Sem esconder o entusiasmo, a aposentada Etelvina dos Santos, 65 anos, observava atentamente cada canto da nova Escola Municipal de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, entregue nesta sexta-feira (4), pelo prefeito ACM Neto. Acompanhada da neta, a pequena Iasmin Santos, 6, estudante da unidade, ela descreveu a felicidade. “Minha filha, a mãe de Iasmin, estudou aqui. Chovia mais dentro das salas do que do lado de fora. Estou muito feliz que minha neta vai ter um lugar digno para estudar”, pontuou.
A estrutura degradante à qual se refere Etelvina é uma realidade que começou a mudar há dois anos, quando a antiga estrutura foi demolida. A unidade – que antes tinha 700 alunos – dobrou a capacidade e agora tem estrutura para até 1.400 – é a primeira escola sustentável da cidade. Isso porque, de acordo com a Secretaria de Educação (Smed), a Escola Municipal de Paripe tem um sistema que capta a água da chuva, filtra e canaliza. Posteriormente, toda água é direcionada para abastecer os banheiros e tanques reservas para casos de incêndios.
Conforme o prefeito ACM Neto, não havia condições de funcionamento para a antiga sede. “Só quem conhecia pode falar sobre como era [a escola]. Estava caindo aos pedaços. Colocamos no chão e construímos uma novinha em folha. É uma das melhores escolas de Salvador, que não deve nada a qualquer escola do ensino privado”, defendeu. “A gente fica muito feliz porque cumprimos mais um compromisso com a educação aqui no subúrbio. Investimos R$ 7 milhões para garantir essa obra. A gente só faz educação com investimentos desse porte”, completou Neto.
Embora tenha sido inaugurada, oficialmente, nesta sexta-feira, a escola estava funcionando desde o dia 27 de março, como explicou a diretora da unidade, Alcione Conceição. “Estávamos utilizando apenas um pavilhão, desde o início do ano letivo. Com a reforma, alguma áreas estavam isoladas, havia essa liitação, só a partir de agora nossas crianças e adultos vão poder aproveitar toda essa estrutura”, esclareceu.
Matriculada no 5º ano fundamental, a estudante Maria Luiza Martins, 10, enfatizou o alívio de poder estudar sem sofrer com a poeira causada pelas obras. “Agora, sim, estou em uma escola de verdade. Eu e meus pais estamos muito felizes, pois vou poder curtir minha escola, meus colegas e estudar alegre”, disse a menina, que é moradora de Paripe.
Chuva
Para Luiza, a novidade de estudar em uma escola sustentável vai ajudar às crianças quanto ao disperdício do recurso natural. “Se vamos usar a água da chuva para lavar os banheiros e usar nas descargas, vamos ter muito mais depois, assim economizamos”, ponderou.
Além dos alagamentos provocados em época de chuvas fortes, comuns no inverno, a estimativa é de que haja uma economia de até 60 mil litros de água por mês. O recurso, de acordo com a secretária de educação, Paloma Modesto, é todo automatizado e atinge os 830m² da área coberta da escola.
Dois tanques superiores, com capacidade de retenção de três mil litros cada, e um reservatório inferior de cinco mil litros, fazem parte do sistema. Uma boia é responsável pela aferição do nível do líquido armazenado, e, uma vez que esteja em falta, o sistema aciona o abastecimento comum direto da Embasa.
Estrutura
A unidade recebe alunos do 1º ao 6º ano, com Ensino para Jovens e Adultos (EJA I e II), nos três turnos do dia. A estrutura, que antes se limitava a 12 salas, agora tem 23 – além de dependências extras, como refeitório, triagem de alimentos, depósito para merendas, lavanderia, coordenação, secretaria, diretoria, sala dos professores, depósito de material didático, sala de leitura e espaço para material de limpeza.
Neta de Etelvina, a pequena Iasmin contou ao CORREIO o que mais gostou na escola. “Minha sala [de aula], porque é linda. As mesas e as cadeiras são do meu tamanho”, disse, aos risos. Prima de Maria, Júlia Laís Ribeiro, 8, estudante do 2º ano fundamental, contava os minutos para se aproximar no novo parquinho. “Tudo está lindo, gostei de tudo. Das salas de aula, dos banheiros e gostei mais ainda do parquinho”, confessou. As meninas também vão poder aproveitar atividades físicas na quadra poliesportiva – um dos ambientes mais festejados pelos estudantes.
Há, ainda, a sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE) – local disponibilizado para trabalhos específicos com alunos que possuam deficiência – e mais um espaço multiuso. A escola também possui itens de acessibilidade, como rampas e sanitários adaptados, para atender com maior comodidade crianças e jovens com deficiência.
Com o reforço na estrutura, a escola vai passar a atender, a partir do próximo ano, todas as séries do Fundamental II, ou seja, do 6º ao 9º ano. A unidade também recebe o projeto Se Liga, realizado em parceria com o Instituto Ayrton Senna e que visa alfabetizar alunos que ainda não sabem ler e que estejam com distorção idade-série, matriculados do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Através do projeto, é distribuído um material didático específico para este trabalho.
Conforme a professora Tatinai Rodrigues, que dá aula para turmas de alfabetizados e não-alfabetizados, uma estrutura adequada é determinante para a aprendizagem. “Influencia muito, sem dúvida alguma. Uma sala confortável, com a acessibilidade necessária, que oferece boas condições para que se acomodem e se interem com o conteúdo. Eu fico muito feliz, é uma realização”, salientou.