Chamar a atenção da população para as violências perpetradas contra jovens negros/as na Bahia e no Brasil. Essa é uma das propostas da 3ª MARCHA INCOMODE: Contra o Genocídio e o extermínio, a LGBTfobia, o feminicídio, o ódio religioso e o encarceramento em massa da Juventude NEGRA. A caminhada acontece no dia 20 de junho (segunda-feira), com concentração às 13h30 na Praça do Lobato (próximo à Cesta do Povo), Subúrbio Ferroviário de Salvador. Os/as participantes marcharão em direção ao Parque São Bartolomeu, bairro de Plataforma, também conhecido como Quilombo do Urubu, onde realizarão o Sarau Incomode, com apresentações culturais. A caminhada de 2022 terá como novidade a abertura com uma ala formada por Yalorixás e Babalorixás e outros representantes de religiões de matriz africanas.
A Marcha também marca o Dia municipal e estadual de Luta Contra o Encarceramento da Juventude Negra (Salvador e Bahia, respectivamente), lembrado em 20 de junho. A luta contra o feminicídio, a LGBTQIAP+fobia e o ódio religioso também estarão na pauta da Marcha, que contará com a presença de representantes de movimentos sociais, grupos culturais e comunitários. A ação é organizada pelo Coletivo Incomode, articulação política composta por grupos, movimentos e organizações sociais que atuam no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
“Ocuparemos o espaço da rua como símbolo de luta. Além de denunciar, queremos anunciar que existe uma juventude organizada, aquilombada, que está fazendo o enfrentamento à violência de forma qualificada”, comenta Eduardo Machado, educador do Projeto Juventude Negra e Participação Política (JNPP), desenvolvido pela CIPÓ – Comunicação Interativa, em parceria com a Aliança Terre des Hommes Schweiz/Suisse.
ARTICULAÇÃO PELA VIDA
O Coletivo Incomode se constitui como um espaço aberto e suprapartidário, que busca qualificar a luta contra o racismo, sobretudo contra o genocídio da população negra do território em questão. Integram o Coletivo grupos do Movimento Hip Hop de Salvador, grêmios, coletivos artísticos e culturais, além de organizações dos movimentos social e negro, que atuam no território do Subúrbio Ferroviário. “A proposta de toda essa mobilização é dar visibilidade à juventude negra, trazendo o seu lugar de destaque na luta contra o feminicídio, genocídio, LGBTQIAP+fobia, hiperencarceramento, intolerância religiosa, contra todas as violações de direitos humanos, sociais e básicos e pela valorização da vida”, explica Nadjane Cristina, integrante da articulação
A CIPÓ – Comunicação Interativa, organização que completa 23 anos em 2022, foi uma das fundadoras e tem ajudado a articular o Coletivo Incomode como uma das ações do Projeto Juventude Negra e Participação Política (JNPP), desenvolvido em parceria com a Aliança Terre des Hommes Schweiz/Suisse O projeto mobiliza e forma jovens negros/as para a participação social e para a luta frente ao contexto de extermínio da população negra no Brasil. Para tanto, a iniciativa promove atividades formativas com jovens, que são incentivados/as a realizar ações de incidência política.
O grupo mobiliza garotos/as de suas comunidades e escolas visando à inserção destes/as em ações de incidência política, além de articular atores sociais estratégicos de bairros periféricos para mobilizar e denunciar execuções. O grupo realiza ainda incidência junto ao poder público, para que seus agentes atuem na qualificação das políticas direcionadas à juventude negra.
DADOS
Em 2019, em média, 64 jovens foram assassinados por dia no Brasil, segundo dados do Atlas da Violência 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 23.327 jovens tiveram suas vidas ceifadas como conta o último levantamento do Atlas. Esse número representa uma taxa de 45,8 homicídios para cada 100 mil jovens no País.
A Bahia é o segundo estado com maior taxa de homicídios de jovens, segundo o levantamento. O estado registrou um total de 97 homicídios para cada 100 mil jovens, mais do que o dobro da média nacional.
Ainda segundo o Atlas, em 2019, 77% das vítimas de homicídios no Brasil foram pessoas negras (soma de indivíduos pretos ou pardos, segundo classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). Na Bahia, esse número chega a 94%.
O número de homicídios entre as mulheres no Brasil também se mostrou expressiva, revela o Atlas da Violência 2021. São cerca de 10 assassinatos por dia. Ao todo, 3.737 mulheres foram mortas em 2019. A questão racial também é preponderante aqui: as mulheres negras representam 66% de todas as mulheres assassinadas no País. O risco de uma mulher negra ser morta é 1,7 vezes maior do que uma mulher não negra.
Jovens e negros são também maioria entre a população carcerária no Brasil, que em 2016 chegou a um total de 726,7 mil, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Mais da metade desse segmento era formado por jovens de 18 a 29 anos e 64% do total eram negras.
ENCONTROS PREPARATÓRIOS
Antes da Marcha, o Coletivo Incomode promoverá alguns encontros preparatórios para a grande caminhada no Subúrbio. Oficinas educativas e exibições de filmes educativos em escolas públicas e ocupações do Movimento Sem Teto de Salvador serão realizadas com os temas da Caminhada.
No dia 15 de junho, 09h, haverá uma audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia para debater o tema do genocídio e do hiperencarceramento da juventude negra na Bahia, realizada pelo Coletivo Incomode.
SERVIÇO:
O quê? 3ª MARCHA INCOMODE
Quando? 20/06 (segunda-feira), com concentração às 13h30.
Onde? Percurso da Praça do Lobato (próxima à Cesta do povo do Lobato) até o Parque São Bartolomeu (Quilombo do Urubu)