“Se eu cheguei até aqui foi por causa do meu povo. É por isso que eu estarei sempre junto a eles, defendendo a minha gente”. É assim, com muito orgulho, que o jovem Kwãhi Pataxó, de 19 anos, define o sentimento e a motivação de poder contribuir com o respeito aos direitos e garantias dos povos indígenas brasileiros.
Estudante do segundo semestre do curso de Direito, na Universidade Federal da Bahia, o jovem ficou conhecido nacionalmente ao participar, há duas semanas, do quadro ‘Quem quer ser um milionário?’, do programa Caldeirão do Huck, da TV Globo.
Foi a destinação do prêmio de R$ 50 mil, conquistado ao participar do game de perguntas e respostas, que chamou a atenção: Kwãhi, registrado como Marcos Davi, pretende construir uma sala de informática na Aldeia Pataxó Juerana, localizada no município de Santa Cruz Cabrália, no extremo sul da Bahia.
“Esse sempre foi um objetivo que eu tive e apresentei como projeto para participar do programa. Eu vi a necessidade de facilitar o acesso à informação dentro da comunidade, porque senti isso na pele, então resolvi utilizar esse recurso para ajudar. Já comecei a dinamizar e espero que um dia isso possa ser espalhado para outras comunidades que ainda são carentes nesse sentido”, pontua o jovem estudante.
Além do gosto pela carreira jurídica, Kwãhi conta que a escolha pelo curso de Direito se deu com o objetivo de contribuir com a luta da sua aldeia, que está localizada em área ainda sem demarcação, e dos povos indígenas. “Houve um tempo em que nosso povo voltou a atenção para cursos como pedagogia, por exemplo, porque tínhamos um déficit na carreira de professores indígenas. Isso foi um avanço muito grande, especialmente na minha região, e hoje nós estamos buscando esse avanço na área do direito”, explica.
Para o jovem Pataxó, a educação é a principal arma contra os retrocessos e ameaças que os povos indígenas podem enfrentar. Ele conta que os professores indígenas sabem balancear a educação científica e a educação cultural de maneira muito positiva.
“Eu sou um exemplo de como a educação transforma e a universidade apresenta uma gama de conhecimento interminável. Eu sei que, agora, estou aqui estudante, mas eu vou voltar para ajudar o meu povo”, conta Marcos, cuja avó é cacica da aldeia e o estimulou desde cedo a participar ativamente dos desafios e lutas do povo indígena.
Avanços
A educação indígena e a formação permanente de professores foram avanços importantes, segundo o coordenador de Políticas para os Povos Indígenas da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), Jerry Matalawê. “A Bahia é uma das pioneiras no Brasil, especialmente pelo trabalho desenvolvido pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb)”, explica.
O coordenador também avaliou positivamente a participação do jovem no programa da TV Globo, afirmando que “isso dá visibilidade à luta indígena num momento delicado no cenário nacional”. Para Matalawê, a Bahia tem avançado no diálogo para a solução de conflitos e questões envolvendo a falta de dermacação de terras, que é competência do Governo Federal.
No final do mês de agosto, o Governo da Bahia realiza, por meio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), três edições da Caravana da Justiça Social. O mutirão de serviços gratuitos chega a Camacan, Pau Brasil e Santa Cruz Cabrália. Neste último município, a caravana será realizada na Aldeia Vermelha, beneficiando as comunidades indígenas da região, entre elas a Aldeia Juerana.
“Kwãhi é um exemplo e deve ser parabenizado, especialmente na semana em que comemoramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas (9 de agosto). Aqui na Bahia, nós vamos continuar trabalhando pelo respeito, pela cidadania e por mais justiça social para todas as pessoas, sem exceção. A Caravana da Justiça Social é uma ação exitosa e, tenho certeza, será extremamente importante para todos os povos indígenas do Extremo Sul da Bahia”, pontua o secretário da Carlos Martins.
Crédito da imagem: TV Globo