Com o surgimento da variante Ômicron, o mundo volta novamente ao estado de alerta. A Profª Dra. Soraya Smaili, farmacologista da Unifesp e coordenadora do Centro de Saúde Global da universidade e do Centro SoU_Ciência, ressalta questões cruciais que devem ser levadas em consideração para que o mundo possa superar a covid-19:
As primeiras notícias sobre a nova variante, a Ômicron, trazem preocupação e dor. A preocupação por que sabemos que em um mundo onde as fronteiras estão abertas e onde a comunicação é permanente, é esperado que a variante já estivesse entre nós, como de fato foi noticiado nesta terça, dia 30 de novembro. A dor vem das lembranças do caminho percorrido, do encontro com o desconhecido e das incertezas sobre o futuro. A dor também é por lembrarmos dos sofrimentos das famílias que perderam seus entes queridos, das milhares de pessoas que estão sofrendo com as sequelas, das perdas no âmbito da educação, da segurança alimentar, do emprego e da devastação.
Porém, podemos trabalhar na direção oposta dos sentimentos de desânimo. Precisamos de um lugar de acolhimento, de um pouco de trégua e de respiro. Estamos carentes do afeto e do abraço, muito mais do que das festas de Reveillon. Queremos a saúde, muito mais do que as festas de Carnaval. O coronavírus mais uma vez nos manda muitas mensagens. Mudaremos de postura? E o que precisamos mudar?
Como indivíduos, devemos nos conscientizar, de uma vez por todas, que não existe o indivíduo ou direitos individuais diante de um vírus que está no mesmo ar que respiramos. Não há como separar o ar de um do ar do outro. Por isso, temos dito que é cedo para abandonar as máscaras. O coronavírus nos faz lembrar disso a toda hora, que é da natureza dele sofrer mutações. A Ciência já nos mostrou também que quanto mais este vírus circula, mais mutações ele produz. Então, nada de tirarmos as máscaras.
Como coletivos, grupos ou países, é preciso definitivamente entender que enquanto tivermos uma parte importante da população do mundo sem acesso às vacinas e sem acesso aos bens de saúde, como os medicamentos, nós teremos uma pandemia presente e muitos riscos. Não haverá solução diante da desigualdade que vivemos. Felizmente, a população brasileira fez uma opção clara, como mostrou uma pesquisa do SoU_Ciência, onde 95% das pessoas querem ser vacinadas.
A Delta surgiu na Índia, antes da vacinação, e se alastrou principalmente entre os que se negaram a se vacinar, mesmo nos países desenvolvidos. A Ômicron surge no continente africano, onde apenas 3 em cada 100 pessoas estão vacinadas. Por isso temos falado tanto na necessidade de ampliarmos a produção de vacinas e que os países ricos se unam aos países que mais precisam, para que finalmente possamos derrotar o coronavírus.
As mensagens são claras, as evidências científicas estão aí para serem utilizadas. Resta-nos, enquanto humanidade, entendê-las de fato e realizar a transformação necessária para superarmos uma pandemia que assolou nossas gerações.