A China tem comprado grandes volumes de soja do Brasil, algo atípico para esta época do ano. O país asiático precisa de soja para alimentar os rebanhos de suínos em expansão, e novembro é o melhor momento para os Estados Unidos venderem seus grãos, no término da colheita. A oferta de soja está no pico, e os preços dos EUA deveriam ser os mais atrativos do mundo.
Mas, neste ano, a soja do Brasil está ainda mais barata, competindo com a principal janela de vendas dos EUA. Na semana passada, a China comprou pelo menos 30 navios de soja americana e brasileira, com mais da metade vindo do Brasil, segundo pessoas a par do assunto. A maior parte das cargas será enviada em dezembro e janeiro, disseram as fontes.
Esse movimento mostra que o Brasil, já o maior exportador, se torna cada vez mais competitivo nos mercados mundiais.
Essa atípica mudança nos fluxos de comércio global pode levar à queda dos preços mundiais da soja. Se essa tendência persistir e o Brasil roubar participação de mercado dos EUA, os estoques americanos podem subir, o que derrubaria as cotações na Bolsa de Chicago, principal referência para os preços globais.
Preços mais baixos da soja poderiam aliviar parte da pressão inflacionária sobre os alimentos, uma vez que a commodity tem grande peso nos custos da criação de animais. Os futuros da soja em Chicago já acumulam queda de cerca de 25% em relação à máxima de maio.
“O plantio rápido da safra brasileira e a expectativa de grande safra e colheita cheia já na virada do ano têm contribuído para pressionar as cotações na Bolsa de Chicago, já que os EUA podem perder terreno nas exportações para o Brasil”, disse Daniele Siqueira, analista da AgRural.
No Mato Grosso, maior produtor de soja do país, a colheita deve começar por volta do Natal. Com isso, os embarques da nova safra poderiam ser iniciados na segunda quinzena de janeiro, de acordo com Siqueira.
Desvalorização cambial
A soja brasileira está cada vez mais competitiva em comparação com os EUA, o segundo maior exportador. Os grãos do Brasil ganham espaço no mercado mundial porque vários custos, como terra, mão de obra e combustível, são mais baratos em relação a outros produtores. Além disso, o país se beneficia da alta do dólar. Os embarques do Brasil somaram 1,5 milhão de toneladas nos primeiros 12 dias de novembro, acima de todo o volume embarcado no mesmo mês do ano passado.
Já para as tradings nos EUA, as exportações perderam atratividade devido à alta recente do óleo de soja, que elevou a demanda para processamento da oleaginosa. O aumento da demanda por biocombustíveis e óleo de cozinha, no entanto, não deve compensar o menor ritmo das exportações, segundo Karl Setzer, analista da AgriVisor.
“Essa demanda doméstica pode diminuir o impacto da desaceleração nas exportações, mas, infelizmente, não vai compensá-la completamente”, disse Setzer na terça-feira em nota a clientes.