No dia 10 de março é celebrado o Dia Mundial do Rim, data dedicada a conscientizar e orientar a população sobre a Doença Renal Crônica (DRC), caracterizada pela lesão irreversível nos rins durante três meses ou mais. Se diagnosticada precocemente, a DRC pode ser controlada, mas em estágios avançados pode exigir um transplante renal. Em contexto de pandemia de Covid-19, no entanto, o número de transplantes caiu e fez crescer a lista de pessoas que esperam por uma doação de rim para recomeçar a vida.
Um levantamento do Ministério da Saúde indicou que em setembro de 2021 havia 53.218 pessoas aguardando por um transplante no Brasil. Dessas, mais de 30 mil estavam na lista de espera por um rim. A pandemia de Covid-19 influenciou esse quadro, não só pelo menor número de pessoas dispostas a fazer a doação, como também porque os transplantes são vetados quando o doador está contaminado pelo Coronavírus. Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram uma queda brusca no número de transplantes renais durante a pandemia, passando de 6.296 em 2019, 4.821 em 2020, para 3.304 em 2021, uma redução de quase 50%.
A médica nefrologista e coordenadora do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba (PR), Carolina Maria Pozzi, explica que a variante Ômicron mudou a expectativa de recuperação no número de transplantes em 2022. “Muitas pessoas faleceram na espera nesses tempos de pandemia, mas é muito importante lembrar que alguém que contraiu a Covid-19, mas não tem infecção ativa, pode ser uma potencial doador. Além disso, toda pessoa que pretende fazer doação é analisada integralmente, por meio de exames”.
Segundo Carolina Pozzi, é preciso reforçar a conscientização em torno da importância da doação de órgãos. “Com essa mobilização e o conhecimento adquirido da comunidade científica sobre a Covid-19, ainda mantemos a expectativa de aumento para este ano 2022. A população precisa ter consciência de que a doação salva muitas vidas”.
Depois de três transplantes, o recomeço
O publicitário Alexandre Barroso sabe bem o que é a experiência de esperar por um transplante, na incerteza sobre o futuro. Ele ficou quatro anos internado em um hospital, onde entrou em coma 20 vezes e recebeu três transplantes – dois de fígado e um de rim. “Foi bastante traumático. Passei dois anos esperando até conseguir um transplante de fígado, mas o resultado não deu certo, acabei perdendo o fígado e um rim. Assim, voltei para a fila à espera de uma doação”, relembra.
Só depois de mais dois anos de espera é que Barroso, finalmente, recebeu o transplante de um novo fígado e de rim. Desta vez, o desfecho da história foi positivo. “Foi uma experiência gratificante que me fez querer cuidar mais de mim. A doação de órgãos é uma forma de ressignificar vidas”. Atualmente, o publicitário viaja o Brasil dando palestras sobre o tema. Criou um grupo de acolhimento para pacientes e familiares. Por conta disso, decidiu mudar de profissão. “Me tornei psicanalista para fazer um trabalho mais direcionado. Além disso, sigo defendendo e incentivando a doação de órgãos. As pessoas precisam entender que essa é uma forma de continuar a vida”, completa.
A importância do exames pré-transplante
Bióloga, mestre em Genética, doutora em Imunologia de Transplante e responsável técnica do Laboratório de Imunogenética do Hospital Universitário Cajuru, no Paraná, Cristina von Glehn explica que, ao se tornar candidato a um transplante renal, paciente é inscrito no Sistema Nacional de Transplantes e precisa fazer exames, sendo os principais: o de tipo sanguíneo, o de tipagem HLA (Human Leucocyte Antigen) e Painel de reatividade de Anticorpos, que permitem entender como o sistema imunológico do paciente responde a organismos estranhos, neste caso, a um órgão novo. “Quando entra um doador no sistema, ele também é tipificado. Assim, selecionam-se os candidatos mais compatíveis com o doador”;
De acordo com Cristina, quando fora da família, raramente a compatibilidade entre doador e receptor é total. Daí vem a importância do teste: ele permite aos médicos fazer uma análise preditiva das chances de haver uma reação hiperaguda (rejeição imediata), acelerada (rejeição na primeira semana) ou crônica (rejeição que ocorre aos poucos). “Com essa informação, o médico vai avaliar se faz ou não o transplante. Se aceitar, vai precisar ter uma estratégia de imunossupressão para controlar a presença de anticorpos, mas ele também pode avaliar o risco e decidir que o paciente deve esperar outro órgão. Ou seja, o exame permite que se tenha o melhor órgão com a menor possibilidade de rejeição dos pacientes”.
Com a evolução das tecnologias na detecção de anticorpos, todos os exames necessários para transplante podem ser feitos em laboratórios, a partir da amostra de sangue. Para isso, são utilizados reagentes e equipamentos específicos para pré e pós-transplante e a Biometrix Diagnóstica é uma referência na área. “Ela tem muita qualidade e é uma grande parceira para o nosso laboratório. Oferecem reagentes que nos colocam no mesmo nível de laboratórios dos Estados Unidos e da Europa”, avalia Cristina.
Autorização familiar
Qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos. Para isso, basta ser maior de 18 anos, ter condições de saúde adequadas e passar por avaliação médica. É fundamental que a pessoa que deseja ser doadora de órgãos converse com sua família sobre a decisão, mesmo que tenha a informação registrada em documento oficial. Além da doação em vida, é possível doar os órgãos após a morte encefálica, quando há interrupção irreversível das funções cerebrais. Neste caso, é preciso que a família autorize o procedimento. Segundo o Ministério da Saúde, em 2021 foram registradas 5.857 mortes encefálicas no país, mas apenas 1.451 delas resultaram em doação de órgãos. Em mais de um terço dos casos (37,8%), houve recusa por parte das famílias. Se houver conscientização prévia e diálogo aberto entre o doador e seus familiares, há mais chances de que a doação de órgãos seja autorizada após o falecimento.