Com informações do nosso parceiro: Informe Pirajá
A Unidade e Pronto Atendimento de Pirajá atende a pacientes oriundos de diversos bairros de Salvador, além dos pacientes de Pirajá. Com uma média aproximada de 4 mil atendimentos por mês, a unidade possui 23 leitos destinados ao atendimento de pacientes pediátricos e adultos, três especialidades e conta com mais de 300 profissionais para atendimento da demanda, que foi aumentada durante a Pandemia de Covid – 19.
Dirigida há três anos pelo Administrador Especialista em Gestão de Serviços de Saúde, Erenilton Café, a Unidade vem passando por um profundo processo de readequação estrutural e de pessoal. Resultado dos esforços, o aumento do nível de satisfação da clientela atenta às melhorias na estrutura e no serviço oferecido é crescente.
Entretanto, muito ainda precisa ser feito para elevar mais a quantidade e qualidade do atendimento. Nessa entrevista, o Informe Pirajá traz detalhes do processo de requalificação de UPA – equipamento destinado a atendimentos de urgência e emergência – que faz parte da história do bairro e da região.
Entrevista
Jorge Andrade – Essa Unidade, durante muito tempo, teve um histórico de atendimento ruim. O que foi feito, a partir da sua chegada, para superar esta situação? Como foram corrigidos os pontos que eram interpretados negativamente pela população? E, um segundo aspecto , como seguir melhorando esse atendimento ?
Erenilton Café – O primeiro aspecto, para a melhoria do atendimento, a solução foi aumentar o contato com a comunidade. Os antigos diretores não tinham tanta proximidade. Dito isso, não posso deixar de ressaltar e agradecer ao Informe Pirajá que nos ajudou muito com essa aproximação. Porque sempre que colocavam as matérias, nós liamos os comentários das pessoas e avaliávamos: Muitos falavam da recepção. Era o que mais falavam, sobre o trato da Recepção e sobre a receptividade dos médicos. Com essas informações, nós passamos a desenvolver Indicadores de Saúde, Pesquisas com a comunidade e evoluímos para a realização de Mutirão de Saúde – como uma maneira de reduzir os gargalos no atendimento – e fomos entendendo qual era o perfil do paciente que vinha até a Unidade. De posse das informações, promovemos a mudança de médicos. Passamos a contratar profissionais mais humanos e especialistas que correspondessem à demanda dos atendimentos buscados. Mudança de estrutura do corpo de enfermagem, da estrutura da recepção, portaria, maqueiros e higienização. Foi necessário fazer mudanças abrangentes na unidade do ponto de vista de pessoal e também a mudança física para poder atender melhor a população.
Jorge Andrade – Pirajá ficam em uma região da cidade de Salvador tomada pela violência, oriunda de práticas ilícitas, e também pela “violência” cotidiana – acidente de carro ou de moto – . Atualmente, qual tipo de atendimento mais prevalente na Unidade?
Erenilson Café – No início da minha gestão na Unidade, 32 meses atrás, quando eu cheguei aqui, ela era uma unidade de referência de atendimento e PAF ( Programa de Assistência Farmacêutica) , tanto que pacientes baleadas com arma branca, era o mais comum. Todos os dias, pelo menos um caso desse tipo tínhamos aqui. Como mudança de perfil da unidade e o entendimento do que é essa Unidade, hoje já não temos mais esse tipo de atendimento, pacientes os baleados ou vítimas de facada. Mas, vemos aumentar significante o número de pacientes vítimas de quedas, sejam de andar ( lajes), sejam queda da própria altura. Também muitas fraturas. Também aumentou muito o número de pacientes de sutura, principalmente crianças. Mas, o aumento de pacientes vítimas de ato de violência doméstica, violência contra à mulher, tem chamado atenção. Por isso, hoje nós temos em desenvolvimento um Núcleo de Apoio à Mulher Vítima de Violência. Lamentavelmente também, vemos crescer o número de vítimas de estupro infantil e das tentativas de suicídio. São três aspectos bem significativo no nosso atendimento. Inclusive, nós estamos desenvolvendo um estudo, pensando na possibilidade futura de abrir leitos psiquiátricos na nossa unidade.
Jorge Andrade – No início, durante o Brieffing, você apresentou o Gestão à Vista. Como a analise dos Indicadores de Saúde tem influenciado na gestão e aprimoramento da Unidade?
Erenilton Café – Os Indicadores de Saúde, o trabalho do Gestão à Vista, vem da rede privada. Quando o Estado abriu as PPPS, Parceria Público-Privado, esses indicadores também passaram a ser inseridos em unidade especificas. Temos o Hospital do Subúrbio, que é PPP, referência nessa questão. O Hospital Metropolitano, recentemente entregue, também utiliza . Entretanto, na rede própria nunca tivemos esse trabalho de gestão à vista e de indicadores de saúde.
Como sou formado em Administração com Especialização em Gestão de Serviços de Saúde, resolvi trazer esses indicadores para essa experiência da UPA, para que pudéssemos tomar decisões baseadas nesses indicadores. Isso tem nos ajudado muito a compreender o perfil do paciente e a entender, de fato, qual era a demanda da comunidade. Porque mudaram o perfil da Unidade era difícil, uma vez que a comunidade não queria que se tornasse uma UPA, pois estavam acostumados a fazer Ultrassom, Raio-X e exames de laboratório. Para eles era mais conveniente que a unidade continuasse sendo o “Posto de Pirajá”, como é conhecido, do que virar uma UPA. Só que nós percebemos que, sim nós tínhamos condições de fazer a mudança. Mas, seria necessário reeducar a comunidade para a utilização correta dos equipamentos de saúde disponíveis na região. Assim, começamos o trabalho educacional com a comunidade. Fizemos várias palestras e encontros, tudo antes da Pandemia do Covid – 19 e os Indicadores de Saúde nos auxiliaram a inserir serviços adequados na unidade, para que o atendimento tenha excelência para o paciente. Hoje nós temos Assistente Social, todos os dias, era um atendimento que é que nós não tínhamos. Temos Nutricionista, que também não tínhamos. Estamos implantando o Serviço de fisioterapia, que não era disponibilizado. Atualmente, a Unidade, que antigamente tinha três médicos, passou a ter cinco médicos que atendem 24 Horas; dois clínicos, dois pediatras e um ortopedista. Além do médico Diarista, que é o sexto profissional, que atende todos os dias.
Jorge Andrade – A análise desses números demonstrou qual o perfil do cliente aqui da unidade?
Erenilson Café – Hoje, nós temos clientes, que chamamos de pacientes médios e graves, que é intermediário grave. Atualmente, recebemos muito mais pacientes graves que já chegam em uma condição de quase óbito, do que o paciente ambulatorial. Como hoje você não tem em Pirajá, e isso é lamentável, um hospital. Afinal, o bairro está em uma região densa, com bairros com Marechal Rondon, Coutos, São Caetano, Lobato e a população do Subúrbio Ferroviário que também busca atendimento na unidade, o volume de atendimento vem crescendo. Isso justificaria que Pirajá tivesse no hospital. Como nós não temos, a mudança de perfil da Unidade de Emergência de Pirajá para uma UPA tipo 3, faz com que os pacientes graves, que muitas vezes entravam em seus carros para chegar até o Hospital do Subúrbio ou ir para o Ernesto Simões, venham para essa unidade de urgência e emergência e consigam atendimento inicial, regulação e estabilização.
Jorge Andrade – Do ponto de vista administrativo-financeiro, como é que que você analisaria o suporte oferecido pelos Governo do Estado e Governo Federal? E do ponto de vista de equipamentos, como a unidade está preparada para atender a demanda?
Erenilson Café – Em termos de Governo Federal, nossa unidade de urgência não recebe recursos, porquê o Ministério da Saúde não reconhece as unidades de urgência e emergência como unidade de saúde passiveis de recebimento de recursos. Então, o que acontece, atualmente, todas as despesas são bancadas 100% pelo Estado da Bahia. Quando mudarmos, e temos lutado para mudar para a classificação de UPA Tipo 3 , aí começaremos a receber recursos federais. Porém, com os demonstrativos, que nós temos apresentado à Sesab, através dos indicadores de saúde oriundos do Gestão à Vista, a Secretaria entendeu que a nossa Unidade precisa ser equipada, porquê, além de atender muito paciente grave, tem alta resolutiva de casos. Então, hoje a unidade está sendo muito bem equipada. Nós temos 20 monitores, normalmente numa UPA não tem nem a metade. Estamos recebendo um monitor chamado monitor de PAI, que é um monitor invasivo de pressão arterial, disponível em Leitos de UTI. Assim, nós abriremos um leito de Semi-UTI dentro da unidade. Nós temos oito respiradores, normalmente as UPAS tem dois ou três. Temos Bombas de Infusão. Inclusive, as Bombas de Infusão que recebemos agora de são fruto de doação e o Governo do Estado compreendeu que Pirajá precisava receber esses equipamentos. São Bombas de Infusão de alta tecnologia, capazes de “perguntar o nome do medicamento”, o profissional confirma e o equipamento já atua na resolução da substância para paciente. Tornando o processo seguro para o paciente e de operacionalização bastante prática para o profissional. Recebemos macas de nova geração, as mesmas usadas em grandes hospitais particulares, e também duas camas elétricas para pacientes obesos. Então, em termos de equipamento, hoje a unidade está muito bem equipada. Inclusive, a quantidade de equipamentos que nós temos os hoje, muitos hospitais pequenos, geralmente localizados em cidades do interior, não tem.
Jorge Andrade – Do ponto de vista humano, você relatou a necessidade de humanização dos serviços de saúde, qual é a sua recomendação para a comunidade que busca atendimento nessa UPA Pirajá?
Erenilton Café – O lema que sigo, que trouxe para minha gestão aqui em Pirajá, “é Tempo de Humanizar”. Quando soube que vinha para aqui, eu tive muito medo. Pensei até em desisti. Eu vinha da Rede Privada e temia um choque entre as realidades.
Mas, quem me conhece sabe que tenho uma devoção muito grande por Irmã Dulce – Quando estava para vir para cá, eu ganhei uma imagem dela. Aí eu entendi o propósito de estar aqui.
Assim, o que eu peço a comunidade é também essa resposta de humanização para conosco. A compreensão da rotina desgastante dos profissionais, a luta para salvar vidas e o respeito a todos, dos médicos aos nossos preciosos atendentes de limpeza, administração, seguranças. O que vivemos aqui não é o momento fácil. É um momento de pandemia, que exige muito dos profissionais. Muitos deles, como eu e outros, com férias vencidas. Pesa, mas independente disso, estamos sempre aqui, dispostos a levar o trabalho muito a sério e fazer o melhor.
As pessoas precisam entender que, quando ela vem para aqui ocupar um médico, por exemplo, apenas para trocar uma receita, que poderia ser trocada em uma UBS. Ou quando vem em busca de atendimento para uma cólica menstrual ou por situações que podem ser tratadas nas Unidades Básicas de Saúde, acaba impedindo o médico e a equipe de ofertar a atenção de qualidade ao paciente que que realmente estão em uma condição de urgência ou emergência, cujos desdobramentos pode repercutir gravemente no quadro clinico e até evoluir para óbito.
Por exemplo, hoje nós temos um grande problema que ainda estamos estudando como resolver: Às vezes o médico está atendendo a um paciente com fratura exposta ou muitas vezes, está em meio a uma sutura. Mas, na recepção tem outro paciente, com quadro classificado com não urgente, gritando que quer ser atendido logo. Isso pressiona a equipe, tira a tranquilidade dos demais pacientes, e aí o médico acaba tendo que atender rápido aquela fratura ou aquela sutura. Esse tipo de situação pode reduzir a qualidade do atendimento. Por isso é importante conhecer as Classificações de Risco e confiar na equipe. Compreender que, sendo “ficha azul” pode esperar até 6 horas.
Tem pessoas que chegam aqui querendo exigir a distribuição de senha de atendimento, que não é padrão de atendimento de uma Unidade voltada para Urgência e Emergência. Não conseguem entender que aquele paciente chegou grave – com risco iminente de morte – e por isso teve atendimento imediato. Assim, o que pedimos para a população é a compreensão da finalidade da Unidade, atendimento prioritário para pacientes classificados como Amarelo e Vermelho ( Emergência e Urgência) e que nos ajudem a melhorar a cada dia e salvar mais vidas.