A apresentadora, lifecoach, educadora sexual e hipnoterapeuta Aline Castelo Branco é bastante conhecida entre os baianos. Com passagens em vários veículos de comunicação da Bahia e de São Paulo, em alguns deles como repórter de TV, Aline hoje vive em Portugal, onde comanda, na TVQ, o programa “Pela Fechadura”. Trata-se de um talk-show que recebe sempre celebridades e especialistas para debater assuntos como sexualidade e violência contra a mulher, por exemplo.
Mas a trajetória da comunicadora até chegar às terras portuguesas não foi fácil. Com dois anos recém-completados em Portugal no último dia 13, Aline Castelo, como ficou conhecida lá, concedeu uma entrevista ao BNews para falar sobre a carreira e sobre as dificuldades que enfrentou ao buscar seu objetivo, que era a apresentação de um programa sobre educação sexual em um país diferente do seu.
A comunicadora fez questão de lembrar que tudo começou quando deixou Salvador e partiu para São Paulo, onde acabou sendo entrevistada por Jô Soares, o que mudou sua vida: “saí de Salvador em 2012, fui pra São Paulo para fazer um mestrado em educação sexual na Unesp e pra trabalhar, na época, na TV Cultura. No mestrado, eu precisei fazer uma pesquisa acadêmica para a produção de um artigo que seria apresentado em um congresso, e meu professor me pediu pra eu analisar o comportamento sexual dos homens. Eu comecei a fazer essa análise voltada para a parte do sexo oral, e aí eu tive a amostragem de 100 homens que eu entrevistei. Essa pesquisa surtiu efeito na região de São Paulo porque apontou que 43% dos homens não sabiam fazer sexo oral na mulher. Surgiram várias repercussões, comecei a dar entrevistas e a aparecer na mídia. Paralelo a isso, surgiu o convite para o trabalhar na Record São Paulo”.
Foi então que surgiu o convite da produção do programa que Jô comandava na Rede Globo, porém o fato de a esta altura estar trabalhando na Record, a principal concorrente da emissora da família Marinho, fez com que Aline tivesse que tomar uma decisão drástica: pedir demissão. “Me ligaram da produção do programa de Jô Soares para que eu desse entrevista sobre o meu projeto de pesquisa na Unesp, isso em 2015. Aí, eu tive que pedir demissão da Record porque ela não aceitava que o programa era na Globo, sua concorrente. Pedi demissão, fui dar entrevista a Jô Soares. Depois dessa participação, minha vida mudou completamente. Eu tive mesmo que deixar um pouco a carreira de jornalista de lado para investir na carreira de educadora sexual”.
Após a participação, Aline começou a dar palestras pelo Brasil, causou muito burburinho na capital baiana com seus cursos de sexo oral para mulheres e homens e teve bastante destaque na área que escolheu para unir com suas aptidões de comunicadora. Porém, antes dessa reviravolta, Aline e seu marido já tinham planejado morar fora, só não sabiam se nos Estados Unidos ou Portugal. “Portugal foi mais fácil por causa do trâmite de visto, que saiu em 2016, foi quando a gente se mudou para cá. Eu vim com essa bagagem de trabalhar a sexualidade. Saiu até aqui em uma revista que eu sou ‘a brasileira que veio organizar a vida sexual dos portugueses”, contou aos risos.
Mas a comunicadora e palestrante estava indo para Portugal com um objetivo bem definido. Ela queria apresentar um programa de TV cuja temática principal fosse a educação sexual, apesar de os portugueses serem bastante conservadores. Mandou mais de 150 e-mails para as principais redações e teve que executar uma estratégia para alcançá-lo: “aproveitei a pesquisa que tinha feito no Brasil. Liguei pro meu coordenador e perguntei se eu podia fazer uma pesquisa sobre comportamento sexual dos portugueses. Ele falou que sim, que a Unesp validaria, pois temos um grupo de pesquisa. Isso foi logo quando eu cheguei, uns quatro meses depois. Entrevistei 1500 homens e mulheres, que responderam a um questionário online, e aí surgiu a maior pesquisa sobre o comportamento sexual dos portugueses”.
Foi então que a baiana, nascida e criada no bairro de Praia Grande, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, passou a chamar atenção e a receber convites para participações em TVs, jornais e rádios: “A CMTV, depois de seis meses do e-mail que eu enviei, me chamou. Eu fui lá, apresentei o projeto que eu queria, de fazer o programa na televisão. Ela disse que não daria, justificando que o português é muito conservador, mas disseram que eu poderia fazer um quadro, uma espécie de consultório sentimental. A partir daí, vieram outros convites, como o para fazer uma temporada do Love On Top, que é o maior reality da Europa sobre relacionamentos. Eu fui como especialista convidada para orientar os participantes. Depois disso, o Canal Q me chamou. Me disseram que eu tinha perfil para um programa. Quando eu cheguei lá, imediatamente eu apresentei o meu programa, que no Brasil eu tentei na GNT, no Multishow, na Record, na TV Cultura, mas ninguém quis implantar esse projeto”.
Quando chegou ao Canal Q, Aline já tinha um piloto gravado. A emissora gostou, mas pediu algumas adaptações por conta de aspectos culturais que são bem diferentes em Portugal: “aí surgiu o ‘Pela Fechadura’. Foram seis meses de conversas, reuniões, estrutura, assinatura de contrato, montagem de cenário. Começamos a estruturar em 2017 e esse ano foi que aconteceram as gravações, que acabaram em agosto. Ele funciona por temporada. A segunda temporada só vai acontecer ano que vem, então vamos começar as gravações para a temporada de 2019”. O “Pela Fechadura” é um programa de talk-show, no qual a comunicadora entrevista celebridades portuguesas, além de psicólogos, terapeutas, especialistas de outras áreas, representantes de ONGs que trabalham com essas questões de violência, entre outros. “É um programa temático e, a cada tema, temos um convidado e um especialista pra falar sobre homossexualidade, violência contra a mulher e outros temas”, disse.
Questionada sobre o que a levou a ter esse destaque em um país tão diferente do seu, Aline Castelo Branco explicou: “uma das coisas que me ajudaram a ter esse destaque aqui é que a sexualidade não é trabalhada. Agora que tem um doutoramento em sexualidade humana, mas tem poucos profissionais trabalhando nessa área. Os números na internet me ajudam muito porque meu canal no Youtube está chegando a um milhão de inscritos. Meus números no Instagram ajudaram, meu engajamento. Eles viram que saíam muitas notícias minhas no Brasil, então tudo isso colaborou para que eu conquistasse esse espaço aqui”.
E com o destaque, a baiana deixou de fazer palestras de graça para cobrar, inclusive alcançando cachês consideráveis: “eu comecei aqui fazendo palestras gratuitas pra ganhar mais visibilidade, e hoje meu cachê aumentou consideravelmente. E além das palestras, eu investi muito em cursos pra entender o mercado português. Para eu conseguir chegar onde eu cheguei, eu tive que estudar muito pra me aproximar do público, pra ficar mais conhecida aqui e ter um retorno financeiro dos investimentos que eu fiz”.
Atualmente, Aline comanda um programa de TV, faz palestras e atende com hipnose terapêutica. Com isso tudo, além de se realizar, a educadora sexual quer ajudar outras pessoas que pensam em tocar a vida em outro país: “quero servir de inspiração e motivação para outras pessoas que querem morar fora, mostrar que é possível conquistar seus sonhos. Eu sempre quis ter um programa sobre sexualidade no Brasil e nunca consegui. Eu tive que sair do meu país para realizar isso em Portugal. Meus chefes no Brasil achavam que isso não ia render, e aqui rendeu. Agora, quem quer migrar tem que ter um planejamento, pesquisar o mercado. É difícil e cada um vai ter que trilhar seu caminho pra chega onde quer. Eu tiver que correr atrás, provar que sou boa, que tenho competência, que tenho estudo, e hoje eles me aceitam de braços abertos”, concluiu.
E, se Aline diz que foi aceita pelo público português, os números e os convites confirmam isso. Depoimentos de amigos, como o jornalista Jorge Souza da Silveira, também confirmam que a baiana está trilhando o rumo certo em Portugal: “conheci Aline Castelo Branco nos primeiros meses. Logo vi seu vasto conhecimento sobre sexualidade e sua capacidade de comunicação, enorme dinamismo e vontade de contribuir pra uma sociedade portuguesa mais informada e sensibilizada. Isso foi reconhecido nas atividades desenvolvidas em Lisboa e depois por todo o país. Primeiro vieram convites para colaborar com publicações nacionais, depois em programas de TV e rádios. Seus workshops, conferências e palestras passaram a gerar mais interesse, o que a levou rapidamente à condução de seu próprio programa na TV sobre educação sexual”.