutador, vi que você está interessada em uma vaga e gostei do seu perfil. Me envie aqui seus dados'”, diz Formaggio.
Como justificava para fins cadastrais, o criminoso pede dados que incluem identificação, filiação, números de CPF e RG, além de currículos. Com as informações, o golpista tenta formular e descobrir senhas das vítimas.
De acordo com Simoni da PSafe, os golpes de falsos empregos são comuns em aplicativos de mensagens e redes sociais.
Além de dados pessoais, golpistas também tentam roubar as vítimas cobrando taxas de matrícula ou de inscrição em cursos que seriam exigidos no exercício da profissão.
O engenheiro civil Lucas Rocha, 26, acha que pode ser sido vítima de uma tentativa de golpe pelo WhatsApp em agosto do ano passado. Ele recebeu uma proposta de emprego para trabalhar em uma empresa do ramo de construção civil.
Segundo Rocha, o suposto recrutador disse que faltava um requisito importante para continuar no processo seletivo: um curso de operador de grua. “Era tentador para uma vaga com salário muito bom e era um requisito simples de ser cumprido”, diz.
A vaga prometia um salário de R$ 8.000 e a suposta empresa não exigia experiência. Então, Rocha desconfiou e desistiu do processo seletivo.
Eliete Oliveira, consultora de carreiras com foco em recolocação profissional, faz um alerta sobre esses golpes de emprego em que o falso recrutador pede pagamentos como condição para continuidade do processo seletivo.
“Se você analisar qualquer vaga no mercado de empresas sérias, elas não fazem isso. Se a pessoa não tem a competência naquilo que a empresa está buscando, a companhia não deveria forçar esse profissional a adquirir um produto ou serviço”, diz Oliveira.
Em 2020, durante a pandemia, a professora do ensino infantil Cintia Santos, 35, foi vítima de um desses golpes. Após dez anos trabalhando na área, ela perdeu o emprego e, para tentar voltar ao mercado, criou uma conta na rede social LinkedIn.
Na plataforma, Cintia encontrou uma publicação que anunciava vaga para trabalhar em uma transportadora com salário de R$ 1.600 e benefícios como vale refeição e vale transporte. O início seria imediato.
Ela mandou currículo e a suposta empresa fez contato por um aplicativo de mensagens dizendo que tinha gostado de seu perfil, mas que, para continuidade do processo, faltava atualizar um curso de informática.
Segundo Cintia, a recrutadora disse que ela poderia escolher onde fazer o curso, mas ela não conseguiu encontrar nada antes da data da entrevista. Então, foi orientada a fazer um curso online no valor de R$ 1.000, sendo que metade do custo ficaria por conta da empresa.
Assim que efetuou o pagamento por Pix, o perfil da suposta empresa foi trocado e a conta que era comercial passou a ser privada. Cintia não conseguiu mais contato.
Ela não conseguiu denunciar a postagem no LinkedIn, pois como mandava vários currículos, não soube identificar de onde partiu a oferta que se traduziu como golpe.
Na plataforma é possível fazer denúncias entrando em contato com o suporte do LinkedIn.
“Trabalhamos todos os dias para manter nossos usuários protegidos e evitar que fraudes aconteçam em nossa plataforma, com defesas manuais e automatizadas para detectar e direcionar contas falsas ou possíveis golpes. Sempre que encontramos postagens deste tipo, trabalhamos para removê-las rapidamente e estamos constantemente investindo em novas maneiras de melhorar a detecção”, diz o LinkedIn em nota enviada à reportagem.
Segundo a consultora de carreiras Eliete Oliveira, no entanto, como a plataforma é local de busca de informações e recolocação profissional, o ambiente é propício para tentativas de golpes e, portanto, os usuários devem ficar atentos às orientações de segurança.
COMO SE PROTEGER DOS GOLPES DE FALSOS EMPREGOS?
Evite guardar senhas nos navegadores de internet e não use a mesma senha para todas as suas contas;
Tenha um sistema de proteção contra vírus instalado no seu computador ou celular;
Fique atento a mensagens que contêm erros ortográficos ou gramaticais, que solicitam informações pessoais ou financeiras, e que tenham hiperlinks suspeitos;
Cuidado com vagas que peçam para você pagar por algum curso e vagas que possuem poucas informações na descrição;
Pesquise sobre a empresa que está oferecendo a vaga. Companhias de credibilidade terão informações na rede.
Você pode também pesquisar por pessoas que trabalham nessas empresas para checar se ela realmente existe.