A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (1º), audiência pública para debater os impactos econômicos da pandemia nos festejos juninos. Durante a reunião, que contou com a presença de artistas, empresários, agentes culturais, a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) afirmou que encaminhará uma proposta com as principais reivindicações dos atores ligados às festas de São João ao presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, Wellington Dias (PT-PI).
“Vamos buscar uma audiência com o governador Wellington para entregar essa carta, onde vamos sugerir a realização de lives remuneradas, o que propiciará um apoio aos músicos e artistas regionais, parcelamento e redução de impostos e acesso desburocratizado às linhas de crédito concedidas no Perse, que é o programa de recuperação do setor de eventos”, disse Lídice.
Somente na Bahia, os festejos de São João são responsáveis pelo incremento de R$ 700 milhões na economia. Lídice lembrou que a festa envolve dezenas de atividades turísticas direta e indiretamente. “Ela gera riquezas que vão desde a agricultura familiar até a venda de eletrônicos”, disse.
A deputada lembrou ainda que outro setor que é impulsionado é o das pequenas indústrias de licores, que empregam centenas de pessoas, sobretudo entre os meses de abril e julho. “O setor de entretenimento também movimenta grandes recursos. Uma banda de forró de médio e grande portes empregam de 20 a 50 pessoas. Já o setor cultural traz um grande impacto econômico e social, pois para alguns desses atores o São João representa a principal forma de receita no ano, sobretudo os artistas e músicos regionais. As quadrilhas juninas, que também contribuem para a geração de emprego e renda foram bastante impactadas, como lembrou Sérgio Pereira, da Confederação Nacional que representa essas agremiações. “Sabemos que não há condições sanitárias para apresentações, mas precisamos ser vistos”, disse.
Presente na audiência, o prefeito da cidade de Amargosa, na Bahia, Júlio Pinheiro, lembrou que as festas de São João representam 10% do PIB anual do município, estimado em R$ 300 milhões. “São R$ 30 milhões que são distribuídos no comércio, hotelaria, alugueis de temporada, dentre outras atividades”, disse Pinheiro.
Artistas – A audiência pública contou ainda com a participação de forrozeiros como os baianos Adelmário Coelho e Leo Macedo, da Banda Estakazero, além de Armandinho do Acordeon, da Fulô de Mandacaru, que fez uma apresentação musical na sessão da Comissão de Cultura da Câmara. Adelmário e Léo pontuaram a necessidade de aportes financeiros do Poder Público para socorrer a classe artística. “Fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar. Perdemos 100% da nossa receita”, pontuaram.
Já Armandinho apresentou uma proposta com seis itens que vão desde a acesso a linhas de crédito e refinanciamento de impostos à criação de um auxílio-emergencial, no valor de R$ 600, para forrozeiros e derrubada de vetos da Lei Aldir Blanc.
Joana Alves, da Associação Cultural Balaio Junino, lembrou que na Paraíba há uma iniciativa que garante um cachê de sobrevivência para artistas que se apresentam virtualmente. “Espero que a Bahia e os outros estados encampem essa iniciativa”, disse.
Pesquisadora do Observatório da Economia Criativa da Universidade Federal da Bahia e uma das coordenadoras do estudo que avaliou o impacto da pandemia nos festejos juninos, Carmen Lima, lembrou que 92% das bandas e artistas tiveram seus contratos cancelados em 2020. Além disso, mais de 60% dos profissionais de cultura ficaram parados. “Vale ressaltar ainda que empresas como cervejarias e supermercados chegam a ter um faturamento maior no São João do que em qualquer outra festa”, explicou.