Proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos ainda são muito usados no Brasil, principalmente pelos jovens em idade escolar. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, 13,6% dos estudantes de 13 a 15 anos já experimentaram cigarro eletrônico e entre alunos de 16 a 17 anos, 22,7% já o fizeram.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) alerta que esses dispositivos de fumo eletrônicos, além de não serem seguros, possuem nicotina e outras substâncias tóxicas, podendo causar doenças como câncer, enfisema pulmonar e doenças cardiovasculares, além de causar a dependência química.
“No ambiente escolar, local mais frequentado por jovens nessas faixas etárias, as ações de conscientização precisam acontecer de forma conjunta entre instituição, pais, professores e alunos, mostrando os riscos e como o uso desse tipo de cigarro afeta a saúde”, alerta a Dra. Clarissa Mathias, médica oncologista e ex-aluna do Colégio Anchieta.
A discussão desse tema no ambiente escolar, vem ganhando proporções interessantes. Um reflexo disso, é que o tema esteve entre as opções de escolha para a redação do vestibular da Universidade do Estado da Bahia, aplicada nesse fim de semana, 31, em diversas cidades do estado. No primeiro dia do exame, os participantes foram convidados a produzir um texto dissertativo argumentativo escolhendo entre dois temas: “Obstáculos para redução dos gases do efeito estufa no Brasil” e “Aumento do uso do cigarro eletrônico entre os jovens”.
Os estudantes que já vinham discutindo o tema em sala de aula tiveram uma grata surpresa ao se deparar com o tema. É o caso dos jovens do Colégio Anchieta e Colégio São Paulo, onde o tema vem sendo abordado para estudantes do ensino Médio desde o ano de 2019, através de diversas ações como encontros semanais para discussão em sala e palestras com médicos convidados, como, por exemplo, a médica oncologista, Dra. Clarissa Mathias.
É o que relata a estudante da 3ª série do Colégio São Paulo, Sofia Valverde, que fez o exame neste final de semana e relata “Eu achei o tema muito atual! Havia muitas possibilidades de abordagem e já as tínhamos discutido em sala até. Inclusive, por coincidência, a gente tinha uma redação discutindo o tema do cigarro eletrônico agendada para ser trabalhada em sala nesta semana.”
“Uma coisa que ficou marcada em nossas discussões no colégio e que me chamou a atenção é a quantidade de pessoas da minha idade enfrentando problemas respiratórios por conta desse novo vício coletivo.”, completa. A estudante, que já teve a possibilidade de corrigir a prova feita no fim de semana, avalia ter feito uma boa redação e aguarda o resultado do exame com boas expectativas.
Informação como projeto perene
Segundo a professora Olinda Lima, orientadora pedagógica da 1ª e 2ª série do Ensino Médio do Colégio Anchieta, “A escola entende que o conhecimento é essencial para a conscientização. Dessa forma, instrumentalizamos nossos alunos com informações fidedignas, neste caso, de cunho científico, e a partir daí, os levamos à reflexão dos seus malefícios à saúde. Convidamos profissionais que possuam uma linguagem apropriada para abordar o assunto e manter um diálogo com os estudantes. Temos também o trabalho desempenhado pelo Serviço de Orientação Educacional (SOE), que, por meio de encontros semanais, favorece em sala de aula possibilidades de diálogo e reflexão sobre temas e conteúdos pertinentes e que devam ser abordados com os alunos”, destacou a professora.
A respeito das informações passadas na escola, a professora Rafaela Rossi, orientadora pedagógica do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio São Paulo, conta que além dos alunos, toda a comunidade escolar participa do processo, inclusive os pais: “além do trabalho em sala de aula, nós já realizamos uma live, no Instagram do Colégio, ano passado, onde participou uma médica e toda comunidade pôde acompanhar o diálogo e as discussões”, ressaltou.
O resultado dessas ações é positivo, já que, segundo as professoras, os alunos tiram dúvidas de fato e interagem sobre o assunto e, a parte mais importante, são levados à compreensão de que o uso dos cigarros eletrônicos, além de ilegal, traz muitos malefícios para a saúde.
“Normalmente os sensibilizamos com reportagens sobre os prejuízos que o uso traz, desmistificando que nem toda moda é legal. Tentamos conversar e mostrar que estamos sempre disponíveis para ajudá-los”, finaliza Rafaela.