O arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, defendeu nesta quarta-feira, 12, que os fiéis devem ter uma “identidade religiosa” ao ser questionado sobre eventual uso político-eleitoral das celebrações do Dia de Nossa Senhora Aparecida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O chefe do Executivo deve participar da missa das 14h na Basílica, conforme agenda divulgada pela equipe de seu candidato ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e, mais tarde, de uma oração do terço.
“Eu não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade de religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente”, afirmou Dom Orlando a jornalistas após a celebração de uma das sete missas programadas para esta quarta-feira no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Como mostrou o Estadão, Bolsonaro, que se apresenta como católico, se aproxima cada vez mais de grupos evangélicos no período eleitoral. Em cultos nos quais esteve presente e discursou aos fiéis, o presidente pediu aos ouvintes, por exemplo, que conversem com seus “irmãos nordestinos” sobre em quem votar no segundo turno. Nesta manhã, o presidente esteve em Belo Horizonte (MG), onde participou da inauguração de uma Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada pelo apóstolo evangélico Valdemiro Santiago.
Dom Orlando Brandes também disse que é importante distinguir a ideologia da verdade. “Nós temos um compromisso ético com a verdade. A verdade na política, mas a política caminha muito pelos caminhos ideológicos, que são caminhos de grupos e interesses pessoais”, afirmou. Ele ainda incentivou as pessoas a votarem e disse que é preciso “acolher aquele que for eleito com o voto e o poder do povo”.
Bolsonaro deve participar de cerimônias à tarde. A missa solene da manhã teve a presença do ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e do candidato eleito para o Senado, Marcos Pontes (PL). A expectativa é que Aparecida receba cerca de 120 mil fiéis nas celebrações deste feriado, que retornam com mais força após dois anos de restrições motivadas pela pandemia.
Em nota nesta terça, sem mencionar candidatos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou o uso da religião como forma de angariar votos no segundo turno. A CNBB afirmou que a manipulação religiosa “desvirtua valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que precisam ser debatidos e enfrentados no País”.
O Santuário Nacional também divulgou uma nota referente à possível realização de uma oração de terço, organizada pelo Centro Dom Bosco, que deve acontecer em um local separado do Santuário nesta tarde. O grupo anunciou que Bolsonaro participaria do evento, mas a equipe do presidente ainda não confirmou a presença.
“É importante reforçar que esta atividade não é organizada pelo Santuário Nacional, tampouco tem anuência do Arcebispo de Aparecida. É relevante também frisar que, embora tenha sido programada para acontecer no mesmo horário da Consagração a Nossa Senhora Aparecida, que há 65 anos tradicionalmente é rezada neste horário, a iniciativa é de um grupo independente”, escreveu em nota o comando do santuário.
Sobre a oração do terço, Dom Orlando defendeu que o grupo tem o direito de realizar a oração, mas pediu que o terço não se misture com ideologia. “Não é uma iniciativa nem do santuário nem da arquidiocese. Todas as pessoas são livres. É preciso respeitar os credos, vai ser em um lugar neutro, então está tudo dialogado e as pessoas têm direito à sua manifestação”, disse. “Se esse terço é ideológico, é uma coisa. Se é um terço de piedade, para o bem comum, para a esperança do povo, em homenagem à nossa senhora, não podemos dizer outra palavra”, completou.
Mais cedo, durante a homilia, Dom Orlando pediu prioridade dos fiéis para enfrentar o “dragão do ódio e da mentira”. Em 2021, durante a celebração da principal homilia do dia da padroeira, Dom Orlando manifestou sua discordância com parte do ideário bolsonarista. Sem citar o nome do presidente, disse que, para o Brasil ser uma “pátria amada, não pode ser pátria armada”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.