A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) realizou, na manhã desta quarta-feira (31), através da Comissão Especial para Avaliação dos Impactos da Pandemia da Covid-19, mais uma audiência pública. Desta vez, o tema “Sequelas cardiovasculares devido à infecção pela Covid-19” foi tratado pelo convidado, o médico cardiologista André Almeida, mestre e doutor em medicina interna pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, pesquisador do pós-doutorado do Departamento de Imagem Cardiovascular no Johns Hopkins Hospital em Baltimore (EUA) e membro da Academia de Medicina da Bahia.
A audiência virtual, conduzida pelo presidente do colegiado, deputado Angelo Almeida (PSB), foi realizada por meio da plataforma Zoom. O encontro reuniu dezenas de pessoas interessadas no tema proposto. Até a última terça-feira (30), a doença infecciosa já havia tirado a vida de 317.646 pessoas no Brasil. Na Bahia, os números indicavam 15.170 mortes.
Em sua apresentação, o cardiologista André Almeida traçou um quadro preocupante com estudos que indicam as sequelas que podem atingir o coração de pessoas que tiveram a Covid-19. Inicialmente, o especialista mostrou que o grau de transmissão do novo coronavírus é “absurdamente alto”, com número básico de reprodução de 2,78. “Isso quer dizer que cada pessoa infectada tem a capacidade de contaminar quase outras três”, exemplificou.
O pesquisador explicou que houve um aumento, em todo o Brasil, na mortalidade por doenças cardiovasculares durante a pandemia. Outro detalhe destacado é que ocorreu crescimento de forma considerável na letalidade hospitalar. “Era um índice que se encontrava estável entre os anos 2016 e 2019. Em 2020, com a pandemia, aumentou consideravelmente”, disse. Em paralelo, o médico explicou que estudos indicam a redução da assistência à saúde cardiovascular da população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ao falar dos impactos causados diretamente pelo coronavírus no coração, André Almeida afirmou que a Covid-19 é uma doença que aumenta fundamentalmente a possibilidade de trombose (coágulos), bem como as chances de arritmia e miocardite. Segundo o médico, estudos apontam que a probabilidade de óbitos por Covid-19 entre pessoas com doença vascular diagnosticada é de 10,5%. Entre portadores de diabetes, o índice é de 7,3%, enquanto para portadores de doença respiratória crônica o percentual é de 6,3%.
“O vírus pode, por si só, atacar o coração do paciente. Se a pessoa tem problema cardíaco, o quadro é pior, pois aumenta a chance de coágulo e lesão nas artérias. Com um processo inflamatório no coração, a pressão pode cair demais, pode ocorrer incompatibilidade de oferta e demanda de oxigênio no coração”, relatou o cardiologista. De acordo com o profissional de medicina, entre as manifestações cardiovasculares da Covid-19 há ainda o risco de infarto do miocárdio, lesão direta do coração, arritmia e insuficiência cardíaca.
André Almeida mostrou estudo que indica ainda a presença de alguns sintomas pós-infecção que estão associados ao coração. “Cerca de 50% dos pacientes na fase tardia continuam tendo falta de ar, quase 60% sentem fadiga, e 30% têm dor no peito. Tudo isso pode estar associado ao coração. Assim, temos que nos preocupar, porque muita gente está saindo da Covid-19 e não está fazendo exame depois”, disse.
Segundo o cardiologista, entre as sequelas tardias da Covid-19 no coração está a cicatriz no coração. A inflamação pode ser identificada com ressonância magnética. “Esse é um problema que representa risco de arritmia e morte súbita em pessoas que fazem atividade física”, alertou. Um estudo realizado com 26 atletas que tiveram Covid-19 nos EUA, de forma discreta ou assintomática, mostrou que 15% tiveram miocardite e 30% apresentaram cicatriz no coração.
Para Angelo Almeida, presidente da Comissão Especial na ALBA, os dados apresentados pelo especialista são de grande importância. “Esse é um tema muito preocupante e sabemos da necessidade de políticas públicas mais alinhadas com a ciência. Vimos aqui informação muito valorosa”, disse o parlamentar, que agradeceu especialmente ao presidente do Legislativo, Adolfo Menezes (PSD), pelo apoio aos trabalhos do colegiado.
Também presente ao encontro virtual, a deputada Fabíola Mansur (PSB) relatou que teve Covid-19 de forma grave e ficou 13 dias internada. Agora, 120 dias depois, a socialista conta que ainda sente cansaço e dor no peito em algumas atividades. Assim, a legisladora quis saber qual a importância de se fazer a ressonância do coração, bem como a fisioterapia, tempos depois da infecção. Segundo o cardiologista, é preciso avaliar cada caso. “Sabemos que temos o mundo ideal e o mundo real. Não dá para sair fazendo ressonância em todo mundo. Um paciente que continua, depois de meses, sentindo fadiga, tem o olhar especial. Se os eletrocardiogramas de antes e depois da Covid-19 mudaram, são passos que antecedem a realização da ressonância. No entanto, é um exame caro que não está acessível para muita gente infelizmente”. Em relação a fisioterapia, o profissional também fez a ressalva de que tudo depende da evolução de cada paciente. “Se tem melhora gradual, é sinal que está tendo resultado. Em média, é recomendado fazer durante dois a três meses depois, mas cada caso é um caso”.
O professor Antônio Lopes, presidente da Academia de Medicina da Bahia, fez elogios à apresentação do confrade. “Essa é uma reunião muito informativa, é um trabalho extraordinário da Assembleia. Talvez devesse ser mais difundido para a sociedade, sem politização”, registrou. Também professora e uma das fundadoras da Academia de Medicina da Bahia, a médica Eliane Azevedo destacou o caráter didático da palestra feita por André Almeida. “É impossível entrar em um diálogo com o doutor sem que a gente saia sem aprender algo. Aprendi muito na sua apresentação e vejo um alerta para que outras especialidades médicas fiquem atentas para essa questão de possível síndrome crônica pós-coronavírus”, disse.
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