Em encontro com cientistas, pesquisadores e entidades do setor ambiental, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (4) que, num eventual novo governo, respeitará as áreas de proteção ambiental, não admitirá garimpo em terra indígena e trabalhará para restabelecer o prestígio e o protagonismo internacional que o Brasil já teve no debate sobre meio ambiente.
Na véspera do Dia Internacional do Meio Ambiente, o ex-presidente ouviu de referências brasileiras sobre o tema relatos dos retrocessos que o país vive na área, com aumento do desmatamento, ameaça a indígenas e enfraquecimento de instituições como o Ibama e ICMBio. Em resposta, ele afirmou que será preciso refazer o que já foi feito nos primeiros governos petistas, quando houve redução de desmatamento e aumento da proteção.
“Tudo o que eles desfizeram nós vamos ter que refazer. E vamos ter que cuidar efetivamente com respeito com as nações indígenas espalhadas por esse país. Nós que devemos para eles, e não eles que devem para nós. É preciso ter a pressão da sociedade para que a gente possa ter coragem de enfrentar os nossos algozes e fazer o que precisa ser feito. Nesse negócio, não tem meio termo. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena nesse país. As terras que forem demarcadas como áreas de proteção ambiental terão de ser respeitadas. Não vai ter concessão. E a outra coisa importante é que nós vamos restabelecer nossa relação com o mundo”.
Lula afirmou que o Estado precisa assumir responsabilidade, contratar pessoas qualificadas, fiscalizar e ter leis mais duras, além de transformar os programas em políticas públicas para que não mudem a cada troca de governo. “O Estado precisa assumir responsabilidade. Então, o ministério vai ter que ter mais gente, a fiscalização vai ser mais atuante e a gente vai ter que ter leis mais duras”.
De acordo com o ex-presidente, em vez de pensar em derrubar florestas, é preciso pensar em soluções para o desenvolvimento deixando-as de pé. “Não é você olhar para uma floresta e dizer vamos derrubá-la para crescer. É como crescer com ela em pé. Ou como tirar proveito da riqueza que ela oferece. Como a humanidade pode tirar proveito da biodiversidade”, disse
Lula recebeu propostas para o programa de governo na área ambiental e defendeu que, para alcançar os avanços desejados, é preciso eleger não só o presidente, mas uma bancada forte com afinidade com o tema. “É impossível imaginar que a gente vai fazer as mudanças que a gente precisa fazer se a gente não eleger um presidente e junto com um presidente eleger senadores de melhor qualidade e deputados de melhor qualidade”, reforçou.
Precipício ambiental
O cientista Carlos Nobre, professor da USP, ex-presidente da Capes e único brasileiro a fazer parte da academia científica da Royal Society, disse que, em vez de celebração, há preocupação nesta semana do meio ambiente porque a humanidade está à beira de um precipício ambiental sem precedentes, vendo os eventos extremos se acelerarem em todo o planeta, como Brasil está sendo afetado com eventos como os recentes em Recife e Alagoas.
”Esse é um grande desafio e, infelizmente, não estamos vendo a maioria dos países embarcarem em trajetória de rapidamente reduzirem emissões por queima de combustíveis fósseis”, disse, lembrando que o Brasil já foi protagonista na proteção da biodiversidade, mas que perdeu a trajetória que vinha caminhando bem. “Infelizmente, em dez anos corremos 180 graus e estamos no oposto. Nos tornamos talvez o maior pária ambiental do planeta. Nós temos que mudar isso e o Brasil é dos poucos países que têm essa experiência, principalmente na redução das emissões do desmatamento. Temos que implementar políticas nessa direção”, disse o cientista.
Nobre afirmou que, para salvar a Amazônia, é preciso zerar o desmatamento, a degradação e o fogo imediatamente. “O Sul da Amazônia já está na véspera de um ponto de não retorno”, denunciou. Segundo ele, a biodiversidade é o grande potencial econômico da Amazônia.
Além de Nobre, falaram no debate, com parte dos participantes online, Raimunda Monteiro, ex-reitora da Universidade do Pará, Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, Márcio Astini, do Observatório do Clima, João Paulo, do MST, Jorge Viana, ex-governador do Acre, os deputados Eduardo Molon e NIlto Tatto, o senador Randolfe Rodrigues, e o presidente do PV, Carlos Pena, além do presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante.
Geração de emprego com sustentabilidade
Mercadante afirmou que a preservação da Amazônia tem que tratar das 25 milhões de pessoas que lá vivem. “Se não pensar política de geração de emprego e renda, que liberte a população de organizações criminosas e predatória que lá estão, não teremos êxito”.
Presente ao encontro, o ex-governador Geraldo Alckmin afirmou que a melhor maneira de celebrar o dia e a semana do meio ambiente é fazer o que o grupo se propôs na manhã de sábado: ouvir, dialogar, trazer propostas. “Um bom programa de um governo democrático nasce assim, ouvindo e dialogando com a sociedade civil, não fazendo motociata nem andado de jet ski”, afirmou, acrescentando que o período dos governos petistas foi o de menor desmatamento.