A dor é um sintoma que não agrada, mas traz o alerta de que algo não vai bem no organismo. A grande questão é que, em alguns casos, esse quadro é constante e ininterrupto, se tornando crônico. Para essas pessoas, existe até mesmo um marco especial no calendário: 17 de outubro é o Dia Mundial de Combate à Dor.
A data foi instituída há 16 anos pela International Association for the Study of Pain, a IASP, buscando chamar atenção às necessidades destes pacientes e alertar sobre quão sérias podem ser as consequências de conviver com este problema. De acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), mais de 60 milhões de brasileiros já são acometidos pela dor crônica.
“A dor, especialmente quando crônica, traz perdas emocionais, físicas, sociais e até mesmo financeiras. O indivíduo passa por dificuldades expressivas em manter uma rotina normal, algo que também impacta as relações sociais e de trabalho. Não é raro, por exemplo, ver casos que evoluem e trazem conjuntamente a depressão e isolamento”, conta Dr. Claudio Corrêa, neurocirurgião funcional e especialista em dor pela Associação Médica Brasileira (AMB), com mais de 30 anos de atuação neste campo.
Mas afinal, o que é dor crônica?
A dor é uma sensação desagradável que ocorre em resposta ao estímulo ou lesão de terminações nervosas sensitivas, podendo se apresentar em diferentes níveis, tipos e regiões do corpo, dependendo do que a ocasiona.
Pode aparecer na forma aguda ou crônica, onde se diferencia por tempo de
duração e causa. A primeira é, geralmente causada por inflamações, queimaduras, lesões ou traumas. Costuma ser curada em até 3 meses e são exemplos as fraturas, cólicas renais, cortes à faca, entre outros.
Já a dor crônica é aquela que perdura por mais de 3 meses e está frequentemente relacionada a uma disfunção ou lesão neurológica. Pode aparecer por diferentes fatores que interagem e favorecem sua cronificação, especialmente doenças prévias como sequelas do herpes zoster, neuropatia diabética, distonias, câncer, entre outras.
“É um tipo de dor que, na maioria das vezes, permanece mesmo após a sua causa ter sido tratada. Pode ser ocasionada por lesões permanentes nas estruturas nervosas ou mesmo não terem causa definida, impossibilitando a cura definitiva”, pontua Dr. Corrêa.
Qualquer pessoa pode ser afetada por dores crônicas, em todas as idades, mas elas são mais prevalentes à medida do envelhecimento ou do surgimento de outras doenças típicas, como as já citadas.
Seu impacto no cotidiano é tão intenso que interfere em todas as esferas da vida, como os hábitos básicos de se relacionar, comer e dormir. De acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), quase 50% dos pacientes com o diagnóstico de dor crônica possui algum transtorno do sono.
Tratamentos
Em estudos recentes, o canabidiol passou a fazer parte do leque de algumas indicações, sendo somado aos antidepressivos e anticonvulsivantes, medicamentos que atuam no sistema supressor da dor.
Recentemente, a partir de descobertas de dois estudiosos da dor que ganharam o prêmio Nobel de Medicina de 2021, deu-se início a um avanço para o desenvolvimento de medicamentos que passarão a atuar de forma direta no campo sensorial dos órgãos acometidos pela dor, beneficiando as condições de neuropatia de forma especial.
Além da via medicamentosa, a reabilitação física e o apoio psicológico também precisam ser integrados ao tratamento da dor crônica, cobrindo todas as necessidades funcionais. Quando as vias convencionais não surtem o efeito desejado, há opções cirúrgicas que passam a ser consideradas.
O que fazer além dos tratamentos convencionais?
As técnicas são indicadas levando em consideração o perfil da doença, grau de dor e impacto funcional observado no cotidiano do indivíduo, mas todos elas têm uma resposta significativa e ajudam na retomada da maioria das atividades, oferecendo maior autonomia e mais qualidade de vida.
Entre os métodos operatórios mais utilizados, estão:
Compressão do gânglio de Gasser: para fins específicos de tratamento da neuralgia do nervo trigêmeo (dor na região da face), é um método minimamente invasivo onde um fino cateter, com um pequeno balão em sua extremidade, é inserido e inflado na face ao nível do gânglio trigeminal. Das doenças crônicas, é o tratamento que apresenta resultado de cura em mais de 90% dos casos.
Cordotomia: é realizado um pequeno corte de fibras nervosas na área da medula espinhal, feito por radiofrequência. O objetivo é cessar a percepção da dor por meio da lesão da via condutora de comunicação da medula.
Rizotomia: também minimamente invasivo, o procedimento é especialmente indicado para a dor crônica de coluna. Coloca-se uma agulha com eletrodo sobre a raiz no nervo espinhal, disparando ondas de radiofrequência sobre a região e, desta forma, reduzindo a sensibilidade aos estímulos dolorosos.
Neuroestimulação cerebral: aplicada para diversos tipos de dor, atua com implante de eletrodos no cérebro que modulam as vias de transmissão da dor.
Para todos os casos, quanto antes for diagnosticado o problema, melhores serão os resultados.
E a fim de elucidar mais a respeito do universo da dor, o médico coordenou a produção de um episódio de podcast e um eBook especial sobre o tema.
Sobre o especialista
Dr. Claudio Corrêa
Com mais de 30 anos de atuação profissional, Dr. Claudio Fernandes Corrêa possui mestrado e doutorado em neurocirurgia pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. Especializou-se no tratamento da dor aliado a neurocirurgia funcional – do qual se tornou referência no Brasil e no exterior. É também o idealizador e coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, serviço que reúne especialistas de diversas especialidades para o tratamento multidisciplinar e integrado aos seus pacientes.
Currículo Lattes: http://buscatextual.