Foi uma ligação de poucos minutos, mas o suficiente para impedir que o trauma de perder um ente querido para a Covid-19 seja maior. A jornalista e ativista animalista Silvana Andrade travou uma batalha para conseguir se despedir por videochamada de sua mãe, a cearense Maria Albani, que morreu de coronavírus aos 93 anos, em abril do ano passado.
Para que ninguém precise passar pela dor de não dar o último adeus, Silvana coletou 120 mil assinaturas em uma petição online, hospedada na plataforma Change.org, e sensibilizou o deputado federal Célio Studart (PV-CE) a elaborar um projeto de lei para implementar o direito da videochamada a pacientes hospitalizados. O PL 2136/2020 foi aprovado pela Câmara, no último dia 30, e agora segue para votação no Senado Federal.
Em muitos casos, a pandemia faz com que a última vez que um familiar veja o seu parente, infectado por coronavírus, seja na hora de deixá-lo na porta de um hospital. Silvana acredita que essa situação pode e deve ser diferente por se tratar de um direito humanitário.
Quando soube que o quadro de saúde de sua mãe se agravava na UTI de um hospital em Recife (PE), Silvana solicitou que uma chamada de vídeo fosse feita para que pudesse ver o rosto de Maria Albani pela última vez e dizer suas palavras de despedida. Depois de ouvir da enfermeira que não seria possível, a jornalista acionou políticos e a imprensa para que seu apelo fosse atendido. Agora, luta para que a “despedida virtual” seja um direito, e não um favor.
Mesmo em meio a cenários caóticos no sistema de saúde, a jornalista acredita que a humanização deve ser preservada e buscada, visto que a pandemia, por si só, já traz muito sofrimento. Depois do caso de Silvana, o Governo do Estado de Pernambuco demonstrou que o projeto é possível: criou o programa “visita.com” para implementar a videoconferência entre pacientes internados com o novo coronavírus e seus familiares, inclusive na UTI. Em Fortaleza (CE), o Instituto Doutor José Frota (IJF 2) também adotou o procedimento.
O Ministério Público do Estado de Pernambuco (MP/PE) também se manifestou favoravelmente à medida. “Não precisamos tornar essa pandemia ainda mais cruel do que já é. Aliás, precisamos com ela nos tornar mais humanos”, diz trecho do abaixo-assinado que segue aberto na Change.org para reunir mais apoiadores em torno da causa. Se aprovada, a lei da despedida virtual deve receber, como homenagem, o nome de dona Maria Albani.
A petição também tem coautoria da estilista e escritora Vana Lopes e da ativista em Direitos Humanos Maria do Carmo dos Santos, ambas do Grupo Vítimas Unidas, fundado em 2011 para apoiar e acolher vítimas do ex-médico Roger Abdelmassih. A causa ainda é apoiada por pessoas públicas, promotores e procuradores de justiça, atrizes, médicos e ativistas.