Mulheres que atuam no meio cultural, produtoras e ativistas do campo da Cultura, uma mesa e um microfone. Foi o suficiente para a roda girar e as questões comuns, vivenciadas por todas, virem à tona. O debate aconteceu na noite desta quarta-feira (28/03), no Bar Mestiços (Praça da Sé), durante o ‘Elas na Roda: Mulher e Cultura – Produzindo Novos Lugares’. Uma realização da publicitária Luciane Reis e da antropóloga Naira Gomes, com apoio do presidente da Comissão de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, vereador Sílvio Humberto (PSB).
Mesmo com a proposta de levar o tema para um ambiente de descontração, a tônica do debate foi mesmo os entraves encontrados pelas mulheres, sejam elas artistas, produtoras ou ativistas. Mesmo diante de tantos reclames, caminhos também foram apontados, articulações foram delineadas e a construção dos ‘Novos Lugares’, proposta no tema da roda de conversa, foi esboçada.
As idealizadoras do evento se comprometeram a sistematizar o conteúdo e a articular com o vereador, a formulação dos pleitos em projetos de Lei ou outros instrumentos legislativos, que possibilitem o enfrentamento das amarras elencadas pelas participantes. Naira Gomes defendeu, em uma das suas participações, a importância destes momentos de troca, “onde as mulheres possam falar abertamente sobre os seus problemas e construírem juntas soluções para os superarem”.
Panorama – Um conjunto amplo e diverso de temas foi surgindo na fala de cada uma das mulheres. Questões como a ausência de políticas voltadas para a Juventude e os impactos deste vazio nos índices de violência foram destacadas pela produtora cultural Jussara Santana. A falta de valorização de símbolos importantes da cultura do estado, como o acarajé e a baiana, foi trazida pela presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Rita Santos. E o racismo institucional foi o mote da fala de Aquataluxe Rodrigues, da Juventude do Olodum.
Na participação da produtora da JAM no MAM e do Micro Trio, Cacilda Povoas, um panorama sobre a circulação dos recursos destinados para a Cultura no estado e a proposta de revisão do modelo de editais, visando o aprimoramento das políticas culturais. As negações e resistências para o florescimento do turismo étnico-religioso foram pautadas pela empreendedora Nilzete dos Santos, proprietária da Afrotours Viagens e Turismo. “As pessoas vêm para a Bahia em busca dos signos difundidos por Jorge Amado e Pierre Verger. O turismo étnico-religioso é o principal capital turístico do nosso estado”, defendeu.
A bailarina e cantora Nara Couto lamentou a falta de apoio e de uma estrutura mínima de produção para artistas iniciantes. “Muitos talentos se invisibilizam”, alertou. Além do vereador Sílvio Humberto, outros homens envolvidos com a Cultura também marcaram presença no evento, a exemplo dos presidentes dos blocos afros Olodum e Ilê Aiyê, João Jorge e Antônio Carlos dos Santos – Vovô, respectivamente.