Alunos do 8º e 9º anos de escolas municipais de Salvador participaram da segunda edição da Black XP, um evento que faz parte do Festival Afrofuturismo, patrocinado pela Prefeitura, e que levou até o último sábado (30) inovação, tecnologia e empreendedorismo ao Centro Histórico da cidade.
A proposta da Black XP, também chamada de Black Game Jam, é proporcionar aos alunos uma maratona para desenvolverem jogos online do zero. Desde quarta-feira (27), os 65 participantes, que foram divididos em oito equipes, ficaram imersos em videoaulas e workshops com profissionais das áreas de design e programação, que lhes deram todo o suporte necessário para a criação dos games, já que esse mundo era desconhecido pela maioria deles.
Na sexta-feira (28), os jovens participaram de um evento no Museu de Energia, no Centro Histórico, onde tiveram a chance de mostrar suas criações que ainda estão em andamento ao público. Na próxima semana, durante um segundo encontro, os criadores dos jogos mais bem avaliados serão premiados com kits contendo produtos eletrônicos, como celulares e tablets.
Diferentemente de outras edições, a deste ano foi focada em aproximar os alunos das escolas públicas municipais do mundo da tecnologia. Por fim, todos os jogos desenvolvidos serão publicados na plataforma Mundo Play no dia 5.
“O objetivo principal do evento é abordar a questão do acesso ao digital de forma ampla, trazendo luz a um dos maiores problemas enfrentados pelo Sul Global. Por exemplo, enquanto uma criança branca da rede privada ganha seu primeiro computador entre os 7 e 10 anos, uma criança negra muitas vezes chega à fase adulta sem ter tido acesso a um computador durante a infância. Muitas vezes, o primeiro computador que ela adquire é comprado por ela mesma, e, em muitos casos, é também o primeiro da casa”, explica Tata Ribeiro, sócia-fundadora da Aimo Tech, que promove o evento dentro do festival.
Segundo ela, o evento conecta o público à indústria criativa, um dos setores que mais movimentam dinheiro globalmente, superando até mesmo cinema e música. A ideia, ainda conforme Tata, é atrair a atenção para a demanda por tecnologia e destacar a urgência da diversidade no setor.
“A tecnologia, afinal, não é neutra. Ela frequentemente reflete desigualdades sociais, pois é criada por grupos homogêneos. A inclusão de pessoas diversas é fundamental para que possamos produzir tecnologias que realmente representem diferentes realidades. Optamos por trabalhar com jovens que estão em uma fase em que já podem ser aprendizes e começam a pensar em carreira. Além disso, o desenvolvimento de jogos é uma atividade interdisciplinar que envolve design, programação, trilha sonora e outras áreas do conhecimento”, completou.
Raquel Nunes dos Santos, da Escola Municipal Santa Rita, destacou como se sentiu ao participar da Black XP. Essa foi a primeira vez que ela teve contato com programação. O jogo desenvolvido pela sua equipe conta a história de um garoto da periferia que precisa sobreviver a um ataque zumbi.
“Foi uma surpresa, porque é algo que a gente nunca imagina, né? Criar um jogo… A gente nunca pensa que um dia vai participar de algo assim. Está sendo um processo muito desafiador, porque criar um jogo não é algo que fazemos frequentemente”, comentou.
Assim como Raquel, Stephanie Yasmin Santos Silva, da Escola Professora Suzano Imbassaí, também nunca havia tido contato com programação antes. Sua equipe desenvolveu um jogo em que o personagem principal é um deus africano que, em certa época, foi muito adorado, mas acabou caindo no esquecimento. Tomado pelo remorso, ele ficou com sede de vingança e firmou um contrato com outra entidade chamada A Coisa de Sangue. Juntos, eles embarcam em uma jornada para reconquistar o trono de divindade.
“Para mim, foi uma experiência maravilhosa. Eu fiquei muito nervosa no início, porque não tinha ideia de como criar um jogo. Mas, com a ajuda dos monitores, fui aprendendo a programar, criar efeitos sonoros e entender mais sobre esse universo. Foi uma experiência incrível, e eu amei conhecer o mundo dos games. Estou adorando participar!”, relatou.
A área da tecnologia, embora esteja em expansão e com muitas oportunidades, carece de profissionais qualificados para atuar. Yuri Dias, gerente de Negócios Criativos e Digitais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Renda (Semdec), destacou que a pasta, que apoia o evento, trabalha com políticas para desenvolver os novos setores econômicos da cidade.
“A tecnologia e a inovação, que antes eram vistas como tendências do futuro, já são uma realidade que pauta nossas vidas. Temos implementado programas de capacitação de talentos para pessoas de todas as idades, e essa iniciativa é mais uma oportunidade de plantar uma semente, de forma lúdica, que parece brincadeira, mas tem um impacto significativo”, pontuou.
“Apostar na inclusão de jovens no mercado de trabalho através de carreiras do futuro é uma das muitas ações em prol do fortalecimento econômico e da geração de renda que a Semdec vem promovendo. Esse é mais um dos caminhos de sucesso que acreditamos para um futuro mais inclusivo e com mais oportunidades para nossa cidade. Eventos como esse corroboram com toda a política pública que o município vem implantando, e para nós é um grande prazer apoiar esses momentos”, acrescentou Mila Paes, titular da Semdec.
Texto: Nilson Marinho / Secom PMS