“O preconceito não é com os tambores, é com a cor das mãos que os tocam”. A afirmação é do vereador e autor da homenagem aos batuqueiros, ritmistas e percussionista da Bahia realizada na noite desta quarta-feira (30), no Plenário Cosme de Farias, da Câmara Municipal de Salvador, Sílvio Humberto (PSB). A sessão especial reuniu músicos de várias vertentes como o samba, samba reggae, afro e axé.
“O tambor é ressocialização e sobrevivência. Levou o nome do nosso estado para o mundo, mas é importante dizer: não queriam. Isso também foi uma conquista nossa. Estamos aqui hoje para reforçar toda nossa dignidade e dar voz a esses artistas que muitas vezes são inviabilizados”, completou o parlamentar que é também presidente da Comissão de Cultura da Casa.
A vereadora Marta Rodrigues (PT) também participou da homenagem e destacou a importância da percussão para a inclusão social de jovens e mulheres. A sessão especial foi uma aula sobre resistência, ritmo e talento. Os discursos foram precedidos por apresentações como a do Cacau do Pandeiro e da percussão de blocos afros. Na atividade, 30 percussionistas receberam placas de agradecimento entregues por Sílvio Humberto.
O doutor em Educação e Contemporaneidade, Jaime Sodré, parabenizou Sílvio Humberto pela iniciativa. “Os percussionistas têm que saber o porquê da percussão. Para colocar a mão em um tambor tem que ter muita dignidade e saber toda a história para ele chegar até nós”, ressaltou Sodré.
“Na época da escravidão o tambor acalentava e trazia liberdade. Hoje em Salvador ele tem muitas vezes a mesma função. Mesmo nessa cidade majoritariamente negra, ainda precisamos nos fortalecer. No show business a percussão sempre foi chamada de “a cozinha” da banda. Ainda precisamos conquistar muito respeito e vencer o preconceito”, disse o professor de música e mestre de percussão do Ilê Aiyê, Mário Pam. “Somos mais de 10 mil na Bahia. Precisamos nos juntar para lutar por reconhecimento”, disse Pam.
Neguinho do Samba
A maestrina e diretora de Patrimônio da Banda Didá, Adriana Portela, falou sobre sua trajetória na música e o empoderamento que ganhou por meio da arte. “Se esse meu encontro com os tambores não tivesse acontecido eu seria mais uma, mas com os tambores eu ganhei consciência, força e pude me impor. Obrigada, Neguinho do Samba, por transformar nossas baquetas em canetas para ajudar a escrever a nossa história”, disse Adriana.
Neguinho do Samba, ou Antônio Luís Alves de Souza, foi o criador do samba-reggae, fundador do Olodum e da Associação Educativa e Cultural Didá e um dos grandes homenageados da noite. Ele faleceu em 2009. “Neguinho do Samba foi o primeiro a enfrentar o preconceito e levou o samba reggae para o mundo”, disse a percussionista e produtora Rosalina Nascimento que, seguindo os passos do seu mestre, também dá aulas de percussão para crianças e adolescentes por meio do projeto Sementes do Samba Reggae.
Um dos mais importantes percussionistas baiano da atualidade, Mestre Jackson, compôs ao lado de Neguinho do Samba as batidas que consagraram o Olodum internacionalmente e atraíram artistas como Paul Simon e Michael Jackson. É também um dos fundadores da Raízes do Pelô, primeiro grupo percussivo criado fora de um bloco afro, em 1988.
“Muitos dos homenageados de hoje tiveram suas vidas transformadas pelo tambor. Eu fui criado no Centro Histórico e tive grandes referências como mestre Prego, que numa época em que não se falava em projeto social, já tinha essa visão ao ensinar música para as crianças e adolescentes carentes”, afirmou Mestre Jackson que hoje é educador da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac).
A mesa da sessão especial contou, ainda, com a participação do Mestre Gilmar, ex-diretor de bateria da Vai Levando e do Araketu e do diretor da Academia de Música da Bahia (Ambah), Gerson Silva.