As ameaças verbais e os xingamentos proliferam …
“Guerra nunca é algo que os Estados Unidos desejam. Mas a paciência do nosso país não é ilimitada. Vamos defender nossos aliados e nosso território”, ressalta a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley.
“Vamos acabar com o destino dos imperialistas americanos criminosos mediante ataques preventivos mais fortes e sem piedade” , dispara o líder Kim Jong-un.
Numa espécie de ‘flashback’ da Guerra Fria – disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética (1945-1991) -, o mundo assiste agora, dia após dia, o temor da realização de uma possível 3ª Guerra Mundial. De um lado, mais uma vez, os Estados Unidos. Do outro, a Coreia do Norte e seu regime comunista.
A última tentativa do presidente dos EUA, Donald Trump, de usar uma linguagem dura para intimidar o líder Kim Jong-un, e forçá-lo a refrear o desenvolvimento de seu programa de mísseis balísticos foi em vão. Em vez de recuar, Kim não só ameaçou enviar projéteis a Guam (ilha sob controle americano no Pacífico Ocidental), mas lançou mísseis no Mar do Japão, e sobre o país. A tensão entre os dois países só tem piorado nas últimas semanas.
E, em meio a este cenário nada positivo, surge alguns questionamentos: qual seria a implicação ao Brasil? O país poderia ser afetado? A reportagem do Aratu Online conversou com alguns especialistas que opinaram a respeito.
Para o professor de economia da USP, Gilmar Masiero, um conflito entre os países, mesmo sendo bélico, não causaria um movimento homogêneo (quebra das grandes bolsas mundiais) como nos grandes conflitos anteriores, que pudesse afetar a economia nacional, pois a bolsa brasileira não faz parte das sete grandes bolsas mundiais.
Ainda segundo Masiero, o Brasil só poderia ter a economia afetada se houvesse uma crise financeira à nível mundial.”Conflitos bélicos com norte-coreanos, sírios e iraquianos não deflagram crise financeira internacional… Quem é afetado é o público interno norte-americano”, relembrou.
No entanto, uma pesquisa da “Capital Economics”, empresa de consultoria econômica de Londres, indica, por exemplo, que se a Coreia do Sul (aliada dos Estados Unidos) fosse impactada pela guerra, a cadeia produtiva mundial poderia ficar desorganizada. Segundo o estudo, a Coreia do Sul representa cerca de 2% da produção econômica global e em uma guerra se houvesse uma queda de 50% no PIB sul-coreano, 1% do PIB mundial seria atingido.
Além disso, há os efeitos indiretos, a Coreia do Sul é a maior produtora de displays de cristal líquido do mundo, por exemplo, e se os sul-coreanos fossem atingidos na guerra, haveria uma escassez do produto no mundo todo.
“O primeiro alvo do ditador Norte Coreano seria a Coreia do Sul onde se encontram as sedes das empresas Samsung e Hyundai, que tem grande participação na bolsa de valores e que traria uma instabilidade inicial no mercado e poderia atrapalhar os fluxos de importação. Somado a isso o capital empregado na área produtiva e nas trocas comerciais sofreria um abalo direto em função do financiamento do poder bélico, diminuindo o ganho do Brasil como exportador potencial de commodities para as duas potências (China e EUA)”, explica o economista Wagner Vieira.
Para ele, uma guerra “desse porte não é interessante para as partes envolvidas”. “Por mais que a exista um lucro real na indústria armamentista, o mundo vive em uma situação de troca global e de necessidade mútua. os acordos comerciais fortalecem e enriquecem uma ou outra nação e se posicionar pode ser um passo delicado. O grande problema para o Brasil seria de fato a posição da China no meio do conflito”, ressalta.
E, há risco, de fato, de uma guerra?
Para Matheus Souza, coordenador do curso de Relações Internacionais da Unijorge, “a possibilidade de uma guerra existe (sempre existirá); mas a probabilidade é ínfima”. “A guerra de palavras não pode ser vista apenas como recurso oratório com vistas à dissuasão. Ela contribui para a continuação de uma corrida armamentista na Ásia. O discurso político é também prática política. Ele alimenta um dilema de segurança entre os países e sociedades envolvidos. Pyongyang entende que há uma ameaça contra a qual deve se proteger; os discursos estadunidenses confirmam essa ameaça; em consequência, Pyongyang aumenta os gastos em armamentos e em defesa; esse aumento de gastos aprofunda as tensões com sul coreanos, japoneses e estadunidenses”.
Ainda segundo Souza, reflexos bélicos ou humanitários diretos não afetarão o Brasil. “Não nos envolveremos no conflito nem receberemos refugiados. Entretanto, há preocupação com a presença de brasileiros na região. Podemos ser afetados também do ponto de vista econômico. China, Japão e Coreia do Sul são parceiros estratégicos do Brasil, e ocupam lugar de destaque em nosso comércio exterior. Ainda que com menos fôlego, a Coreia do Norte também é um parceiro comercial importante. A Bahia também mantém comércio com os norte coreanos, já tendo importado neste ano de 2017 produtos no segmento de reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos e suas partes”, lembrou.
Entrevistado pelo jornal O Globo, o embaixador do Brasil na Coreia do Sul, Luis Serra, afirmou que o nível de tensão já foi bem mais elevado na região e que, diferentemente do que se poderia imaginar, não há pessoas buscando refúgios ou sinais de pânico.
“Dá para usar a imagem de um eletrocardiograma. Eu diria que, em abril deste ano, houve um pico. Agosto, em função dos dois testes balísticos de julho, está mais alto do que maio e junho, que foram meses mais tranquilos. Tem sido assim há muitos anos. Não há um curva de ascensão constante, nem de queda”, disse.
Em caso de guerra, já existe, inclusive, um plano de retirada já submetido ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil, que pode ser posto em ação, se necessário. Atualmente, há na Coreia do Sul entre 350 e 400 brasileiros residentes, dos quais cerca da metade tem dupla nacionalidade. Só nos resta rezar…
ARATUONLINE