Os analistas que mais acertaram as projeções econômicas no Boletim Focus, do Banco Central, preveem mercado de trabalho pouco aquecido em 2018, com a taxa de desemprego ficando acima de 10% no final do ano.
O levantamento foi feito pela Folha junto aos profissionais de 11 das instituições que mais acertaram as estimativas para a economia brasileira durante 2017.
Todos projetam que a taxa de desemprego ficará acima de dois dígitos. Os mais conservadores, como o grupo Credit Suisse Hedging-Griffo, que administra um dos fundos mais rentáveis da história do país, veem o desemprego na casa dos 12%.
Os que têm uma posição mais otimista, como Rosenberg Associados, estimam uma leve melhora, com a taxa ficando pouco acima de 10%. O resultado ainda está muito distante do piso, que foi de 6,2% no último trimestre de 2013, quando o desemprego começou a aumentar.
Até o trimestre encerrado em novembro, a taxa de desemprego estava em 12%, segunda a Pnad Continua do IBGE. A população desocupada no país somava 12,6 milhões de pessoas, com um grande contingente de trabalhadores sem carteira : desde abril de 2015, cerca de 3 milhões de postos registrados foram perdidos.
Os analistas deixam claro que já há geração de novos postos e que a tendência é que o mercado continue esboçando sinais de melhora.
“A recuperação do mercado de trabalho veio antes do esperado. Boa parte do mercado foi surpreendida com a melhora”, diz José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.
RITMO
O que causa dúvidas e alimenta divergências sobre a recuperação dos postos de trabalho é o ritmo de contratação. A percepção é que ele será tão lento quanto o ritmo da retomada da atividade econômica.
O diretor de Investimentos da Petros, Daniel Lima, define a perspectiva da maioria: “Esperamos uma melhora gradual ao longo de 2018”, diz Lima.
A análise, em parte, leva em consideração que hoje há um grande contingente de pessoas sem trabalho para ser absorvido. “A população ocupada vai aumentar, mas num ritmo longe de ser capaz de reduzir toda a ociosidade do mercado de trabalho”, afirma Ricardo Denadai, economista-chefe da Santander Asset Management.
A maioria dos analistas prefere ir ajustando a perspectiva ao longo do ano. “A tendência do desemprego é de queda, a dúvida é a velocidade: vamos calibrando a taxa ao longo do tempo”, afirma Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco.
Um fator considerado importante para a retomada, que vai ficar no radar todo ano, é o efeito da reforma trabalhista. “O emprego formal já estabilizou, parou de cair, mas ainda não deu para medir o impacto da reforma trabalhista, após a flexibilidade maior nos contratos”, diz Gustavo Arruda, economista do BNP Paribas.
Para Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, a própria dinâmica do mercado vai prolongar a recuperação do emprego e a taxa só voltará a um dígito no último trimestre de 2021.
“Para este ano, estimamos aumento de 2,4% na ocupação, o que dá 2,2 milhões de novos empregos (formais e informais). É uma boa geração de empregos. Mas a população economicamente ativa deverá crescer em 2 milhões de pessoas na nossa estimativa”, diz.
Ou seja, explica, Campos Neto, a queda “líquida” dos desocupados será de apenas 200 mil. “Muitas pessoas estarão entrando no mercado de trabalho, o que aumenta o número de desocupados em um primeiro momento”, diz.
Pesa ainda o fato de a melhora da ocupação atrair pessoas de fora do mercado de trabalho. “Você tem uma situação de pessoas que não estavam procurando mais emprego, em situação de desalento, e que voltam ao mercado de trabalho com a melhora do emprego”, diz.
Segundo ele, essa dinâmica reduz a velocidade da queda da taxa de desemprego, “embora a expectativa para o comportamento do mercado de trabalho a partir deste ano possa ser considerada boa”, ressalta.