Por BBC News
Em seus oito anos de pontificado, as viagens do papa Francisco foram bastante diferentes das dos seus antecessores. Muitas delas não se destinaram aos grandes centros católicos do mundo — Europa, América do Sul e regiões da África.
Ele foi várias vezes a locais onde os cristãos são uma minoria: Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Japão e Coreia do Sul.
Agora é a vez do Iraque: acredita-se que na região de Ur (na atual província de Dhi Qar) nasceu Abraão, considerado o pai das três principais religiões monoteístas do mundo (cristianismo, judaísmo e islamismo).
Atualmente, esse mesmo local é o lar de uma minoria cristã que está à beira da extinção por vários motivos, entre eles a perseguição de grupos radicais, como o autodenominado Estado Islâmico.
No que foi o ponto alto da visita, que durará três dias, o papa Francisco se reuniu neste sábado (06/03) com o principal líder religioso xiita, o aiatolá Ali al-Sistani.
Este encontro entre as duas religiões foi descrito como “histórico”.
O papa Francisco viajou para a cidade sagrada de Najaf, cerca de 160 quilômetros ao sul da capital Bagdá. O local é um centro de peregrinação para xiitas de todo o mundo.
O aiatolá é uma das figuras mais poderosas do Islã e seus fátuas (pronunciamentos religiosos) levaram muitos muçulmanos a se mobilizarem em 2014 contra o Estado Islâmico.
Em janeiro de 2019, lembra a agência EFE, Ali al-Sistani pediu para investigar os “crimes atrozes” perpetrados por jihadistas sunitas contra algumas minorias na sociedade iraquiana.
Durante o encontro, o papa agradeceu ao aiatolá “por erguer a voz em defesa dos mais fracos e perseguidos, afirmando que o sagrado é a importância da unidade do povo iraquiano”.
Ele também destacou “a importância da colaboração e da amizade entre as comunidades religiosas para que, cultivando o diálogo com respeito recíproco, se possa contribuir para o bem do Iraque, da região e de toda a comunidade”.
A viagem pastoral, que começou na sexta-feira (05/03), é a primeira em 15 meses devido à pandemia de covid-19.
A visita foi classificada como de alto risco não só por questões de segurança — estima-se que ao menos 10 mil pessoas trabalharão para que nada aconteça com o sumo pontífice — mas também por preocupações sanitárias: desde janeiro, os casos de infecção com o coronavírus triplicaram no Iraque.
O próprio papa emérito Bento XVI apontou os riscos da excursão: “Acho que é uma viagem muito importante… Infelizmente acontece em um momento muito difícil, o que também a torna perigosa por razões de segurança e pela covid-19. E há também a situação instável no Iraque. Vou acompanhar Francisco com minhas orações”, disse ao jornal italiano Il Corriere della Sera.
Soma-se a essas incertezas o ataque contra bases militares iraquianas que abrigavam tropas americanas na última quarta-feira (03/03).
O porta-voz do Vaticano, Mateo Bruni, destacou que a intenção da viagem é mostrar a proximidade do papa com as comunidades cristãs ameaçadas.
“É um gesto de amor por aquela terra, pelo seu povo e pelos cristãos”, declarou.