É na divisa entre os estados da Bahia e Pernambuco que está localizado o maior polo da fruticultura brasileira. A cidade baiana de Juazeiro concentra boa parte dos produtores de frutas frescas entre os municípios que integram o chamado Submédio São Francisco, responsável pela produção de manga e uva que são exportadas, especialmente, para o mercado europeu e americano. Outras frutas também são produzidas nessa região, que faz parte do Vale do São Francisco, a exemplo da banana, goiaba, coco, acerola, mamão, maracujá, entre outras. Para que a fruticultura da região chegue cada vez mais longe, a assistência técnica tem sido fundamental na certificação da qualidade dos frutos.
Os números que envolvem o setor impressionam pelo impacto na economia local por meio da geração de emprego e renda. Somente com a atividade da fruticultura no Vale do São Francisco (compreendendo os estados da Bahia e Pernambuco), é produzido um milhão de toneladas de frutas por ano. O faturamento registrado anualmente fica em torno de R$ 2 bilhões somente com a produção de manga e uva, sendo que, deste valor, R$ 440 milhões são relativos aos frutos destinados à exportação. A manga segue sendo a principal fruta destinada ao mercado externo. O fruto produzido na região atende entre 85 e 90% da demanda de exportação no país.
Quando o assunto é geração de empregos, os números também não são modestos, já que na fruticultura do Submédio São Francisco são gerados 250 mil empregos diretos e outros 950 mil indiretos. Ainda conforme informações da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), nessa área atuam três mil produtores que exportaram mais de 243 mil toneladas de manga e 49 mil toneladas de uvas em 2020. Esse contexto explica porque a Bahia ocupa o 2º lugar na produção de frutas frescas produzidas no país, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020.
Também segundo o IBGE, Juazeiro é o município baiano com a maior produção de frutas e com registro de mais R$ 589 milhões de faturamento, seguido por Casa Nova, que teve faturamento de cerca de R$ 300 milhões. E é justamente a manga, a fruta responsável por impulsionar o crescimento do faturamento nos dois municípios que integram o Vale do São Francisco.
A Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri) destaca que a Bahia possui mais de 664 mil hectares plantados de frutas, com produção de 3,2 milhões de hectares por ano e responde por 31% da produção nacional no setor. “A região norte, especialmente Juazeiro, é muito importante para nós porque a fruticultura, por meio da exportação de manga e uva, nos faz ser o estado com a maior exportação dessas duas frutas. O Governo do Estado tem fomentado o desenvolvimento dessa região e buscado por meio do Banco do Nordeste, Sebrae e outras instituições financeiras, expandir a produção dos médios e pequenos produtores”, ressaltou o chefe de gabinete da Seagri, Alisson Gonçalves.
Distrito Irrigado de Maniçoba
Um dos projetos mais bem sucedidos da fruticultura baiana pode ser encontrado no distrito de Maniçoba, localizado em Juazeiro. É lá que está instalado o Distrito de Irrigação do Perímetro de Maniçoba (DIM), implantado há 34 anos e hoje conta com 9 mil hectares irrigados e 625 produtores assentados. De acordo com dados fornecidos pela administração do DIM, sobrevivem da produção de culturas como a manga, a uva e outras frutas duas mil famílias. O grande potencial da região está nas águas do rio São Francisco e nas condições climáticas, pois na região chove pouco, o que favorece o cultivo dos frutos. No entorno do distrito irrigado cresceu o Distrito de Maniçoba, onde hoje vivem 18 mil pessoas que são impactadas pela produção.
Uma característica do DIM é que a maioria dos lotes são ocupados por pequenos produtores que têm faturamento anual em torno de R$ 300 mil. Já o faturamento total do distrito em 2020, incluindo todos os 625 lotes, foi de R$ 184 milhões. No local são gerados 9.914 empregos diretos e outros 39.652 indiretos. No distrito estão plantados mais de cinco mil hectares de manga que correspondem a uma produção de 90 mil toneladas da fruta por ano e 50% dessa produção é destinada à exportação.
Embora tenha sido implantado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o distrito irrigado funciona de forma quase autônoma, e um conselho fica responsável pela administração da área. O distrito irrigado hoje conta com 126 quilômetros de canais de irrigação com água captada do rio São Francisco e 150 quilômetros de estradas que têm sua manutenção realizada por esta administração própria.
“A geração de empregos é muito importante para a nossa região e temos mais de nove mil empregos diretos somente na área agrícola do perímetro. É uma atividade significativa não só para o município e nosso estado, como para o país. O nosso investimento é voltado a melhorar a vida do produtor e focamos também na assistência técnica para que os produtores produzam mais e gastem menos”, explicou o gerente executivo do DIM, Valter Matias.
Special Fruit
Outra história de sucesso na fruticultura de Juazeiro é representada pela empresa fundada e dirigida por uma família japonesa, a Special Fruit. A empresa conta com 800 hectares plantados de manga e uva. Por ano, são processados 24 milhões de quilos de manga e destes, 22 milhões são embalados e 92% desse total destinado ao mercado europeu e americano. Já a uva que é produzida em 200 hectares da propriedade corresponde ao total de 10 milhões de quilos embalados por ano. Na propriedade está instalado um packing house no qual as frutas passam pelo processo de seleção, higienização e embalagem para que possam ser encaminhadas ao mercado interno e externo.
Na Special Fruit são gerados 1.500 empregos diretos e no período de pico da safra, entre agosto e novembro, esse número pode chegar a 2.300. A propriedade produz 18 variedades de uva e chegam a pagar royalties para que possam cultivar determinados tipos da fruta. A produção segue rigorosos protocolos de certificação tanto da uva quanto da manga para que possam ser exportados, já que o mercado consumidor é bastante exigente.
O gerente de Packing House da empresa, Antônio Henrique, explica os processos que são adotados para atender a demanda de exportação. “A gente busca a especialização constante da nossa mão de obra por meio de treinamentos. Aqui temos processos de especificação de qualidade para que a gente tenha auditorias que garantam o cumprimento das normas de exportação brasileiras e de outros países. É um rigor muito grande na aplicação de agroquímicos, por exemplo”.
Assistência técnica
O segmento da fruticultura em Juazeiro e no Vale do São Francisco como um todo tem parceiros importantes na área de assistência técnica para que possam se manter na liderança da produção do setor no país. É nesse contexto que estão inseridos a Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adab), órgão vinculado à Seagri, e a organização social MoscaMed Brasil.
Em parceria com o Distrito de Irrigação do Perímetro de Maniçoba e demais empresários da região, a exemplo da Special Fruit, a Adab atua no trabalho para fiscalizar o monitoramento da presença de moscas-da-fruta na região. Esse monitoramento é realizado pela MoscaMed. “Cada área de produção precisa ser avaliada e certificada pela Agência. O nosso papel é fiscalizar o andamento do trabalho da MoscaMed, bem como o produtor. Por exemplo, a gente orienta que os produtores não deixem frutas maduras no chão, o que pode impactar no incremento da presença de moscas na área”, pontua o técnico da Adab, José Marques.
Já a organização social MoscaMed, instalada no Distrito Industrial de Juazeiro, área pertencente ao Governo do Estado, monitora 11 mil hectares plantados na região do Vale do São Francisco. A organização social é responsável pela emissão de certificados que permitem entrada do produto no mercado estrangeiro. “Aqui realizamos o monitoramento da mosca das frutas e também concedemos certificação. Por exemplo, o mercado americano exige esse monitoramento da mosca das frutas para exportação e nossa organização é quem faz esse trabalho já que somos a única instituição credenciada. Paralelo a isso, atuamos em outros programas de certificação, como o da União Europeia pelo fato da MoscaMed já ter essa experiência em termo de monitoramento e controle dessa praga. Os produtores optam pela terceirização desse serviço e nos procuram justamente pela confiabilidade e credibilidade da instituição. É um trabalho que agrega valor aos frutos produzidos na região”, esclarece Fabrício Almeida, engenheiro agrônomo e responsável técnico da MoscaMed Brasil.
Repórter: Jairo Gonçalves
Fotos: Elói Corrêa