BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio às críticas de atraso para definir o “dia D” e a “hora H” para início da vacinação, o governo negocia aviões para buscar as doses das primeiras vacinas de Oxford que devem ser aplicadas no Brasil e também insumos para produção de novos imunizantes contra a Covid.
A ideia é enviar dois Boeings para trazer o material. Um deles iria à Índia para pegar as 2 milhões de doses prontas que devem ser entregues pelo Serum Institute, um dos centros vinculados à AstraZeneca para produção da vacina de Oxford. Já o outro iria à China para buscar a matéria prima que deve ser usada para produzir as demais doses no Brasil, por meio da Fiocruz, que tem um acordo com a farmacêutica.
Integrantes da Saúde querem que o avião que vai buscar as doses já prontas parta até sexta-feira (15), segundo a reportagem apurou. Já a Fiocruz informou oficialmente que a expectativa é de que a chegada das vacinas ocorra “ainda na próxima semana”.
Apesar da previsão, o governo não fechou ainda todos os detalhes da logística e não definiu a empresa que vai fazer a viagem. A ideia é usar voos comerciais, cujos aviões seriam mais rápidos que os da FAB (Força Aérea Brasileira).
Enquanto não fecha essa busca, uma equipe do ministério já prepara materiais publicitários para divulgar a chegada das vacinas ao Brasil. O grupo estuda colocar uma logomarca nas aeronaves e usar a mensagem “Somos todos uma só nação”, slogan usado no anúncio do plano nacional de vacinação.
Governadores avaliam que o ministério tem pressa para trazer a carga ainda na tentativa de iniciar a imunização com as doses da AstraZeneca antes de o governador João Doria (PSDB) começar a vacinação em São Paulo com as do Butantan – que agora também devem fazer parte do plano federal. Ambas as vacinas, no entanto, ainda dependem de aval da Anvisa para serem aplicadas. Atualmente, a agência avalia pedidos de uso emergencial dos dois laboratórios.
As negociações para que a Fiocruz pudesse importar as 2 milhões de doses já prontas começaram em dezembro. Na época, o governador paulista já tinha anunciado que pretendia iniciar a vacinação no estado em 25 de janeiro, e o ministério ainda não tinha previsão de data para a campanha nacional.
A medida foi a alternativa encontrada pelo governo para antecipar o início da estratégia com a vacina de Oxford, uma das principais apostas do governo para a vacinação em massa.
Até então, a Fiocruz previa entregar, em 8 de fevereiro, as primeiras doses de um acordo que envolve produzir 100,4 milhões no primeiro semestre.
Com as doses importadas, a expectativa do Ministério da Saúde é que seja possível iniciar a vacinação perto do dia 20 de janeiro. Sem conseguir fechar datas precisas, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta segunda (11) que a estratégia deve iniciar “no dia D, e na hora H”.
Segundo a Fiocruz, as doses devem chegar por meio do aeroporto Galeão, no Rio de Janeiro. No mesmo dia, elas seguem para o laboratório Biomanguinhos, da fundação, para rotulagem. No dia seguinte, seguem para a distribuição no país, o que deve levar entre quatro a cinco dias, segundo o ministério.
Em nota, a fundação diz ainda que aguarda informações da AstraZeneca e das autoridades regulatórias da China, que têm protocolos específicos para exportação da carga, para confirmar a data de chegada dos primeiros insumos para produzir a vacina também no Brasil.
Com o início da produção, as entregas devem ocorrer de forma escalonada, diz a fundação. A expectativa é atingir a marca de 50 milhões de doses até abril e 100,4 milhões de doses até julho de 2021.
As empresas comerciais se colocaram à disposição para ajudar na distribuição de vacinas assim que o país tiver as primeiras doses. Além delas, a FAB também auxiliará com aeronaves.
O Brasil já contou com a ajuda das aéreas no ano passado quando foi buscar kits de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) na China. Agora deverá repetir a parceria.
Apesar de serem 2 milhões de doses que serão trazidas ao Brasil, segundo integrantes do Ministério da Saúde, a carga é pequena. Bastariam em torno de sete pallets para carregar o material. Há necessidade de atenção, de acordo com técnicos da pasta, com as condições de armazenamento – no dia a dia, a a vacina de Oxford exige temperaturas de 2 a 8 graus Celsius.
As vacinas da Coronavac, produzida pelo laboratório Butantan, por exemplo, foram transportadas ao Brasil por um Boeing 777F da Turkish Airlines.
O avião que trouxe as primeiras 120 mil doses do imunizante chegaram ao Brasil no dia 19 novembro, após decolar da China e fazer escalas na Turquia e nos Estados Unidos antes de pousar no aeroporto de Guarulhos.
O material viajou em uma cabine resfriada a -8 graus. A logística e articulação para que os voos da Turkish trouxessem as vacinas foram feitas pelo governo de São Paulo.
O Ministério da Saúde foi procurado para falar a respeito da logística para trazer as vacinas, mas não respondeu as perguntas da reportagem.