A região do Subúrbio Ferroviário registra a maior proliferação do Aedes aegypti em Salvador: 3,4%. Das 11 grandes áreas analisadas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), três apresentam risco elevado de proliferação do mosquito causador de doenças como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela, e outras oito são consideradas em situação de alerta. Os dados são do último Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LiraA) da SMS.
O resultado do Subúrbio significa que a cada cem domicílios visitados por agentes comunitários de saúde, três tinham focos de mosquito. As taxas mais altas da cidade também estão nesta região, nas localidades de Fazenda Coutos (5,4%), Lobato, Plataforma II e São João do Cabrito (5%). Quando a porcentagem é igual ou superior a 4%, é considerado o risco de uma epidemia de dengue.
Outros bairros nesta situação no distrito sanitário do Subúrbio são Base Naval e Paripe II, com índice de 4,8%. As outras 18 localidades que compõem o distrito estão em situação de alerta com índice entre 1% e 3,9%.
Redução
Apesar dos números que ainda inspiram cuidados, houve redução do índice de infestação tanto em Salvador quanto no Subúrbio em comparação com o último estudo, feito em outubro de 2017. Na capital, o índice caiu de 2,3% para 1,8% enquanto naquele distrito a queda foi de 4% para 3,4%.
A subgerente de arboviroses do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Isolina Miguez, aponta a redução na capital como uma conquista significativa. “Em 2017 tivemos chuvas de abril a novembro, foi um ano bem atípico. A gente esperava que o resultado de janeiro estivesse pior”, explicou.
Segundo ela, para combater os efeitos do clima, a partir de outubro o CCZ intensificou o combate ao mosquito, com mutirões de limpeza, de visitas mais frequentes nas áreas de risco e ações educativas. Na sua avaliação, as dificuldades com o Subúrbio (tradicionalmente o distrito com maior índice de infestação) se devem ao frequente problema de desabastecimento enfrentado pela população.
“As pessoas às vezes ficam uma semana sem água, e o problema é esse aí. Aí elas vão fazer o quê? Vão armazenar”, ilustra.
A gestora disse que além dos baldes e bacias usados para guardar água, muitas pessoas têm tanque no nível do solo, mas os deixam descobertos. “A gente até fornece capas para estes reservatórios, mas com a dificuldade de tirar e colocar a capa acaba fazendo com que as pessoas abandonem o uso. Nossos agentes voltam quinze dias depois e o tanque está descoberto de novo”, revela.
Para reverter a situação, os agentes têm feito revisita às casas com focos do Aedes, além de mutirões de limpeza em conjunto com a Limpurb e um trabalho educativo nas escolas. Quando são identificados focos do mosquito são feitas ações de borrifação e, em todas as localidades de risco de infestação, é aplicado inseticida nas bocas de lobo.
Outras nove localidades de Salvador que apresentam alto risco de uma epidemia de dengue são: Amaralina, Caminho das Árvores, Itaigara, Pituba, Rio Vermelho, com 4,9%; Jardim Vila Verde e Parque São Cristóvão I, com 4,6%; Bairro Guarani e Liberdade II, com 4,5%; e Tancredo Neves II, com 4%.
Bom exemplo
Por outro lado, Brotas é a região da cidade que está em melhor situação em relação à infestação. Todas as 13 localidades do distrito sanitário apresentam índice de infestação predial considerado satisfatório, ou seja, abaixo de 1%. Isolina explica que foram investigados os casos de sucesso e de lá importados para outros distritos.
“Lá (em Brotas), eles fazem revisita. Se tiver foco de mosquito, aquela casa fica sinalizada e em 15 dias os agentes voltam para ver se o problema foi sanado. Se não foi, o morador recebe orientação e a casa continua marcada para novas visitas”, explica, acrescentando que agentes relataram que já foi necessário fazer oito visitas até a conduta ser ajustada.
Quando se analisam as localidades de Salvador separadamente, os melhores resultados são no Alto do Peru, Bom Juá, Fazenda Grande I, Pau Miúdo, Retiro e Brotas I, que têm índice de infestação próximo de zero.
Melhora
Apesar da melhora na média de infestação da capital registrada em janeiro deste ano, quando de cem casas visitadas pelos agentes de saúde do município menos de duas possuíam as larvas do mosquito, a cidade se encontra ainda em estado de alerta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera satisfatório o índice de infestação predial entre 0% e 1%.
Apesar da diminição do percentual, a cidade ainda se encontra em estado de alerta e as ações de combate ao mosquito devem continuar acontecendo durante todo o ano. O levantamento, inclusive, serve para traçar estratégias. “Esse levantamento que fazemos norteia as nossas ações porque quando fazemos essa coleta percebemos também quais são os depósitos que eles foram encontrados”, explica Isolina.
Com o levantamento, foi possível apontar também em quais locais as larvas são mais encontradas. De acordo com a subgerente da CCZ, 48% delas foram achadas em depósitos de água com nível acima do solo, em tonéis, por exemplo; 28% estavam em vasilhames pequenos, como pratos e pires utilizados em vasos de plantas; os outros 9% estavam em reservatórios fixos, como tanques.
Sinal de alerta
Ainda de acordo com a subgerente de arboviroses do CCZ, 63,2% dos bairros visitados estão em sinal de alerta, com o índice entre 1% e 3,9%. Apesar disso, segundo a SMS, o estudo revelou uma diminuição no número de áreas com alto risco para epidemia das doenças transmitidas pelo mosquito.
No levantamento do ano passado, 22 bairros estavam com sinal de risco. Neste ano, apenas 10 apresentaram o índice de infestação acima de 3,9%.
“Os bairros de Bom Juá, Fazenda Grande do Retiro, Lobato, Plataforma e Coutos, por exemplo, saíram do sinal vermelho para o amarelo (alerta). Isso que dizer, que apesar da diminuição, precisamos continuar trabalhando”, pontua Isolina.
Para combater o mosquito são realizadas a cada dois meses ciclos de visitas. As inspeções dos agentes começaram no dia 8 de janeiro. Os profissionais têm até 6 de abril para visitar todas as residências da cidade.
Operação Carnaval
A SMS montou um esquema para evitar uma possível epidemia durante a folia. Na próxima semana, o órgão vai realizar inspeções em hotéis da cidade. Além das ações de rotina realizadas pelo CCZ, os agentes de combate às endemias irão realizar a inspeção e borrifação de inseticida no entorno das UPAs, além dos bairros onde serão circuitos oficiais da folia.
Os profissionais também intensificarão os trabalhos educativos no Aeroporto, Rodoviária, Porto de Salvador, Ferry Boat, prestando orientações a respeito de medidas de prevenção das doenças. Equipes do CCZ também vão estar de plantão durante todo o Carnaval para realizar o bloqueio focal nas residências com suspeita de pessoas acometidas por alguma arbovirose.
“Estamos intensificando as ações para fechar o cerco ao mosquito, sobretudo nesse período do Verão, quando a circulação de pessoas é maior na cidade. Historicamente, janeiro é o período onde o índice de infestação começa a apresentar crescimento por conta dos aspectos climáticos favoráveis para proliferação do vetor”, pontuou a Diretora de Vigilância e Saúde, Geruza Morais.
Fonte: Correio 24 Horas