Depois de um começo de dia eufórico com a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), o mercado financeiro inverteu o sinal. O dólar fechou em alta de mais de 1% e a Bolsa brasileira caiu mais de 2%. Investidores atribuíram o movimento à realização de lucros, mas a piora dos mercados foi seguida por deterioração também no exterior.
O dólar subiu 1,39% e terminou o dia a R$ 3,7060. A volatilidade do dia fez com que a moeda fosse da mínima de R$ 3,5830 à máxima de R$ 3,7180 nesta segunda.
Já a Bolsa brasileira fechou em baixa de 2,24%, a 83.796 pontos. Durante o dia, chegou a subir mais de 3%, mas os ganhos não se sustentaram. A queda se acentuou no meio da tarde, quando as Bolsas americanas passaram a cair.
Para o operador de câmbio Jefferson Laatus, sócio fundador do Grupo Laatus, o mercado local passa por um processo de realização de lucros após a confirmação da vitória de Bolsonaro.
“Para entender o dia de hoje tem que olhar os últimos 10 dias. O mercado já tinha precificado a eleição de Bolsonaro com o dólar a R$ 3,70”, diz.
“Ele ainda não resolveu os problemas do Brasil”, acrescenta Laatus sobre sua cautela para quedas adicionais no valor da moeda.
Robert Awerianow, especialista em câmbio da Frente Corretora, destaca que no exterior, o mercado piorou para moedas emergentes. De uma cesta de 24 divisas desses países, o dólar avançou sobre 17 delas.
O real é a segunda que mais perde valor, atrás apenas do peso mexicano. Awerianow afirma que notícias no mercado mexicano afetaram a moeda e pioraram o cenário para emergentes nesta segunda.
O mercado observa ainda notícias do governo Bolsonaro sobre o mercado de câmbio. Nesta segunda, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), indicado como futuro ministro da Casa Civil, afirmou que a nova gestão dará mais previsibilidade para o câmbio, mas que não haverá meta para o valor da moeda. Ele não explicou o que seria feito para dar previsibilidade à cotação da moeda.
No final de semana, o presidente eleito afirmou que o Banco Central teria, além da meta de inflação, uma meta de câmbio. Atualmente, o Banco Central estabelece uma meta de inflação e toma as suas decisões de política monetária com foco nessa meta.
Lorenzoni fez outras declarações sobre economia e a política de preços da Petrobras.
Victor Candido, economista-chefe da Guide, avalia que os pronunciamentos frequentes do futuro ministro sobre temas econômicos começam a criar ruído no governo. “Uma coisa que precisa ficar claro é quem manda, o Onyx ou o Paulo Guedes”, diz.
Declarações de futuros ministros têm peso maior passada a eleição porque o mercado espera detalhamento das reformas prometidas por Bolsonaro, o comprometimento e a capacidade de aprová-las.
“Os detalhes da política econômica da nova administração ainda não estão claros e precisam ser conhecidos, uma vez que o gasto fiscal, a reforma da Previdência e o apoio político no Congresso serão desafios para 2019 e além”, escreveu a agência de classificação de risco Moody’s.
A agência Fitch disse que Bolsonaro tem uma agenda que favorece o ambiente de negócios, como a independência formal do Banco Central, redução e simplificação de impostos, reforma da Previdência, compromisso com o teto de gastos e consolidação fiscal rápida. “No entanto, os detalhes de como a administração planeja alcançar esses objetivos são limitadas.”
FOTOS Por: Arquivo/Agência Brasil REDAÇÃO Por: Folhapress