A Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) reagiu à declaração do presidente do banco, Pedro Guimarães, de que o trabalho home office para parte dos trabalhadores da instituição é uma “frescurada”. Para a Fenae, a afirmação mostra o desrespeito do governo e da direção da Caixa aos trabalhadores do banco e também à população durante a pandemia da covid-19. Na avaliação do presidente da federação, Sérgio Takemoto, a afirmação ainda demonstra que Guimarães desconhece a Caixa e o país.
“Os empregados do banco e a população brasileira são vítimas da ineficiência e da irresponsabilidade do governo ao centralizar na Caixa o pagamento do auxílio emergencial a mais de 60 milhões de pessoas”, afirma. “Construímos um protocolo de segurança à saúde dos bancários e da população e o home office (para 30% do quadro) é importante para evitar aglomerações e contaminações nas agências”, ressalta Takemoto.
A declaração de Pedro Guimarães ocorreu em reunião ministerial do dia 22 de abril, cujo vídeo foi divulgado na última sexta-feira (22). Segundo lembra Sérgio Takemoto, o home office foi uma das principais reivindicações da Fenae e de outras entidades que representam os empregados da Caixa, como o Comando Nacional dos Bancários, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e a Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa).
PROTOCOLO DE SEGURANÇA ENFRAQUECIDO — Na avaliação do coordenador da CEE/Caixa, Dionísio Reis, o discurso de Pedro Guimarães mostra “claramente” a motivação política do presidente do banco. Um dos exemplos é o abrandamento do protocolo de segurança contra o novo coronavírus.
Tal flexibilização, segundo Dionísio Reis, “coloca a Caixa em linha com a política irresponsável” adotada pelo governo federal. “O que guia essas questões todas são motivações políticas. Ele (Pedro Guimarães) está se promovendo tanto ao abrandar o protocolo quanto ao incentivar os empregados ao voluntariado e a trabalhar nas agências”, afirma.
O coordenador da CEE/Caixa questiona o real motivo pelo qual o banco enfraqueceu o protocolo justamente em um momento em que os casos de covid-19 dispararam. Dados do Ministério da Saúde mostram que o país contabiliza 374.898 casos da doença e 23.473 óbitos.
“Reduzir o protocolo de saúde e segurança num momento como o que vivemos é uma completa loucura”, afirma Dionísio Reis. “É uma triste amostra do que os trabalhadores representam para a direção da Caixa e para o próprio presidente do banco. (Para eles), não passam (os empregados) de mão de obra. Para piorar, essa atitude (abrandamento do protocolo de segurança) foi tomada sem qualquer negociação com as entidades representativas dos trabalhadores”, completa o coordenador.
ERRO GRAVÍSSIMO — A representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, afirma que a situação está cada vez mais difícil com a “política inconsequente” que o governo federal e a direção da Caixa estão adotando ao longo da pandemia. Para ela, foi um “erro gravíssimo” a declaração sobre o home office.
“Esse é um erro do governo e de todos aqueles que fazem parte do governo. Os empregados estão submetidos a uma grande pressão. Embora as filas de fato tenham diminuído nos últimos dias, os empregados estão trabalhando no feriado, aos sábados. Então, obviamente, quanto mais horas dedicadas ao atendimento ao público, mais riscos os empregados da caixa correm”, analisa Serrano.
CONTAMINAÇÕES E ÓBITOS — No vídeo gravado dia 22 de abril, o presidente da Caixa também afirma que 45 empregados do banco teriam sido infectados pelo coronavírus, em todo o país. Contudo, a Caixa não divulgou, até este momento, os números oficiais de contaminações e mortes entre os empregados.
A CEE/Caixa, juntamente com a Contraf-CUT, solicitaram os dados para a presidência do banco por meio de um ofício enviado no último dia 22. Ainda não houve retorno ao ofício.
PRIVATIZAÇÃO — Em outra declaração, Pedro Guimarães afirma que não vai dar “molezinha” a empresas ou setores que já estavam em dificuldades antes da pandemia. Conforme observa o presidente da Fenae, a Caixa é essencial para o desenvolvimento do país e a geração de emprego e renda.
Nesta pandemia, o banco público tem sido fundamental para a população. Apesar disso, o governo insiste na agenda de privatização, defendendo a venda de partes rentáveis da instituição — como seguros, cartões e gestão de ativos —, enfraquecendo o papel social da Caixa. Na última semana, o presidente do banco reafirmou os planos de venda.
Para Sérgio Takemoto, a direção da Caixa está preocupada apenas com o lucro ao invés de apresentar planejamentos para melhorar o atendimento à população e as condições de trabalho para os empregados. “Nós queremos a Caixa forte. Vendendo partes lucrativas, o banco não terá capacidade de executar todos os programas sociais tão importantes para a população, como o Minha Casa Minha Vida, o Fies e várias outras ações que são essenciais ao povo brasileiro”, reforça Takemoto.