Por Mateus Mozart Dórea – Filósofo pelo destino – Graduando em Direito pela Universidade Católica do Salvador
O mundo é feito de episódios que marcaram ou que ainda marcam atualmente a história, a vida da população e seus direitos. Toda essa forma de marcar comparo como um ferrete – objeto que é utilizado em brasa para marcar cruelmente os animais – como sou do interior do estado da Bahia, essa modalidade é corriqueira e lembro com veemência que no meu lazer na fazenda sempre presenciava tamanha brutalidade e ficava a me perguntar: Por quê cometem tal ato? Me explicavam que era para “marcar” e assim identificar os animais de seus respectivos donos.
No tempo em que vivemos, o ferrete é outro. Somos “marcados” com escândalos, histórias assustadoras e percas de direitos conquistados com tanta luta. Todos esses episódios são oriundos muitas vezes do poder. Poder esse que é emanado da democracia, dos que não sabem escolher os seus representantes, dos que muitas vezes se vendem por tão pouco e são alvo do ferrete que “marca” a todos. Podres poderes, uma música do poeta baiano, compositor e a meu ver, o melhor cantor da MPB: Caetano Velloso, é a forma de traduzir tudo o que atualmente vivemos em cenário nacional e internacional. O grande poeta inglês William Shakespeare também nos deixa claro a tradução real do poder: “O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder.”
Em tempos tão sombrios, de incertezas e desconfianças, Caetano Emmanuel em sua composição supracitada realça e se preocupa com os braços cruzados daqueles que aceitam tudo calado e sem fazer nada, pois entendem que, o poder é ditadura, é a censura, é a represália. O mesmo nos diz: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos/E perdem os verdes/Somos uns boçais. […] Será que nunca faremos senão confirmar/ A incompetência da América católica/ Que sempre precisará de ridículos tiranos?/ Será, será que será, que será que será/ Será que essa minha estúpida retórica/ Terá que soar, terá que se ouvir/ Por mais zil anos?”
É, nobre Caetano, a população muitas vezes não está nem aí. O carnaval que fazem de pão e circo os calam e fazem mais uma vez ficarem inertes ao fascismo, as intolerâncias e aos preconceitos. As suas perguntas são as minhas, as suas preocupações quando escreveu essa música em 1984 permanecem e soam sem respostas. “[…] Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ Índios e padres e bichas, negros e mulheres/ E adolescentes fazem o carnaval […].”
Em suma, quem nos salvará? Quem será a pessoa que saberá trabalhar a consciência junto com o poder? Precisa-se então dos reis filósofos propostos por Platão em sua obra: A República? Como exterminar o podre poder? Como diz Caetano: “[…] Será que apenas os hermetismos pascoais/ Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais/ Nos salvam, nos salvarão dessas trevas/ E nada mais? […].”