Imagine um lugar com muita área verde preservada, repleto de árvores, cachoeiras, cascatas e até mesmo um rio, o único com vida em toda a Salvador. Toda essa biodiversidade, que poderia ser a descrição de um espaço totalmente distante da imensa agitação urbana da capital baiana é, na verdade, característica do Parque São Bartolomeu, situado no Subúrbio, região com uma das maiores populações da cidade. O Metro1 esteve presente ontem (16) em uma trilha ecológica feita na localidade.
Considerado uma das maiores reservas de Mata Atlântica em área urbana do Brasil, com 75 hectares, e instituído como parque em 1978 por meio de um decreto municipal, o local abrange os bairros de Pirajá, Ilha Amarela, Rio Sena e as localidades do Boiadeiro e Beira-Mangue, em São João do Cabrito. Entretanto, é apenas um pedaço de um vasto território: a Área de Proteção Ambiental Bacia do Cobre – São Bartolomeu, estabelecida em 2001 pelo governo estadual, a fim de preservar o entorno de degradações ambientais.
Estigmatizado ao longo dos anos como um cenário de violência urbana, o parque vem, ultimamente, tendo sua imagem transformada perante o público. Após ser revitalizado em 2014 pela Companhia de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Conder), o espaço passou a chamar maior atenção de soteropolitanos, que passaram a visitá-lo com maior frequência.
Preservação – O aumento da movimentação fez com que grupos de moradores do entorno, juntamente com o Conselho Gestor da APA, em parceria com a administração, se engajassem na preservação do ambiente através das chamadas trilhas ecológicas, realizadas a cada dois meses, sempre aos domingos, responsáveis por levar o público a conhecer cada detalhe, do início ao fim.
Ontem foi a vez de mais uma, a última do ano de 2018. Cerca de 1.200 pessoas estiveram presentes, de acordo com estimativa feita pela equipe organizadora da trilha, que envolve o Centro de Referência do Parque e os conselheiros da APA, conhecidos como os “guardiões do parque”.
Débora Porciúncula, professora universitária e uma das guardiãs, avalia que a preservação não se restringe unicamente ao propósito de visitação. “A importância ecológica vale também para as pessoas que vivem no entorno, por meio do extrativismo. Muitos vivem da colheita de frutas, vegetais e folhas que estão no local”, pondera, acrescentando que a área já foi identificada pela Unesco como local piloto do programa “O Homem e A Biosfera” (em inglês, Man and the Biosphere Programme), mas que o reconhecimento pela entidade ainda não ocorreu na prática.
Trajeto – A trilha começa no Centro de Referência, na entrada do Parque pela Avenida Afrânio Peixoto, a Suburbana, na região do Boiadeiro. Os momentos que antecedem a partida são marcados pelas orientações, que recomendam, durante todo o trajeto, a companhia dos guardiãos, mais do que experientes, para que os novatos não se percam em meio à mata.
Não é o caso do Técnico em Eletromecânica, Cícero Guerreiro. Nascido e criado em Pirajá, um dos bairros abrangidos pela reserva, o Parque fez parte da sua infância. Atualmente com 38 anos e morando na Liberdade, ele avalia que, à época, o local era mais seguro. “Hoje, o melhor é vir em grupo. Mesmo assim, é importante ter esse contato com a natureza. É importante que o pessoal preserve não jogando lixo no chão, por exemplo”, diz.
Historicamente, a reserva sempre foi considerada sagrada para religiões de matriz africana, como o candomblé, para prática de cultos e celebrações. Por conta disso, os principais pontos do parque foram batizados com nomes de orixás. O primeiro é notado logo após a partida: a Praça de Oxum. Logo após, a primeira das cinco cachoeiras, com o mesmo nome, infelizmente poluída pelo esgoto. Mas, logo à frente, um alento: a cachoeira de Oxumaré, própria para banho, com águas cristalinas.
Seguindo em frente, ao subir a Escada dos Escravos – cujo nome faz referência aos que a construíram no passado – que dá acesso ao bairro de Pirajá, é possível avistar a cascata de Nanã, também imprópria para banho. Após a chegada no Centro de Cultura e Cidadania Pirajá, virando à esquerda e com mais 10 minutos de caminhada, vem a cachoeira da Escorredeira que, mesmo sem nome de orixás, tem condições de banho.
No trecho da Escorredeira, que ainda abriga ruínas de um engenho de açúcar, o empresário João Mota, mesmo visitando o espaço já pela terceira vez, se impressiona com o que encontra. “Recomendo muito. É um programa totalmente diferente do que já havia feito antes de vir para cá”, opina ele, que veio com a família.
Dando a volta e continuando o caminho, a trilha termina na Barragem do Cobre, local que, no passado, abrigava uma estação de tratamento da Embasa, responsável por distribuir água para os bairros do subúrbio. Embora desativada há mais de 10 anos, a estrutura ainda proporciona uma das cenas mais bonitas do passeio: a queda d’água do Rio do Cobre, dividida em sete partes, trecho em que os mais corajosos arriscam uma descida de rapel. No final, a visão do rio, que se estende até a Lagoa da Paixão, entre Fazenda Coutos e Nova Brasília de Valéria, coroa a aventura.
Quebrando preconceitos – Embora cada vez mais conhecido não apenas pelos moradores dos bairros vizinhos, mas também por pessoas de fora, muitos têm dúvidas sobre como visitar o Parque São Bartolomeu. Entretanto, conhecê-lo não é uma tarefa difícil, de acordo com o coordenador cultural, Vandson Teixeira.
Durante o dia, o parque está sempre aberto. Caso haja dúvidas, basta apenas entrar contato com a administração por telefone. Além disso, a visita é totalmente gratuita, sem nenhuma cobrança de taxa. Ainda segundo ele, trilhas pontuais, limitadas a um menor número de pessoas podem ser organizadas por outras instituições.
“Vale a pena vir conhecer. Dá uma boa visibilidade, quebra aquele preconceito com a região do subúrbio, retira a visão unicamente negativa que alguns veículos de comunicação têm sobre o local. Desde que começamos as trilhas, não houve nenhum caso de violência, seja de assalto ou de morte”, garante Vandson. A data da próxima trilha deve ser anunciada em breve nas redes sociais do Parque.
PARQUE SÃO BARTOLOMEU
COMO CHEGAR: Entrada 1, Rua São Bartolomeu, s/n – São João do Cabrito, Salvador-BA. Entrada 2, Rua 24 de Agosto, s/n – Pirajá, Salvador-BA, através do Centro de Cultura e Cidadania Pirajá.
TELEFONE PARA TIRAR DÚVIDAS E MARCAR TRILHAS: (71) 3401-0245
FONTES: METRO1