A pandemia não só transformou a rotina dos médicos brasileiros, que tiveram que se dedicar ainda mais para salvar milhões de pessoas infectadas pelo novo Coronavírus. Ela transformou também a jornada de formação deste profissional, que dentro de um contexto de extrema urgência reformulou seus hábitos e teve que encontrar novas formas de buscar conhecimento. Afinal, se a carga horária foi maior, a necessidade de sentir-se seguro cresceu na mesma proporção e buscar conhecimento se tornou ainda mais fundamental para esses profissionais.
A escolha por um curso de pós-graduação em medicina foi a solução para muitos profissionais que precisavam e queriam se especializar de forma rápida para ter mais segurança na rotina e no tratamento dos pacientes. Foi o que aconteceu com o médico Flávio Moreira, que atua na emergência do Hospital Regional de Eunapólis, no extremo sul da Bahia. “Escolhi fazer uma pós-graduação porque queria melhorar minha habilidade com os meus pacientes críticos na emergência”, relata. Segundo ele, os conteúdos expostos nas aulas são utilizados diariamente em sua prática. “As condutas atualizadas têm me ajudado a conduzir melhor meus pacientes, a exemplo das emergências cardiológicas e respiratórias, que são bastante comuns”, explica o médico, pós-graduado em Urgência e Emergência pela Sanar.
Para o médico pneumologista, professor e coordenador de pós-graduação da Sanar, Felipe Marques, vivemos um momento extremamente desafiador para os egressos das faculdades de medicina. “O perfil deste jovem profissional mudou. Hoje no Brasil 84% deles são oriundos de escolas particulares, majoritariamente mulheres e com dívidas que podem chegar até um milhão de reais e que precisam ser pagas. Os médicos recém-formados precisam pagar isso com muito trabalho logo após a formatura”, explica. Estes números mostram porque a residência médica, um dos caminhos “tradicionais” na carreira, acaba não sendo a única solução após o diploma de graduação, já que nela o profissional deve ter dedicação exclusiva e, em troca, receber uma bolsa de cerca de três mil e quinhentos reais por 60 horas semanais, o que muitas vezes não é suficiente para bancar seus custos de vida. “Além disso, o crescimento de vagas de residência médica no Brasil nem de longe acompanha o aumento de novas vagas oferecidas nas faculdades de medicina, o que torna o processo seletivo disputado e inacessível para muitos”, contextualiza Marques.
A expectativa de quem atua no mercado de pós-graduação médica é que ele cresça aproximadamente 15% por ano nos próximos 5 anos, praticamente dobrando de tamanho. “Quem não se diferenciar vai disputar um mercado cada vez mais exigente e competitivo, por isso a pós-graduação tem sido uma solução assertiva para médicos em diferentes fases da carreira”, analisa o professor e coordenador. Essa é uma realidade que influenciou na decisão do médico Flávio Moreira: “A pós-graduação me coloca em vantagem na concorrência em processos seletivos para vagas de emergencistas, que é uma área onde atuo”.
Dados do estudo de Demografia Médica no Brasil, realizado pela USP e pelo Conselho Federal de Medicina, apontam que em 2010 eram 315.902, devem ser 815.570 em 2030. Se em 1997 o Brasil tinha 85 escolas médicas, este número mais do que triplicou e hoje já somos o segundo país do mundo neste quesito, atrás apenas da Índia. “O desemprego não é uma realidade para os profissionais de medicina no Brasil hoje, mas já temos casos de empregos com condições ruins e degradantes. Não dá para se acomodar após a graduação, é preciso se especializar para entregar mais valor ao paciente e, consequentemente, impulsionar a carreira”, afinal de contas, o médico nunca deve parar de aprender, finaliza Felipe Marques.