O sono tem uma série de funções para manter o organismo trabalhando de forma adequada. Os benefícios de uma boa noite de sono para a saúde e bem-estar são incalculáveis, sobretudo para as mulheres. O gênero feminino está mais propenso a ter instabilidades no sono ao longo das fases da vida. Com base em um estudo da National Sleep Foundation, cerca de 15% das mulheres têm algum tipo de problema para dormir, em comparação a 8% dos homens. Além disso, 63% sofrem de insônia semanalmente, enquanto a taxa masculina é de 54%.
“Precisamos de 1/3 da nossa vida de sono, essa equação é fundamental para a estabilização metabólica, ajustes de memória, para todas as funções restauradoras e a limpeza de substâncias liberadas ao longo do dia que são feitas durante o sono. Quando se tem uma redução ou qualquer distúrbio relacionado ao sono gera-se um desequilíbrio que, consequentemente, atingirá o organismo de forma integral, com impactos na capacidade de memória, no sistema respiratório, cardíaco, imunológico e comportamental”, explica a pneumologista e especialista em medicina do sono, Dra. Luciane Mello Fujita, médica credenciada Omint.
Segundo CENSO de 2018 do IBGE, a expectativa de vida da mulher no Brasil era de 79,9 anos. A maioria das mulheres agora vive o suficiente para entrar na menopausa e pode esperar viver pelo menos mais 30 anos após o término de sua vida fértil. E é durante essa fase, por causa do desequilíbrio hormonal e da queda na produção de estrogênio, hormônio associado à regulação do sono na mulher, que podem ocorrer distúrbios desse tipo.
Os hormônios: os regentes da vida da mulher
Dra. Luciane é enfática ao afirmar que “as mulheres são regidas pelos seus hormônios”. As transformações hormonais acontecem a todo instante no corpo feminino e podem ser acentuadas de acordo com a fase da vida, como a gestação e a menopausa, dois grandes eventos que proporcionam muitas mudanças. “As fases da vida de uma mulher são marcadas por grandes transformações provocadas por oscilações em seu ciclo hormonal e, por consequência, o sono segue essa espiral de mudanças”, complementa a doutora.
A médica elenca alguns sintomas que podem acender um alerta na mente da mulher para procurar por uma rotina de sono mais saudável, pois diferentemente do homem, elas não costumam se queixar de sonolência diurna quando tem uma noite ruim. Os sintomas mais comuns são: irritabilidade, mudanças de humor, dificuldade de cognição, e alteração no padrão respiratório, apresentando quadros de apneia no sono.
Fatores socioculturais
A exemplo dessas mudanças, durante o período pré-menstrual a mulher pode apresentar um quadro de cefaléia específica, podendo ter o sono fragmentado durante o ciclo. Contudo, para além das questões hormonais, há também as socioculturais. “Em geral, a mulher apresenta uma carga de atividades e tarefas diárias que afetam a sua rotina de sono, causando insônia, inclusive, nas mais jovens. Dessa forma, além dos fatores hormonais, a questão sociocultural é outro agente preponderante na causa dos distúrbios no sono da mulher”, explica Dra. Luciane.
A obesidade e a libido também são fatores que sofrem alterações de acordo com a qualidade do sono. Essas mudanças são chamadas de distúrbios associados, em que um se desdobra no aparecimento ou agravamento do outro.
A médica destaca que essa diferença entre o sono da mulher e do homem se mostra de forma objetiva durante um exame de polissonografia – procedimento que avalia todos os parâmetros do sono, realizado durante o período em que o paciente está dormindo. São colocados eletrodos, marcadores e sensores respiratórios e de movimentos de forma geral, em que é possível identificar o comportamento, as ondas cerebrais, a parte cardiológica e respiratória, padrão de ronco, e surgimento de episódios de apnéia. Trata-se de é um exame completo e bastante objetivo. “O exame da mulher difere do homem, ou seja, é possível identificar não apenas subjetivamente, como objetivamente por meio do exame realizado, essa diferença na rotina do sono entre homens e mulheres com o mesmo perfil de idade, doenças, então é mais do que comprovado que a mulher possui características que a tornam suscetível a distúrbios relacionados ao sono”, destaca.
Dicas gerais para ter um sono de qualidade e higiene do sono
A palavra-chave é organização. Para que o cérebro entenda, e sintetize essas ações, é preciso sinalizar. Estabelecer hora para dormir e acordar, assim, os estímulos enviados ao cérebro auxiliam a criar essa rotina.
Reduzir a iluminação antes de dormir, evitar o contato com telas, seja celular, tablet, notebook, TV, todos esses gadgets são estimulantes e dificultam a preparação para um bom sono. Evitar o consumo de substâncias estimulantes, como a cafeína, e alimentos em grande quantidade, também são ações que colaboram para uma rotina saudável e um sono de qualidade.