Responsável pela entrega de recursos na região Nordeste, o executivo da OAS Adriano Santana disse em delação premiada que montou um esquema de pagamentos sistemáticos de caixa dois e propina ao grupo político do então governador da Bahia Jaques Wagner, atualmente senador.
Segundo a colaboração, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e revelada nesta quarta-feira (27) pelo jornal O Globo, Santana disse que pagou R$ 1 milhão em propina ao senador entre 2012 e 2013, período em que ele ainda era governador da Bahia. Além desses repasses, outros pagamentos de caixa dois associados a Wagner foram feitos em 2010 e 2012, mas o valor repassado não é mencionado nos documentos.
O ex-presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, o deputado federal Nelson Pellegrino e o deputado federal Marcelo Nilo (PSB), à epoca presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), também teriam recebido recursos indevidos, segundo o delator.
De acordo com Santana, quem intermediava o recebimento de propina e caixa dois junto a OAS para o ex-governador era o empresário Carlos Daltro, ex-funcionário da empreiteira. O delator da OAS citou Wagner em dois anexos. Em um deles, descreve a utilização de um contrato fictício com uma empresa de Pernambuco para repassar, em 2013, a propina de R$ 1 milhão a Carlos Daltro, que seria operador de Wagner.
A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin autorizou que os depoimentos sobre Wagner e seus aliados fossem enviados para o Ministério Público Federal e a Polícia Federal na Bahia. Como os fatos são anteriores ao seu atual mandato, ele não tem mais direito a foro privilegiado.
Por influência de Wagner, segundo a delação, a OAS ampliou para demais aliados os pagamentos. Foio caso de Pelegrino (PT-BA), que teria recebido R$ 1 milhão, via caixa dois, em 2012, quando disputou e perdeu a eleição para a prefeitura de Salvador.
Além do ex-governador petista, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli é apontado pelo ex-executivo Ramilton Lima como recebedor de uma mesada de R$ 10 mil paga pela empreiteira depois que ele deixou a estatal, em 2012. O dinheiro teria sido repassado ao petista, em espécie, na filial da construtora em Salvador, durante todo o ano de 2013, totalizando R$ 120 mil.
o deputado federal Nelson Pelegrino (PT-BA) recebeu da OAS R$ 1 milhão, via caixa dois, em 2012, quando disputou e perdeu a eleição para a Prefeitura de Salvador. O advogado de Pelegrino, Maurício Vasconcelos, afirmou que não tem conhecimento do teor da delação e, por isso, “não tem momentaneamente nenhum comentário a fazer sobre o tema”.
Já Nilo recebeu, segundo Santana, “vantagem indevida” da OAS. Os valores variavam de R$ 50 mil a R$ 400 mil e teriam sido pagos entre 2012 e 2013.
Operação Cartão Vermelho
Wagner e Daltro foram alvos da operação Cartão Vermelho, deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro do ano passado, para investigar supostas irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão do estádio Arena Fonte Nova.
Segundo a PF, há indícios de fraude em licitação, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro na PPP. Ainda conforme as investigações, a licitação teria sido direcionada para beneficiar o consórcio FNP, formado pelas empresas Odebrecht e OAS.