Fotos: Secom/PMS
Artista reconhecido nacionalmente pela obra inspirada em elementos do candomblé, Tatti Moreno (1945-2022), dentre outros méritos, contribuiu para a manutenção do imaginário místico da capital baiana, com acervo que se confunde com a paisagem natural de Salvador. A presença fica marcada pelo panteão de orixás emergindo das águas do Dique do Tororó, pela representação poética do casal Jorge Amado e Zélia Gattai, no bairro do Rio Vermelho; por Mãe Stella a abençoar os condutores que circulam pela a avenida que leva o nome da ialorixá, em Stella Maris; ou mesmo com Gregório de Mattos, em claro desafio libertino a Castro Alves, no Centro.
Nas redes sociais, o prefeito Bruno Reis ressaltou a importância de Tatti Moreno para a cidade e o estado. “A Bahia perdeu um dos maiores artistas plásticos da história. As Obras de Tatti Moreno estão em vários cantos do mundo e de Salvador. Dos orixás do Dique até a escultura de Jorge e Zélia no Rio Vermelho, conseguimos perceber a essência do trabalho desse grande artista”.
Para Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), artista e cidade são indivisíveis. “Falar de Tatti Moreno é como falar da própria Bahia, um artista original que conseguiu trazer para nossa cidade e nosso cotidiano obras de arte que traduzem a nossa identidade. Os grandes exemplos são os orixás do Dique, que hoje são cartões postais de Salvador. Era um artista absolutamente criativo, leve, irreverente, ao criar um Gregório de Mattos declamando sua poesia e reverencial, como no trabalho belíssimo de Mãe Stella, ao lado de Oxóssi. Tatti é o grande exemplo dessa baianidade escrachada, extrovertida, sempre disponível e disposto a inventar coisas, em mil ideias. Vai o artista, mas fica uma obra magistral”.
“Perdemos um dos maiores artistas plásticos contemporâneos da Bahia. E quando uma pessoa assim morre deixa sempre a sensação de vazio, até porque era alguém ainda muito produtivo. Isso, porém, é de certa forma contemplado pelo rastro deixado por sua arte, a exemplo das grandes obras espalhadas pela cidade e também pelos trabalhos menores e também importantes, como o Oxossi que temos aqui na ABI, obra de Tatti restaurada recentemente. Portanto, não há hipótese de ele ser esquecido, por conta das grandes obras que deixou de legado”, lamenta Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
A diretora de Patrimônio e Humanidades da FGM, Milena Tavares, destaca que Tatti Moreno se constitui, no campo das artes plásticas, como uma referência que se destaca no cenário nacional e internacional. Para ela, os Orixás do Dique do Tororó enriqueceram de forma significativa a paisagem urbana, tornando-se referência da identidade soteropolitana, registrados especialmente em cartões postais.
Outras obras de destaque são a escultura de Iemanjá, no Largo da Mariquita, feita em parceria com Renato Vianna; e a mais recente obra, instalada no Comércio, em frente à Companhia Baiana de Navegação, em memória às vítimas de Covid. “Deixa, portanto, um legado cultural na escultura representativa e se imortaliza como um grande escultor, dignificando o estado da Bahia e a cidade do Salvador”, declara.
Perfil – Nascido em 18 de dezembro de 1944, o artista plástico baiano Octavio de Castro Moreno Filho era discípulo de Mário Cravo Jr., e além das obras notáveis na capital baiana, conta com trabalhos imortalizados no Lago Paranoá, em Brasília, e nos jardins da Estação Tucuruvi do Metrô de São Paulo. Após lutar contra um câncer de fígado, faleceu nesta terça-feira (14), em casa, em Salvador.