Uma educadora precisou desativar as redes sociais depois de receber dezenas de ataques e ameaças. O motivo foi a doação do livro Aparelho Sexual e Cia., de Hélène Bruller, para a unidade de ensino em que ela atua no distrito de Monte Gordo, em Camaçari. Layunne Magalhães é responsável pela biblioteca da Escola Municipal Amélia Rodrigues, reativada em julho deste ano, e foi também a servidora responsável por autorizar que uma aluna, que vinha lendo o livro há dias na biblioteca, levasse o exemplar para casa. Quando a família da estudante, de 11 anos, teve acesso ao livro deu-se início a uma confusão generalizada, que já envolve polícia e pastores da região. O livro em questão foi instrumento da campanha política do presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2018, e faz parte do chamado “kit gay”.
Layunne, que é servidora desde 2010 e sempre atuou na unidade de ensino em questão, disse nunca ter passado por uma situação semelhante. Ele (o pai da aluna) chegou na terça-feira (30) na Escola, antes mesmo dos portões abrirem e foi até a direção. Quando chegou a mim preferiu me desacatar ao invés de devolver o livro, dizer que não concorda com aquele tipo de material na biblioteca, que seria até o direito dele como pai, como cidadão. Mas não, ele preferiu partir para cima de mim, dizendo que eu incentivei a menina levar o livro, afirmando que se trata de um material pornográfico, que ensina a fazer sexo e, como se não bastasse me xingar, ainda afirmou que meus filhos vão ser prostitutas e vagabundas”, relatou a educadora, que após perceber o tom do pai da criança, passou a registrar a situação com seu celular e denunciou as ofensas sofridas em um boletim de ocorrência na Delegacia da região.
Nos vídeos, que têm circulado pela internet, o pai da criança critica a atitude da educadora de ter levado o livro para unidade de ensino. “Dentro da minha casa eu escolho e controlo o que eles [meus filhos] assitem”, relata o pai antes de afirmar que a aluna só teve acesso ao livro, graças a servidora. Ainda em um vídeos, o pai abre o livro e passa a ler a parte em que tratam de atos sexuais. Segundo ele, se trata de um material “pesado” para crianças da idade da filha dele. O assunto tem circulado pelas redes sociais, sites da cidade e virou até pauta para pastores da região que trouxeram à tona, novamente, a discussão sobre a educação sexual nas escolas.
A discussão teve desdobramentos até essa sexta-feira (02), quando Layunne foi informada que não integra mais a biblioteca da instituição de ensino. “A diretora me recepcionou informando sobre a mudança e ainda não tenho um local específico para ficar. De lá fui para uma reunião no Sindicato onde fui orientada a não voltar, por enquanto, já que estou sofrendo ameaças”, relatou a educadora.
Sobre o assunto, a Secretaria da Educação de Camaçari (Seduc) afirmou que o livro em questão “não compõe o acervo das bibliotecas escolares da rede municipal e não faz parte do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e tampouco é indicado para trabalho pedagógico com os estudantes desta rede”, ainda segundo a pasta, foi realizado um “acompanhamento na unidade escolar, ocasião em que ouviu os pais da estudante, para quem o livro havia sido entregue, bem como dialogou mais uma vez com a gestão escolar. Paralelamente, a servidora, que é auxiliar de classe, também foi ouvida no gabinete da Seduc. A sindicância, criada por meio de portaria oficial, seguirá com a apuração, enquanto uma equipe pedagógica multidisciplinar atuará na escola com o intuito de garantir a fluidez nos processos curriculares.”