Salvador recebe, de 13 a 16 de abril, no Teatro Jorge Amado, na Pituba, as apresentações gratuitas do Espetáculo ‘’Teatro Cego – Um Outro Olhar’’, que está em turnê nacional. “No Teatro Cego a peça acontece completamente no escuro e o público fica no palco juntamente com os atores. Durante o espetáculo, sons, vozes e cheiros chegam à plateia vindos sempre de locais diferentes, dando a sensação de que os espectadores estão realmente inseridos no ambiente cênico. Tais sensações são o caminho para a compreensão da trama, mesmo ela ocorrendo completamente no escuro. ‘’Teatro Cego – Um Outro Olhar’’ já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, será agora encenado em Salvador e daqui seguirá para Natal e Belém do Pará.
O texto e a direção são de Paulo Palado e no elenco estarão em cena Sara Bentes, Flávia Strongolli e o próprio Paulo Palado. O espetáculo conta com atores com deficiência visual, que são de extrema importância. O projeto cumpre assim seu papel social, já que insere profissionais cegos no mercado de trabalho e abre a possibilidade de uma forma de expressão artística que, até então, imaginava-se inviável para essas pessoas. A proposta é estabelecer uma linguagem inédita no teatro.
Parceria com a ONG Cabelegria
O projeto é uma parceria do Teatro Cego com a ONG Cabelegria e tem também o objetivo de, ao realizar 60 apresentações gratuitas em seis capitais brasileiras, receber doação de cabelos e doar perucas prontas para pessoas que tiverem perdido o cabelo em consequência de quimioterapia ou de outro tratamento. Essa possibilidade acontecerá em Salvador ao término de cada apresentação quando o público presente será convidado a conhecer o caminhão da Cabelegria, que estará estacionado junto ao teatro. Nesse caminhão, quem for atendido contará com o auxílio de cabeleireiros, podendo sair do local já usando a peruca escolhida. Alguns documentos que comprovam o tratamento serão solicitados para a doação da peruca.
Os ingressos são gratuitos e começam a ser distribuídos uma hora antes de cada espetáculo. A distribuição será feita de acordo com a ordem de chegada, através de senhas e só será distribuída uma senha por pessoa. As 10 apresentações da peça em salvador acontecerão no Teatro Jorge Amado, na Avenida Manoel Dias da Silva, 2177, na Pituba. Nos dias 13 e 14 de abril, quarta e quinta-feira, haverá duas sessões por dia, às 18h e 20h. Nos dias 15 e 16 de abril, sexta-feira e sábado, haverá três sessões por dia, às 16h, 18h e 20h. Nos dias 13 e 14 o caminhão da Cabelegria começa a atender para receber doações de cabelo e doar perucas das 16h às 20h. Nos dias 15 e 16 o caminhão da Cabelegria começa a atender para receber doações de cabelo e doar perucas das 14h às 20h.
O projeto é patrocinado pelo Instituto CCR, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A história
A peça teatral conta a história de uma empregada doméstica e de sua patroa que passam, ao mesmo tempo, por um tratamento de câncer. As duas encontram-se em momentos diferentes da doença, com a empregada praticamente curada e a patroa iniciando a quimioterapia. A relação dessas duas mulheres mostra as diferentes posturas e dificuldades que pessoas de classes sociais distintas têm diante desse desafio, ao mesmo tempo em que a compreensão das condições de cada uma delas faz nascer uma amizade que se tornará a principal ferramenta de suas lutas.
Apesar do tema delicado, a trama se desenvolve com muita leveza, bom humor e sensibilidade, levando o espectador a uma reflexão que aprofunda a discussão sobre aspectos emocionais, sociais e comportamentais da doença. A trama fala sobre generosidade, empatia, amor, medo, superação, respeito e autoestima. Por acontecer completamente no escuro, a peça se utiliza ainda mais da percepção do espectador, fazendo com que o tema proposto possa ser tratado com ainda mais sensibilidade e aprofundamento. A trama mostra que, apesar de classes sociais diferentes, as personagens enfrentam problemas semelhantes, como o medo, a negação e a baixa autoestima gerada pelas mudanças estéticas em seus corpos. Além disso, mostra como cada uma encara essas dificuldades.
O que é o Teatro Cego?
Desde 2012 a C-Três Projetos Culturais vem desenvolvendo o Teatro Cego, um formato teatral onde a peça acontece completamente no escuro e que tem no elenco atores com deficiência visual e atores videntes. Os espetáculos ”O Grande Viúvo”, ”Acorda, Amor!” e ”Clarear” emocionaram espectadores em vários teatros do Brasil e tornaram-se grandes sucessos de público e de crítica. Saiba mais em www.teatrocego.com.br
O que é a Cabelegria?
Fundada em outubro de 2013, a Cabelegria é uma ONG que recebe doações de cabelo, transformando-o em perucas que são doadas, por meio de Bancos de Perucas (itinerantes e fixos), para pessoas que perderam seus cabelos devido ao tratamento quimioterápico ou a outras patologias. Todo o processo é gratuito.
Já foram distribuídas mais de 10 mil perucas para crianças e mulheres de todo o Brasil. A Cabelegria acredita que a autoestima pode fazer toda a diferença durante um tratamento quimioterápico. Por isso, busca aumentar cada vez mais as doações de perucas para pacientes e expandir seu Banco de Perucas para os maiores centros de tratamento oncológico do Brasil. Saiba mais em www.cabelegria.org
Doação de Perucas
Para o Cadastro de recebimento de perucas todos os pacientes deverão ter em mãos os seguintes documentos: Laudo médico, comprovante de quimioterapia, RG e CPF. A Cabelegria doa uma peruca por paciente e se por ventura o paciente já tiver recebido uma peruca da ONG pelos correios ou pelos Bancos de Perucas existentes o paciente não poderá receber outra peruca, caso queira ele poderá efetuar a troca da peruca, porém precisará levar a peruca doada.
O cadastro é bem simples, será feito na parte externa do caminhão e após o cadastro, solicitaremos que o paciente assine um documento (obrigatório) “Comprovante de entrega de peruca” também perguntamos se o paciente autoriza a imagem para que possamos utilizar em nossas redes sociais. Caso aceite, o paciente assina o documento “Termo de Autorização de uso de imagem”. Lembrando que a assinatura desse documento é opcional. Após esse processo os pacientes serão direcionados para escolher sua peruca, assim que escolhida receberão um Kit com um álcool em gel, instruções de como cuidar de sua peruca e uma ecobag. Todo o processo é gratuito.
Companhia de Teatro Cego
A Companhia de Teatro Cego surgiu no Brasil em 2012. O formato foi originalmente criado em Córdoba, na Argentina, em 1990. Em 2010, o ator e diretor Paulo Palado esteve em Buenos Aires para conhecer o formato e decidiu trazer a ideia para o Brasil. Porém, não existe nenhum vínculo – a não ser o de amizade – com o Teatro Ciego argentino.
A ideia é fazer espetáculos teatrais completamente no escuro, convidando o público a abdicar da visão e a usar os seus outros quatro sentidos, além da intuição, para assistir à peça. Para isso, sons, vozes, aromas e sensações táteis são utilizados para colocar o público dentro da trama. O formato de apresentação também não é o tradicional. A plateia é distribuída em cadeiras que intercalam cenários e objetos de cena e o público tem uma proximidade muito grande com os atores, que circulam entre as cadeiras. Por acontecer completamente no escuro, a peça conta com alguns atores com deficiência visual. Porém, a ideia é que nenhum espetáculo aconteça somente com esses atores, mas sim, que haja sempre uma integração com atores videntes.
A Companhia de Teatro Cego é uma parceria entre o ator e diretor Paulo Palado e o produtor cultural Luiz Mel e conta ainda com os produtores Lourdes Rocha e Carlos Righi. Os atores da companhia, com deficiência visual, são Sara Bentes, Edgard Jacques, Luma Sanches e Giovanna Maira. Os atores videntes são Ana Righi, Flávia Strongolli, Ian Noppeney e Paulo Palado. A companhia ainda é formada pelos produtores responsáveis pela contrarregragem e efeitos, Zan Martins e Rosana Antão e pelo sonoplasta Felipe Herculano.
O Processo de Criação
O processo de criação da Companhia de Teatro Cego parte sempre do texto. Dos quatro textos montados até agora, três são de Paulo Palado e um de Sara Bentes e já são escritos pensando no Teatro Cego, pois as falas dão indicação de muitos elementos e situações que o espectador não conseguiria identificar sem a visão. O espaço para sons e aromas muito característicos também é priorizado para que a produção possa atuar de forma consistente durante o espetáculo.
Porém, tudo isso é feito de maneira que não haja exagero. Não se pode permitir que os meios justifiquem os fins. A ocupação do espaço também é uma preocupação que vem logo no início do processo. A trama tem que ser encenada sempre no mesmo espaço, pois os espectadores estão sentados em suas cadeiras junto com os cenários. As mudanças de cenas são feitas através de músicas e ou aromas. Uma mesma música é repetida sempre que a cena volta para um mesmo cenário. O mesmo pode acontecer com um aroma.
O cenário, apesar da escuridão, é de extrema importância para a compreensão do espaço. Portas, armários, mesas, cadeiras, escadas, louça, talheres, camas. Os objetos cenográficos se mostram presentes através de seus sons ou por simples citação dos personagens. Uma característica muito importante do espaço cênico é a forma da sua apresentação. Ao contrário de uma peça convencional, onde o espectador vê primeiro o cenário, que depois vai sendo preenchido por movimento e vida, no Teatro Cego tudo começa em uma escuridão profunda e total.
Após a entrada dos atores, com a movimentação e utilização dos espaços, é que o cenário vai se revelando. Os espetáculos são sempre compostos por atores com deficiência visual e atores videntes. A ideia é integrar. Imagine ter que criar um acesso a cadeirantes para uma andar acima do piso térreo. Não cadeirantes podem subir facilmente pela escada. Então cria-se um elevador para as pessoas com deficiência física. Isso é acessibilidade. Porém, uma rampa serviria muito bem aos dois públicos. Isso é integração. O processo de criação dos personagens começa com a leitura branca do texto em uma mesa, como em qualquer outra montagem convencional.
Enquanto alguns atores se utilizam do tradicional texto no papel, riscado com lápis e grifado com marca-texto, outros leem em braile. Outros ainda contam com aplicativos leitores de tela em um celular ligado ao ouvido por um fone e falam por cima do que ouvem. É como um ponto. Entre essas leituras, os atores e o diretor praticam exercícios de cognição, criando conexões entre os personagens através de códigos inconscientes. Isso ajuda a desconstruir a comunicação rasa que utilizamos desfaz alguns vícios, tanto de expressão quanto de compreensão. Os ensaios vão então para um espaço demarcado, determinando os locais de cenografia e público. Algumas marcas são colocadas para guiar os atores. O cenário será uma das referências. Em alguns locais, o piso tátil é usado. Os atores com deficiência se locomovem, a princípio, com bengalas (guias) ou com a ajuda da produção. Quando o espaço é completamente dominado, apaga-se as luzes e retira-se as bengalas dos atores com deficiência. Enquanto isso, a produção está pesquisando aromas e sons. Quando os cenários são montados, junta-se tudo nos ensaios finais.
Os Espetáculos
O primeiro espetáculo da companhia, “O Grande Viúvo”, estreou no Teatro Tuca Arena em 2012, com texto de Paulo Palado, adaptando o conto homônimo de Nelson Rodrigues. Em 2014, a companhia estreou sua segunda peça, “Acorda, Amor!”. Esse espetáculo é costurado por canções de Chico Buarque executadas ao vivo pela banda Social Samba Fino, composta por sete músicos.
Em 2016, a companhia estreou a peça “Clarear – Somos Todos Diferentes”, com texto de Sara Bentes, que também é atriz em todas as peças. O espetáculo fala sobre quatro jovens com diferentes características (uma garota com deficiência visual, um rapaz com deficiência auditiva, um argentino e uma torcedora fanática do Juventus da Moóca) que dividem a mesma república.
Agora, a companhia está em turnê com seu novo espetáculo “Um Outro Olhar”, em parceria com a ONG Cabelegria. Todas as peças da companhia são dirigidas por Paulo Palado e produzidas pela C-Três Projetos Culturais.
Parceiros
Durante esses dez anos de atividades, a Companhia de Teatro Cego trabalhou em parceria com diversas instituições. Entre elas, o BOS – Banco de Olhos de Sorocaba, A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, a Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual e a Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Serviço
“Um Outro Olhar – Teatro Cego”
Datas e horários : Dias 13 e 14 de abril – quarta e quinta-feira (duas sessões por dia) às 18h e 20h. Dias 15 e 16 de abril – sexta-feira e sábado (três sessões por dia) às 16h, 18h e 20h.
Local : Teatro Jorge Amado – Av. Manoel Dias da Silva, 2177 – Pituba – Salvador
Os ingressos para a peça teatral serão gratuitos e começam a ser distribuídos uma hora antes de cada espetáculo. A distribuição será feita de acordo com a ordem de chegada, através de senhas. Só será distribuída uma senha por pessoa.
30% dos ingressos serão direcionados para instituições ligadas ao câncer. Os ingressos que não forem utilizados pelas instituições serão distribuídos para o público na fila.
Nos dias 13 e 14 o caminhão da Cabelegria começa a atender para receber doações de cabelo e doar perucas das 16h às 20h.
Nos dias 15 e 16 o caminhão da Cabelegria começa a atender para receber doações de cabelo e doar perucas das 14h às 20h.