Para além dos versos cantados em hits como “enche o copo e deixa a birita bater” e “o nome dela é Jennifer”, outra frase que nada tem a ver com música, mas tem sido recorrente nos diálogos soteropolitanos, é: “Salvador tá cheia, né, véi?!”. Não é só o calorão de rachar característico do Verão que está ‘fervilhando’ em Salvador. Até fevereiro, 2,7 milhões de turistas devem chegar a Salvador – 3,7 milhões até março.
O alto fluxo de visitantes na cidade movimenta mais de 50 setores da economia, trazendo turistas para as ruas, movimentando o comércio e lotando hotéis. “Este é o verão da década”, postou o prefeito ACM Neto, no Instagram.
A estimativa de turistas até o mês que vem, feita pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), é a maior dos últimos oito anos. Para se ter uma ideia, é cerca de 20% maior do que o fluxo registrado de dezembro de 2011 a favereiro de 2012: 2,2 milhões de pessoas.
Investir e apostar no turismo da cidade, segundo Tinoco, é muito importante para a economia local. Para ele, a cidade é um centro de vocação para o turismo. “A meta do nosso planejamento estratégico é de, até 2020, superar a casa dos 3 milhões de turistas nesse período entre dezembro e fevereiro”, revela.
Segundo o titular da Secult, Cláudio Tinoco, a cidade vem se preparando há muito tempo para atingir esse pico de visitação. E a ideia é não se limitar apenas ao Verão: ele citou iniciativas como a construção do Centro de Convenções e a reforma do aeroporto como importantes para que Salvador se mantenha como um destino ao longo do ano.
No ano passado, a cidade alcançou a marca recorde de mais de 9,3 milhões de visitantes de janeiro a dezembro – cerca de 5% a mais que 2017. A marca foi maior do que em 2014, quando Salvador foi sede da Copa do Mundo.
Turistas lotam Salvador durante o Verão (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) |
Vocação
Por aqui, os turistas chegam de diversas formas. Só em voos extras, de dezembro passado a fevereiro próximo, são 1.626 voos extras para a capital, segundo a concessonária do Aeroporto Internacional de Salvador, Vinci Airports – um incremento de 3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em navios cruzeiros, serão mais de 100 mil turistas até abril, a bordo de 31 navios.
Investir e apostar no turismo da cidade, segundo Tinoco, é muito importante para a economia local. Para ele, a cidade é um centro de vocação para o turismo. “A meta do nosso planejamento estratégico é de, até 2020, superar a casa dos 3 milhões de turistas nesse período entre dezembro e fevereiro”, revela.
Para entender os impactos dessa quantidade de turistas na cidade, o CORREIO esteve no Pelourinho para conversar com turistas, comerciantes e transeuntes da região. Logo na chegada, o garçom Felipe Lanza, 26 anos, há nove no ramo, contou que este, de longe, é o Verão em que ele mais faturou em comissões. Em 2017, ele tirava valores que giram entre R$ 150 e R$ 180 por noite. Agora, o valor dobrou e ele já chegou a faturar R$ 320 em uma só noite.
“O movimento está muito grande. Principalmente porque tem muito navio chegando na cidade e aí sobe muito turista. A noite também está bombada. Rapidamente assim acho que o movimento aumentou uns 40%”, apontou Felipe.
O garçom também apontou que, neste ano de 2019, Salvador praticamente não terá baixa estação. Isso porque passado o período de festas, começaram as movimentações em torno das festas de rua como a Lavagem do Bonfim, Iemanjá e Carnaval.
Um novo fluxo de turistas também deve atracar em Salvador durante a Copa América, que acontecerá entre os meses de junho e julho deste ano. Na ocasião, Salvador vai receber cinco partidas incluindo uma da seleção brasileira. Cláudio Tinoco destacou, ainda, a previsão de atividades durante as comemorações dos 470 anos da cidade que deverá ocorrer em março.
Ailton chega a faturar R$ 450 por dia (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) |
Outro que sentiu a influência da movimentação turística foi o vendedor ambulante Ailton Jonas de Almeida, que percorre as ruas do pelourinho vendendo colares, fitinhas do Senhor do Bonfim, pulseiras de conchinhas e apetrechos do tipo desde os 17 anos. Hoje, já no alto dos seus 39 anos, ele avalia que as vendas estão muito mais positivas do que o normal: neste verão ele chega a faturar R$ 450 por dia, valor bem mais alto do que o registrado no último verão, quando ele conta que chegou a vender, no máximo, R$ 300 por dia.
Sem um lucro tão pomposo, mas também significativo, a vendedora Edilene de Jesus, 37, aumentou suas vendas que eram de R$ 150 por dia para valores que giram entre R$ 250 e R$ 300. Em ambos os casos, a jornada de trabalho dura de 10h a 12h subindo e descendo pelas ruas do Centro Histórico.
“É o nosso trabalho e essa é a nossa época de ganhar dinheiro. Então tem que ter disposição para bater perna mesmo”, avalia a vendedora.
Edilene tem vendido mais nesse Verão e comemora presença dos turistas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) |
Sua Salvador
Bom para os vendedores, bom para os turistas. O que traz tanta gente para a cidade? Ontem, a Secretaria de Turismo da Bahia (Setur) começou uma pesquisa para elaborar o perfil do turista que visita Salvador no Verão.
Cada um tem sua razão. Para as professoras Mary Lafuente e Débora Oliveira Velho, duas catarinenses de 47 anos, a vinda até a capital baiana significou a realização de um sonho de infância. As duas amigas contam que sempre escutaram sobre a tradição e história da capital baiana e só conseguiram pisar em terras baianas neste ano.
Por outro lado, também existem turistas como a aposentada Elane Rodrigues, 70, e sua filha Jeniffer Fuly, professora de 27 anos. Elas vieram do Rio de Janeiro em busca de alegria – além de um pouquinho mais de brisa, já que dona Elane afirmou enfaticamente que o ventinho de Salvador é muito mais generoso do que o carioca.
“Chegamos ontem e vamos ficar até sábado. Hoje é nosso primeiro dia aqui mas eu já estou encantada. Ainda queremos passear pelas praias e procurar alguma festa durante a noite”, contou Jeniffer, enquanto se divertia fazendo batuque na ladeira do Pelourinho.
Apesar do resultado empolgante, o secretário Cláudio Tinoco chama atenção para a necessidade de ações de infraestrutura, promoção e melhoria na qualidade dos serviços prestados pelos trabalhadores soteropolitanos.
Para ele, dois componentes serão essenciais para que Salvador “não se perca” durante os próximos anos, todos eles vinculados ao Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo Salvador (Prodetur).
O primeiro deles é um programa de certificação e capacitação profissional e empresarial que será oferecido a vendedores, atendentes e profissionais que lidam com os serviços na cidade. O secretário explica que essa é uma iniciativa para fidelizar os turistas que estão na cidade pela primeira vez, incentivando que retornem em outras oportunidades.
O segundo componente é a elaboração de um plano de marketing específico para a cidade, voltado para promoção em outros municípios do Brasil e também do exterior. De acordo com ele, o objetivo de agora é, além de fidelizar quem já tem uma boa relação com a cidade – como Argentina, Uruguai e pólos europeus como Espanha, Portugal, França, Itália, Alemanha e França – é expandir para novos mercados como o Reino Unido, liderados pela Inglaterra, e países do mundo árabe como Marrocos.
*Correio
Foto do farol da barra: Mauro Tours