“Eu queria dizer aos movimentos sociais: muito obrigado por realizarem esse encontro. Eu conheço uma boa parcela de vocês, são as pessoas que quando a gente governa não viram governistas, continuam com o mesmo compromisso com o movimento social. Sei que vocês já fizeram manifestações contra o Alckmin, quando ele era governador de São Paulo e contra mim quando eu era presidente da República. E eu nunca pedi para vocês deixarem de fazer manifestação. Porque o compromisso de vocês não é com o presidente que vocês elegem, mas com o movimento que vocês participam, com as reivindicações que vocês defendem. Se não fossem vocês, certamente a gente não faria tudo que a gente faz”, afirmou Lula.
Segundo o ex-presidente, a participação dos movimentos será essencial, não apenas para movimentar as bases durante a campanha eleitoral que começará em agosto, mas também para que um eventual governo mantenha as pautas deles sempre em mente.
“O que eu quero de vocês é um compromisso. Se a gente voltar, vou precisar do apoio de vocês para governar. Mas o compromisso de vocês também é com as pessoas que vocês representam. Sem vocês reivindicarem, sem vocês escreverem o que querem, sem vocês cobrarem, a gente não faz o que precisa ser feito. Eu nasci no movimento sindical e sei que a gente não pode abdicar da nossa luta. Então vocês não se incomodem de ser duros cobrando da gente”, disse.
Lula falou que sabe da dura missão que terá caso volte a governar o país, para promover um processo de reconstrução. “Ouvindo o discurso de vocês, estava imaginando o que está me esperando, se voltar a governar esse país. Esse povo está com sede, está desde 2016 querendo beber um pouco de democracia, de participação, de respeito, de dignidade, e não deram a eles”, ressaltou.
União de entidades, sindicatos e partidos
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, relembrou a importância dos diversos movimentos populares que construíram o ato em outros momentos, como no enfrentamento ao golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e na vigília em apoio a Lula em Curitiba.
“É emocionante ver todos vocês aqui, quantos companheiros e companheiras que aqui estão. Quantos de vocês encontrei na vigília, nas ruas. Hoje estamos aqui, firmes e estamos fortes, estamos do lado da luta do povo, a esperança de ter o povo feliz de volta. É uma satisfação estar aqui hoje com vocês. Vamos ter nessa caminhada pela primeira vez a unidade do movimento popular, com 87 entidades, assim como temos a união do movimento sindical. Assim como temos a unidade de praticamente todo o campo progressista”, comemorou ela.
O presidente do Psol, Juliano Medeiros, um dos partidos que compõem o movimento Vamos Juntos Pelo Brasil, também parabenizou os movimentos e entidades por sua luta. “Estou vendo companheiros e companheiras que conheço e admiro. Vamos estar com a militância que constrói o movimento social. Queria agradecer, aqui estão os movimentos que tentaram viabilizar o impeachment desse governo genocida”, recordou.
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, falou da força dessa união entre diversos componentes dos movimentos sociais. “É um momento histórico, com as principais lideranças dos maiores movimentos populares. É assim que se faz um programa, não é fazendo motociata nem subindo em lancha, mas gente do povo. Aqui se constrói o programa de um governo popular, onde todos podem participar. Chega de sofrimento, de exclusão, de ódio, de violência, de morte, de desemprego, entre os jovens são 30% de desempregados. na saúde o negacionismo. uma regressão na educação”, declarou.
Comemoração e reivindicações
Os representantes dos diversos movimentos populares discursaram na abertura do evento. A primeira a falar foi Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres. Ela saudou as diversas entidades e falou da importância da união de todos em torno de um projeto comum para melhorar o Brasil.
“Hoje é um dia histórico para nós, dos movimentos. Estamos na luta há muitas décadas e sabemos que os problemas que queremos resolver, da nossa gente, do nosso dia a dia, são problemas sistêmicos e por isso temos que enfrentar esse modelo. Aqui temos movimentos representando pessoas de todo o Brasil. Entendemos que estamos diante de uma oportunidade única na história deste país”, declarou.
O coordenador-geral da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, falou sobre o trabalho e a importância do documento com propostas entregue a Lula. “Nos últimos 3 meses, fizemos reuniões com 87 entidades e redes de movimentos populares que subscrevem esse documento, que chama “Superar crise e recuperar nosso país”. Ele é muito importante porque nasce e é sustentado pelo segmento que mais tem ligação com a população, que são os movimentos populares. Nunca antes tantos movimentos se uniram em torno de um único projeto”, ressaltou.
Sidnei Pita, representante da coordenação da União Nacional por Moradia Popular (UNMP), lamentou o fim do Minha Casa Minha Vida. “É muito engraçado o pessoal perguntando como é o governo hoje e como foi o governo do PT na questão da moradia. Nenhum trabalhador consegue esquecer o que de fato foi o programa Minha Casa Minha Vida, foi muito importante, inclusive na criação da autogestão dos projetos”, relatou.
A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, falou sobre a importância que a juventude brasileira terá para o futuro e os ataques à educação. “Vivemos uma crise das mais profundas, que alerta a necessidade de rediscutir o Brasil, o genocídio do povo negro, os ataques à educação, às escolas, a falta de emprego para a juventude. Menosprezam a juventude brasileira, a mesma que tirou 2 milhões de títulos para as eleições. Queremos um plano social justo, que inclua a educação e garanta mais direitos pro nosso povo”, disse ela.
Em uma rápida declaração, o vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, ressaltou a necessidade de voltar a criar postos de trabalho no Brasil. “Tem uma coisa que une todos e todas neste evento, é o fato do Brasil não ter empregos. Para ter moradia, para ter acesso à cidadania, é necessário ter empregos e o Brasil não tem, esse governo excluiu o trabalhador da possibilidade de ter emprego”, protestou.
Representando os povos indígenas, quilombolas e povos originários, Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) disse que o destaque da luta dos movimentos é um “reconhecimento pelos enfrentamento que temos feito contra o genocídio indígena no Brasil, contra a desigualdade, a destruição de nossas florestas, de nossos territórios. Lutamos todos os dias contra o garimpo ilegal. Queremos estar juntos na reconstrução deste país, que tenha a nossa cara”.
Bruna Benevides, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), representou as organizações do movimento LGBTQIA+ e se disse muito feliz em participar do ato. “Nos organizamos para criar uma política que inclua nossos corpos, nossas cores, nossos sonhos, nossa vontade de viver. Somos quase 10 milhões. Nós existimos, não somos uma população invisível, somos invisibilizadas.. Não queremos só ser chamadas para a festa, queremos ser chamadas para dançar e escolher a música”, decretou.
Em seguida, a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Nascimento, pediu um minuto de silêncio para homenagear Genivaldo de Jesus Santos, morto há dois dias dentro de uma viatura da PRF em Sergipe, e as vítimas da chacina durante uma operação policial na Vila Cruzeiro, no Rio, na terça-feira.
“Estamos aqui para denunciar esse projeto de genocídio. No mês da abolição inconclusa, é preciso falar que temos sofrido racismo há mais de 520 anos. Não é por acaso que a mesma bala que matou Marielle foi encontrada na chacina de Barueri. Vai ser necessário rever a política de drogas no Brasil, o encarceramento em massa. Nossas lutas estarão nas ruas”, garantiu ela.
A representante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Jô Cavalcanti, também falou da importância da união de tantos movimentos para as eleições. “Hoje é um dia histórico, porque esses movimentos sociais acreditam que a esperança pode chegar. A gente acredita que a esperança pode voltar ao Brasil. Pessoas estão sem direitos em todo o país nesse governo”, criticou.
Em nome do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Keli Mafort priorizou a defesa da agricultura familiar e da reforma agrária, como forma não apenas de combater as desigualdades no campo, mas também para reduzir o problema da fome no país. “Somos produtores de comida de verdade, não de commodity, só voltada para o lucro, a especulação e a exportação. Queremos que o governo seja capaz de implementar essas propostas. Regular o agronegócio, enfrentar a fome, o latifúndio, precisa ter reforma agrária”, pediu.