Fundada em 2016 por Giuliano Bittencourt, em Belo Horizonte, a BeGreen, fazenda urbana de produção horizontal hidropônica, saiu do Sudeste. O foco do plano para os próximos anos é justamente ir além do eixo Sul-Sudeste, para levar a filosofia do negócio de boa alimentação e sustentabilidade Brasil adentro. A primeira operação teve início em 2017, após o empreendedor desenvolver uma tecnologia que automatiza todo o controle de ambiente para o crescimento das hortaliças.
Mas a trilha pelo país já começou, com a inauguração de uma sexta unidade em Salvador (BA) em outubro — as demais cinco estão em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A próxima será em Goiânia (GO) e estão no cronograma desse primeiro semestre, estreias em Belém (PA) e Manaus (AM). Até agosto de 2023, há ainda pelo menos mais seis inaugurações previstas no total, incluindo as já citadas. Na prática, significa dobrar de tamanho em relação à produção atual de 20 toneladas mensais — folhinhas à beça!
Todas as novidades do pipeline, por enquanto, serão em shoppings e sempre em unidades do grupo Aliansce Sonae, que fez um aporte de R$ 15,5 milhões em 2020, quando a empresa tinha apenas três unidades. Juntas, as companhias criaram uma joint-venture para operar as instalações.
Na época da capitalização, já existiam duas unidades em empreendimentos da rede, em Minas e no Rio, e uma na fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP) totalmente dedicada ao restaurante da montadora. No ano passado, estrearam as operações em Campinas (SP) e Salvador. Entra na conta também o programa social idealizado pelo iFood. No telhado da sede da empresa de aplicativos de entrega, em Osasco (SP), há uma produção de 1 mil metros quadrados destinada à abastecer milhares de famílias cadastradas no Banco de Alimentos da cidade.
A companhia viu sua receita e produção se multiplicarem durante a pandemia: a expansão foi de nada menos do que 300%, desde 2019, segundo Mariana Belisário dos Santos, sócia e diretora da BeGreen, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. O tamanho do faturamento, porém, ainda é mantido a sete-chaves.
“Apesar de trágica, a pandemia trouxe uma mudança positiva no hábito das pessoas, de busca por saúde, com uma alimentação melhor e atividades físicas”, comenta ela. Além disso, o processo de digitalização se acelerou brutalmente. A empresa tem hoje mais de 900 assinaturas ativas da box com suas verduras fresquinhas. As caixinhas com folhosas e temperos, nos tamanhos P, M e G, variam de R$ 36,90 a R$ 55,90 e podem ser entregues semanal ou quinzenalmente.
O frescor, pela proximidade do consumidor, é um dos atrativos, aliado às características similares a de produtos orgânicos, sem uso de nenhum defensivo agrícola, uma demanda crescente do consumidor. Não surpreende que o desperdício seja quase irrisório: da ordem de 1%. Na produção do campo normal, esse percentual é superior a 50%, por uma combinação de fatores, que vão desde distância até a humidade (pela necessidade de lavar o produto antes da venda).
Na BeGreen, o excedente da produção destinada aos assinantes é vendido para restaurantes, clientes relevantes da base. E eventuais sobras são doadas.
As fazendas urbanas estão em franco crescimento no mundo todo e têm captado dezenas — e até centenas — de milhões de dólares. Como é característica dessas produções, são livres de agrotóxico e, por estarem dentro dos grandes centros consumidores reduzem brutalmente as perdas e também as emissões de carbono, pois a distância até o consumidor final é muito menor.
No caso da BeGreen, a combinação dessas características todas, mais a tecnologia, faz a produtividade ser 28 vezes superior à de fazendas e hortas tradicionais. A economia de água também é um ponto que torna o resultado ainda mais sustentável: a redução no consumo é de nada menos do que 90%, uma vez que a água é reutilizada no processo, passando por diversas etapas.
No começo, tudo era pé de alface. Agora, a variedade é bem maior e inclui agrião, rúcula, mostarda, folhas de beterraba, entre outros, além de temperos, em um total de 20 tipos. Nas novas unidades, há espaço para leguminosas e frutos, como abobrinha, berinjela, pimentão e ainda tomate — já são 10 espécies. Contudo, essas ainda estão incluídas ainda na parte de tour educativo e não estão acessíveis para os assinantes da box. Estão em um tipo de ensaio.
Mas esse é, sem dúvida, o futuro. Mariana ressalta que o objetivo é deixar a box cada vez mais completa. Estar nos shoppings centers não é apenas uma questão de logística. Faz parte do propósito do projeto idealizado por Bittencourt, que é ajudar na educação das pessoas a respeito da relevância de uma alimentação de qualidade, saudável e aliada a um processo sustentável de produção.
Por isso, os espaços são abertos a visitação e contam com experiências, como tours completos e oficinas, para crianças e alunos de escolas, além de lojas para venda imediata. De acordo com Mariana, a experiência de Salvador tem sido reveladora, na boa receptividade da população à iniciativa e a expectativa é que o mesmo ocorra nas demais capitais programadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “O público fica encantando com as novidades, pois essa oferta normalmente está mais concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro.”
O futuro da BeGreen? Ser muito maior. Não só pelo aumento da variedade de produtos, mas também pelos espaços. Hoje as unidades são sempre dentro de um intervalo entre 1.000 e 1.500 metros quadrados. Mas a companhia já pensa 10 vezes maior. Ainda sem cronograma público, o planejamento vislumbra unidades de 10 mil metros quadrados dentro das cidades e, eventualmente, a perspectiva de se verticalizar. Isso mesmo! Dentro das cidades, para ampliar cada vez mais a capacidade de abastecimento.