A paciente Dani, como era chamada pelos profissionais de saúde do Hospital Espanhol, foi admitida no dia 29.04.22 com a saúde bem debilitada. Chegou a ficar intubada, mas evoluiu para a melhora e, na segunda quinzena de maio, foi transferida para a Enfermaria 5C.
No dia 18 de maio, na visita da Assistente Social Sheila Silva, as duas conversaram sobre esta falta de contato da paciente com a família. Um distanciamento opcional, por parte de Danielly. No ano de 2012, ainda em Teresina, ela se afastou da família, brigada com os pais, deixando seus dois filhos adolescentes, à época. Um deles ficou sob os cuidados dos avós maternos e o outro, sob os cuidados do pai. Ela veio para a Bahia em 2014 e nunca mais fez contato com seus familiares. “Em junho de 2014, sai de Teresina com um grupo de amigas para assistir à Copa do Mundo aqui em Salvador. Estava precisando espairecer um pouco. Eu trabalhava vendendo roupas e me endividei muito. Sujei meu nome na minha cidade e desisti de tudo. Até da minha família” – contou Danielly Shirley, ainda no leito 509 da Enfermaria 5C do HE, na véspera da sua alta.
Sheila Silva é colaboradora do Hospital Espanhol desde maio/2020, quando começou como atendente do call center. Em maio do mesmo ano, foi transferida para área de assistência do Serviço Social. “Meus contatos com Dani foram progredindo, a cada visita à beira leito. As suas emoções e a dificuldade na fala, por conta do período em que ficou intubada, prejudicaram, inicialmente, a troca de informações. Mas aos poucos ela foi contanto sua história, falando da mãe, dos filhos… e nos revelando os seus nomes. Demonstrou interesse em tentar localizar a família. Assim fomos à procura dos familiares de Dani, com a autorização da nossa coordenação e a ajuda das redes sociais, como ferramentas de busca” – explicou a assistente social e quase detetive, Sheila Silva.
O primeiro a ser encontrado e identificado, no Facebook, foi o filho mais velho de Danielly, Willame Batista, hoje com 28 anos, atendente de farmácia, em Teresina/PI. Sheila explicou o porquê de estar ali e o questionou pelo messenger, se o nome Danielly Shirley Batista Silva era conhecido para ele. A resposta de milhões e emoções veio: “Esta mulher é minha mãe! Faz mais de 10 anos que não temos notícia alguma dela… Achávamos que ela estava morta.” – dizia a mensagem de Willame.
Contato estabelecido. Surpresa, gratidão e alegria para os dois lados. Daí por diante, videochamadas eram realizadas com frequência, pela equipe do HE, para que a paciente Danielly fosse retomando o contato com sua mãe e filhos, até a sua alta, quando aconteceria o retorno para sua cidade natal.
A família veio de carro
de Teresina a Salvador
Danielly Batista teve sua alta assinada, a família foi comunicada e partiu de Teresina, de carro, para enfrentar 1.150 km de estrada, com destino à Av Sete de Setembro, 4161 – Barra, Hospital Espanhol, Salvador/BA. Vieram, na comitiva para o reencontro tão desejado e que já não era mais esperado, seu pai de criação, José Willame Batista da Silva, 61, autônomo; sua mãe Geralda Batista, 68, comerciante e o primogênito de Danielly, Willame. O filho caçula, Lucas, de 23 anos, não veio. A viajem durou quase dois dias porque ocorreram algumas intercorrências com o carro, atrasando o reencontro e só aumentando as ansiedades. Principalmente a de Danielly! Mas… para quem esperou uma década, o que são dois dias?
Às 16:45 do dia 6 de junho de 2022, a alta de número 4.500 do HE aconteceu. As portas de vidro da Recepção se abriram e Dani, na cadeira de rodas, usando um vestido amarelo que a mãe trouxe de presente, segurando um balão dourado, em forma de estrela, viu seu pai, sua mãe e um dos seus filhos caminhando em sua direção, ao som da voz e do violão do musicoterapeuta do HE, Marcos Barbosa, entoando um louvor, a pedido da própria paciente. O primeiro abraço foi do filho… e o mais silencioso e demorado! Depois o da mãe com troca de sussurros entre elas e, por fim, o do pai. “Você envelheceu muito!” – disse Dani ao pai, entre risos e sinceridade. Assim ela é. Mulher de personalidade forte, questionadora e que busca ter suas vontades atendidas, dentro do que lhe é possível.
“Dani não é fácil”, disse sua mãe, antes de desabafar, entre lágrimas e voz embargada de choro, com a equipe de profissionais que fez questão de prestigiar e presenciar o reencontro tão esperado e demorado, desta última semana no HE. “Agradeço ao Senhor por trazer a nossa filha de volta para nós. Eu estou muito feliz! Eu achava que estava sonhando, nos dois primeiros dias em que recebi a notícia. Mal conseguia falar. Mas quando os contatos foram sendo feitos, eu vi que tudo era realidade. Eu tinha dado minha filha como morta e ela reviveu, porque o Senhor é bom! Não devemos desistir nunca e sempre confiar em Deus, porque Ele é maior do que todas as coisas” – externou D. Geralda Batista. E continuou: “Obrigada a todos vocês por todo o amor, todo o cuidado, toda a dedicação. É tanta gratidão que eu nem tenho palavras para agradecer”.
Nestes dez anos sem contato, a família tentou muito encontrá-la. Contratou detetive, deixaram registros nos órgãos de segurança pública local e nacional e D. Geralda fez cadastro no Instituto Médico Legal de Teresina, para onde era chamada com frequência para realizar testes de DNA, na expectativa de ser identificada como mãe biológica de corpos de mulheres que chegavam ao local com características similares à sua filha Danielly.
“Hoje eu devo agradecer por eles me aceitarem de volta. Quero agradecer também, por tudo que a assistente social Sheila fez por mim. Ela que foi em busca da minha família. Coisa que eu nunca fiz e nem sei se faria sozinha” – disse Danielly, demonstrando emoções instáveis.
Serviço Social,
ponte de reencontros
O pesadelo acabou e com ele, as dúvidas sobre o que teria acontecido a Danielly. A notícia da filha que parecia um sonho para D. Geralda, tornou-se realidade, na porta do Hospital Espanhol. E o reencontro, depois de 10 anos, aconteceu, graças ao serviço social do Hospital Espanhol, representado pela profissional Sheila Silva que abraçou a causa e acompanhou de perto cada etapa deste reencontro, realizando os processos necessários. E só sossegou quando viu os abraços de Dani em seus familiares.
Mas as emoções não pararam por aí. Quando a família já estava acomodada no carro para pegar estrada, Danielly acenou pela janela e agradeceu a Sheila, mais uma vez. O carro desceu a rampa do pátio interno do HE e esta assessora que aqui tecla, contando mais uma história da pandemia no HE, parabenizou a assistente social pelo trabalho, pela humanização e dedicação – inerentes à sua função, e teve um final feliz, numa unidade em que há tantos contatos com familiares para comunicação de óbito.
“Missão cumprida!” – foi só o que Sheila conseguiu dizer, antes de desabar num choro forte. Hoje pode, Sheilinha. Chore! Você é assistente social, é profissional, vem segurando todas as emoções neste caso, mas é filha também, é muita humana e merece colocar para fora os seus sentimentos.
Torcemos para que outras Daniellys encontrem outras Sheilas em suas vidas e outros reencontros familiares possam acontecer, nas unidades de saúde do nosso Brasil!