“Estou muito feliz, a ponto de querer repetir a dose.” Foi assim que Frederico Trajano, presidente do Magalu, anunciou nesta terça-feira (21) que a empresa vai lançar o seu segundo programa de trainees exclusivo para profissionais negros.
Depois da experiência do ano passado, a nova edição do programa de trainees do Magalu, que abre inscrições nesta semana e vai ser realizado em 2022, repetirá o formato da seleção do ano passado, ou seja, os pré-requisitos serão os mesmos, para tentar combater práticas que costumam funcionar como barreiras de entrada a pessoas negras.
A empresa não vai exigir que os candidatos tenham inglês fluente nem experiência de intercâmbio, e eles podem ser formados desde 2018 em qualquer curso superior. Idade e instituição de ensino também não serão critérios levados em conta pelos recrutadores, segundo a companhia.
“Dado o sucesso do ano passado, dada a altíssima qualidade dos trainees que a gente contratou, que eu já sentia desde as entrevistas, resolvemos repetir neste ano. A gente ainda tem um caminho pela frente, e um ano pontual não iria resolver.
Chegamos a discutir sobre fazer cotas neste ano. Achamos que a diferença ainda é muito grande, e os indicadores ainda têm baixa representatividade nos casos de liderança de escritório”, disse Trajano.
No ano passado, quando o Magalu abriu as inscrições da seleção de trainees exclusiva para profissionais negros, as redes sociais levantaram uma enxurrada de ataques racistas. A repercussão acabou contribuindo para a divulgação das vagas e turbinou o número de inscrições, que ultrapassou 22.000, ante menos de 18.000 inscritos no ano anterior, sem a temática racial.
Na edição do ano passado, a ideia inicial era selecionar cerca de dez candidatos, como acontecia em média nos anos anteriores, mas a empresa acabou contratando 19 pessoas.
Para este ano, também não foi definido um número exato. Pode ficar em torno de 20 novamente. Segundo Patricia Pugas, diretora de gestão de pessoas da Magalu, podem ser abertas entre 10 e 30 vagas, de modo que a estrutura suporte.
Com a repetição do programa, a empresa visa corrigir a baixa representatividade de pessoas negras em cargos de gerência para cima, segundo Trajano.
O Magalu também estabeleceu metas de contratação de profissionais negros e fez o seu primeiro censo interno, que teve a participação de 77% dos cerca de 40.000 funcionários.
No universo geral da empresa, a questão racial já reflete o perfil da população brasileira com mais precisão. Porém, nas posições de liderança e cargos mais altos nos escritórios, o número ainda gira em torno de 20%, daí a necessidade de correção.
Questionada sobre como deve ser a repercussão das redes sociais após o lançamento do novo programa, Pugas disse esperar que, desta vez, haverá menos ataques racistas.
“Acho que hoje, até por uma questão de proteção intelectual, a pessoa não vai falar mais isso. Mas eu ouvi muito falar que era inconstitucional, uma polêmica sobre legalidade. Acho que superamos algumas discussões que precisavam inclusive acontecer, até para a gente sedimentar. E acho que não vão voltar mais. Mas, infelizmente, a questão do racismo é estrutural. Acho que a gente viveu isso aqui dentro. Torço, como brasileira, para que não tome nem um décimo daquela dimensão”, diz Pugas.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)