Em mais um dia para não esquecer na política brasileira, Sérgio Moro renunciou ao Ministério da Justiça, o que provocou uma piora significativa nos preços de ativos brasileiros.
O movimento não é exatamente novo, no final de agosto de 2019 tivemos um episódio semelhante, com rumores que o Moro estaria de saída do governo. Naquela data os ativos também sofreram e o risco país subiu. O que levanta uma pergunta legítima, se Moro era o Ministro da Justiça, por qual razão a Economia sofre?
A agenda econômica continua muito ligada ao Ministério da Economia, o trabalho da Justiça até tem impactos bem relevantes no médio e longo prazo. Metade das empresas brasileiras sofreu algum tipo de crime econômico nos últimos dois anos, segundo a Global Economic Crime and Fraud Survey da PwC. O que exige investimento, retirando dinheiro para fins como a inovação, além de desencorajar empresas de investir no país.
O próprio Governo lançou um estudo recente, apontando que os custos econômicos da criminalidade cresceram de forma substancial entre 1996 e 2015 – de 113 bilhões de reais para 285 bilhões de reais, já descontada a inflação no período, com um aumento de 170% nos custos públicos do setor e o incremento de 135% nos custos do setor privado no período.
Ainda assim, as ações do Ministério da Justiça não são exatamente vetores da economia no curto prazo. No entanto, existe todo um simbolismo no episódio da troca de Sérgio Moro. Um Ministro com uma das mais altas popularidades entre os brasileiros em tempos recentes, inclusive maior que a do próprio presidente, fez uma renúncia que deixa um sentimento de instabilidade no governo. Moro não é somente um destaque na Justiça do país, ele é a grande figura do combate a corrupção no Brasil, e fez uma coletiva acusando o Planalto de interferência nas ações da Polícia Federal.
Sérgio Moro, diferentemente de Mandetta, utilizou o evento de sua saída para mencionar todo o processo que culminou no evento derradeiro. Mencionando pedidos de trocas em cargos de direção da Polícia Federal sem “justificativas”, na qual entende terem motivações políticas. Ele afirma que o presidente pediu que a Polícia Federal enviasse informações sobre investigações e inquéritos em andamento. Algo que vai totalmente contra o regime democrático.
Outro fato grave, foi sua declaração de estar surpreendido pela publicação no “Diário Oficial” da demissão do diretor-geral da Polícia Federal, a qual diz não ter assinado, embora o nome do então ministro apareça na publicação.
Em meio a diversas polêmicas envolvendo a forma como trata o combate ao coronavírus, as pesquisas seguem indicando que o presidente, Jair Bolsonaro, continua com seus 30% de aprovação bem resilientes. Um capital político que historicamente garante um candidato no 2º turno. Porém, destrinchando as pesquisas, vemos que antes de ser “Bolsonaro”, muitas pessoas se mostravam “Lava Jato”. Então, pela primeira vez vemos surgir um possível “adversário” do presidente, que realmente ameace sua base considerável.
As pesquisas de opinião voltam a ganhar agora a importância que tinham em 2018. Uma queda significativa, algo próximo de 1 dígito, arrancaria um importante pilar do presidente. Importante observar quantos eleitores “Lava Jato”, se sentirão incomodados pelo presidente a ponto de reverter seu apoio. Embora, seja também importante relembrar que o tempo da política é lento, deputados não se movimentariam contra o presidente sem evidências muito óbvias dessa deterioração.
A saída de Moro pode gerar um efeito dominó, criando suspeitas da permanência do Ministro da Economia, Paulo Guedes. Nesta semana já ocorreu um episódio negativo envolvendo seu nome, quando o Ministro não estava presente na divulgação do “Plano Brasil”. A saída de Guedes levantaria ainda mais preocupações em torno da aprovação de medidas que interfiram negativamente na saúde econômica do país, tanto no médio quanto no longo prazo. Com a criação de novos gastos recorrentes, a credibilidade da trajetória da dívida pública estaria em xeque.
A chance da agenda de Reformas avançar sem a presença de Guedes parece algo bem improvável, o que alarmaria muito os investidores.
Outra frente que passa a ter uma incerteza maior é a condução de política monetária no país. Se nessa semana vimos o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou que está inclinado a reduzir mais a taxa básica de juros, agora o caminho não está tão claro. Em todos os comunicados vimos o destaque da instituição em torno do avanço das Reformas. Cuja continuidade está bem menos clara.
Por fim, não temos como afastar ao menos que a ideia de impeachment esteja sendo discutida entre alguns membros do Congresso brasileiro. Algo que se aventado, retarda qualquer outro tipo de agenda, seja ela econômica ou não. A derrubada de pilares de sustentação importantes farão, ao menos, o assunto ser ventilado com maior recorrência. Vimos recentemente com o ex-presidente Temer, que apenas o fato de existir o debate da descontinuidade, interfere muito negativamente o poder do Executivo em negociações com o Legislativo.
O Brasil segue não sendo um país para amadores, se não bastasse o quadro preocupante do coronavírus no país, teremos novamente uma crise política para ser acompanhada em 2020.