Um dos problemas durante uma pandemia é ter que lidar com outras doenças ao mesmo tempo. Com sistemas de saúde ocupados, é difícil conter um novo surto de vírus. Para Euclides Matheucci, Diretor Científico do laboratório DNA Consult e professor junto ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a preocupação é com o atendimento dos pacientes.
“Influenza A e COVID-19 são síndromes gripais e alguns sintomas são os mesmos, que podem incluir febre, tosse, dor de garganta, congestão nasal e fadiga. Para o sistema de saúde, que faz um pronto atendimento e detecta os primeiros sintomas, pode ser um problema já que sem o teste não se sabe se o paciente está com uma gripe ou COVID-19, e neste último caso é essencial o isolamento”, explica.
Segundo levantamento recente da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES) ocorreu um aumento de 429% nos casos de Influenza A. O número de atendimentos realizados nas unidades de pronto atendimento (UPAs) passaram de uma média de 189 casos diários na penúltima semana de novembro para mil ocorrências por dia, já na última semana do mês. O crescimento nos casos fez com que as autoridades de saúde do Estado impulsionem os cuidados com a criação de tendas especiais para atender os pacientes e reforcem a necessidade de vacinação contra Influenza A.
No final de setembro, o Ministério da Saúde emitiu uma nota que eliminava o intervalo de 14 dias entre a vacinação de COVID-19 e Influenza A. A vacina contra a Influenza já está disponível no sistema público de saúde e pode ser tomada a partir dos seis meses de idade.
O especialista explica como a convergência de duas infecções podem ser um risco para o país. “Existe um termo que ganhou popularidade no exterior chamado twindemic, uma junção das palavras twin (gêmeos) e pandemic (pandemia) que se refere ao fato de dois vírus gripais circularem simultaneamente. Com a chegada do inverno no hemisfério norte, isso se torna uma grande ameaça à população destes países e não queremos que o mesmo ocorra no Brasil, já que a vacinação tem avançado e os casos têm diminuído”, afirma Matheucci.
Outro ponto de atenção é em relação à chegada de estrangeiros ao país durante o período de férias e festas de fim de ano, paralelamente à circulação da nova variante de coronavírus batizada de ômicron. “Os números de casos na Europa e Estados Unidos têm aumentado de forma preocupante e muitos países estão restringindo a chegada de turistas, com a exigência de teste negativo de COVID-19 e período de quarentena. E as temperaturas mais frias neste período nas regiões ao norte do planeta contribuem para o aumento de casos de Influenza também. Não exigir um comprovante de vacina pode ser arriscado, visto que estes locais têm uma adesão vacinal mais baixa. Isso pode comprometer o sucesso do controle da pandemia local com a disseminação de novas variantes”, adverte.
Para conter o avanço de um surto de Influenza A junto de aumentos de casos de COVID-19, Matheucci reforça os cuidados que precisam continuar “Mesmo com a diminuição dos casos, é essencial manter a prevenção com o uso de máscaras, higienização frequente das mãos. Se possível, vá até um posto e se vacine contra a gripe e, se já puder, tome a dose de reforço contra o coronavírus”, conclui o professor.